"Era uma vez, um reino muito distante, onde jovens súditos e anciãos sábios viviam em paz. Neste reino não havia preconceito, havia somente paz e amor incessante, todos tinham amor próprio, mas zelavam mais ainda ao amor ao próximo, por isso conviviam se brancos, negros, amarelos (e outras mais etnias), heterossexuais, homossexuais, bissexuais (e outras mais situações sexuais), não havia machismo ou feminismos, todos eram iguais diante da sociedade e da lei. A democracia reinava sobre eles, o reino era imenso divido por pequenos reinos e...."
- GABRRIEL!!! -Grita uma voz lá no fundo de meus pensamentos de escritor. Reconheço está voz de longe, minha mãe, estava a me chamar.
- Senhora! - Respondi.
- O que a vossa senhoria está fazendo? Não te pedi para buscar pão? Não se esqueça que hoje é domingo e a padaria fecha "cedissimo".
- Estava me arrumando, não esqueci do que me pediste. Quantos reais de pão?
- Cinco reais. Num total de mais ou menos 7 pães. Não sei para que se arrumar tanto, só para ir numa simples padaria! Não se esqueça que hoje tem culto mocinho.
- Não me esqueci não. (Me arrumo mesmo, ninguém sabe quando vai se encontrar alguém no meio do caminho! - Ri por dentro). Precisa de mais alguma coisa?
- Nothing, okay?
- Okay.
E este sou eu, um menino com 17 anos, que ama livros (principalmente contos), vive no mundo da lua, romântico, que gosta de igualdade e é um bissexual que não se assumiu para uma família completamente escrava de um preconceito religioso e fora de ética. Meus pais são controladores, minha mãe, Jéssica, é uma professora de língua portuguesa e estrangeira (inglês), meu pai, Saulo, é o coordenador do departamento de pessoal de uma empresa, ambos têm 41 anos e tiveram um casal de filhos, eu e minha irmã de 6 anos, Rebeca, todos somos cristões protestantes, e antes que me chame de hipócrita, sim acredito em Deus, no Deus dos Hebreus assim como qualquer outro cristão, mas tenho pensamento diferente sobre a bíblia, pois ela foi escrita por homens de uma outra época, com pensamentos machistas e preconceituosos em relação a muitas coisas, mas prefiro não entrar em discussão sobre isso.
Tenho muitos colegas, mas não tenho muitos amigos, e somente um, ou melhor dizendo uma dentre todos eles, sabe quem sou, minha melhor amiga Alexia, tento disfarça na frente de todos, e até que é fácil para mim (isso que dá gostar de garotos e garotas), mas mesmo assim é meio que evidente, já que sou perfeccionista, odeio coisas nojentas que a maioria dos meninos gostam (cuspir no chão, "coçar o saco", entre outros), e normalmente só tenho amigas meninas (a única exceção de meu amigo Marcos, da igreja), mas enfim, digo que é difícil fazer isto, principalmente pelo fato de que quando se está na adolescência ou na juventude seus hormônios (BENDITOS HORMÔNIOS!), estão a flor da pele.
Ali estava eu, em pleno domingo, indo buscar pão as 16 horas da tarde. O único bom de ir ali na padaria era admirar os dois filhos do padeiro, uma menina e um menino de 22 anos gêmeos, claro muitos lindos. Ele era quem pegava os pães e ela o caixa, os dois são a tentação em pessoas.
- Ei, Biel! – Grita uma voz lá no fundo, estava tão distraído que não percebi a menina parda, de corpo exuberante e com cabelos castanhos escuros com mechas lilás, minha amiga Alexia estava me chamando.
- Lexia, o que fazes aqui "girl"!
- O mesmo que você!
-Será mesmo? – Eu disse rindo baixinho para ninguém escutar.
Alexia era mais que uma amiga, era uma irmã, a irmã "negra" da família (subjetivamente, claro) pois como seus pais não tinha uma religião específica, ela não era "certinha" e aprontava de tudo um pouco e meus pais não a via com bons olhos. É a única amizade a qual meus pais não aprovam, por conta de tudo que ela já havia aprontado na vizinhança. Lembro-me de quando nos conhecemos, a muito tempo, tínhamos somente sete anos, estávamos no fundamental. Ela chegara de mansinho e conseguiu me cativar pela sua maneira de ser tão inteligente quanto arteira. E eu, coitado de mim, sempre fui calado, inteligente talvez, mas calado.
- E o Jimmy, hein? – Disse ela baixinho para mim.
- Esse futuro padeiro me inspira. – Respondo baixinho a ela e logo em seguida Jimmy me entrega os pães, aqueles braços fortes brancos, o corpo envolto de um avental branco encardido de tanto trabalhar. – Obrigado Jimmy! – (Seu gostoso! – Penso.)
- Jimmy, 5 pães de leite por favor! – Diz Alexia.- Me espera Biel!
- Estarei esperando, só vou passar no caixa.
- Cincos reais mocinho! – Disse Selena.
- Claro minha flor, Obrigado! – Respondi a Selena, tão linda quanto seu nome, tão gata quanto seu irmão.
- Obrigado você Gabriel, tenha uma ótima tarde e um bom resto de domingo.
Alexia se tornou minha vizinha recentemente, os Pereiras (nossos antigos vizinhos) se mudaram e os pais dela compraram a casa. Então fomos juntos da padaria até a porta dela.
- Quer ir hoje na igreja? – Disse-lhe, na esperança dela aceitar o convite.
- De jeito maneira, estarei ocupada.
- O Marcos vai estar lá, vai sentar do meu lado. – Chantageie-a, sabia que ela tinha uma queda pelo meu amigo Marcos.
- Quando eu quiser ver o Marcos, vou na casa dele, já disse estarei ocupada hoje. – Franziu a testa como sempre fazia quando eu insistia em algo que não queria discutir, pois sabia que eu estava certo.
- Ocupada com que?
- Sabe como meus pais são com limpeza né? Eles inventaram de limpar casa o dia inteiro e mandaram eu arrumar meu quarto, tenho o prazo até as 22 horas.
- Você? Arrumar seu quarto? Nem eu consegui te animar fazer isso, aposto que você irá enrolar e não fará nada!
- O pior é que vou fazer isso mesmo – riu – mas enquanto eu não tentar não saio de casa.
- Eu entendo, tenho que ir, consigo ver minha mãe nos olhando pela janela. – Olho disfarçadamente para janela e lá está ela, me olhando torto, sempre controladora!
-Devo acenar? – Riu- Sua mãe é um barato.
- Mas é claro, você quer ela para você?
- Não, estou bem, obrigada! – Riu sem para, quase morrendo de tantas gargalhadas, e entrou em casa.
E lá vamos nós, entrar em casa, tomar banho, se arrumar, ir para igreja. Eu amo a Deus, mas isso já se tornou uma obrigação e eu odeio obrigações, gosto de fazer as coisas do meu jeito, na minha hora. Sabe estava pensando, estamos no começo do ano de 2017, o ano de 2016 foi um ano como qualquer outro da minha vida, porém pressinto que este ano promete reviravoltas, chegadas, despedidas, amizades, falsidades e muita, muita confusão. Não tenho certeza do que está reservado para mim e muito menos sei se essa sensação é certa, a única coisa que sei é que estou confiante.
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Gabriel, entre dois mundos
RomanceGabriel: "Esqueça a fantasia e o otimismo, isto não é um romance normal, isto é a minha vida, isto é a vida real. A única coisa que eu espero é que tudo isso se resolva, este conflito, esta bagunça, isto tudo me atordoa. Do que adianta ser quem sou...