Capítulo 19

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"Nada mais somos do que pedras do xadrez, colocadas por Deus no tabuleiro da vida, que nos põe para frente e para traz e quando bem entende nos reduz ao nada"

Desconhecido


Estou na cama, deitada, pensando. Faz 2 dias de o Jefferson morreu e isso ainda não sai da minha cabeça. Porquê? Essa é minha pergunta. Eu não devia me importar muito, afinal nos vimos apenas uma vez. Mais acho que isso se tornou um gatilho para mim, de memórias que eu não gosto de me lembrar. Quando eu recebi aquela notícia... Foi exatamente do mesmo jeito. Tinha saído com as amigas, acabei bebendo um pouco, e recebi à ligação.

Escuto um leve toque na minha porta, vou ate ela e a abro. Encontro um Brian totalmente apreensivo. A Amelia contou para ele o que aconteceu, e ele falou que eu não precisava ir para o trabalho. Mas eu fui de qualquer jeito. Não posso ficar em casa pensando nas coisas assim. Preciso de uma distração. E ir trabalhar é melhor do que ficar em casa. Afinal eu estou ganhando dinheiro.

—Entra.— falo, só que meu espírito não quer ninguém perto de mim agora. Minha vontade é simplesmente ficar na minha cama um bom tempo. Ele entra olhando em volta, tenho um pôster do Maroon 5 na minha sala ao lado da réplica que minha mãe tinha mandado fazer de Dante e Virgílio no inferno, o original desenhado pelo talentoso Ferdinand Victor Eugène Delacroix. Esse quadro é um pouco perturbador, com dante e Virgílio em um barco com almas em volta.

— Divina comédia? Não sabia que você era fã de um clássico.

—Fã exatamente eu não sou, gosto da história, mas isso era da minha mãe.

— Faz sentido, já estava pensando em que tipo de mente perversa você tem em colocar um poster do Maroon 5 ao lado de um Delacroix.

— Isso é crime?

—Definitivamente não é crime. Só bastante incomum.

— O que você veio fazer aqui Brian?

— Vim ver como você está. Você estava meio aérea no trabalho hoje. Eu não queria te perguntar e parecer indiscreto no meio de todos, e se provavelmente eu te chamasse no meu escritório para conversar, você acharia que eu estou facilitando as coisas pra você. Por isso tentei te respeitar te mantendo ocupada, fiz mal?

—Não Brian. Não fez, olha, um cara que eu saí morreu. Pronto. Eu não conhecia ele direito, a gente saiu uma vez. Conversávamos todo o dia, e eu vou sentir falta disso. Mas não vou parar minha vida por isso.— Tento bancar a indiferente. A morte do Jefferson foi inesperada, mas o que me tirou o chão foi em como eu recebi a mensagem. E com certeza não vou falar isso pro Brian.

—Entendo, não vim aqui te aborrecer. Vim ver como você está.

— Eu não estou 100% bem, mas estou bem. Vocês não precisam se preocupar comigo.

— Tudo bem, então te esperamos para o trabalho amanhã?

—Você pode ter certeza disso.

— Até amanhã então.

E ele saí da mesma velocidade que ele entrou na minha casa, cauteloso, olhando para trás 2 vezes antes de entrar para o carro. Eu entendo essa preocupação de todo mundo comigo, mas eu estou bem, ou pelo menos, vou ficar...

★★★★★★‡★★★★★★

Chego ao laboratório, e meu celular vibra no meu bolso. A Amélia que checar como estou... De novo! Desde que o Jefferson morreu ela me liga umas 20 vezes ao dia. E se eu ignorar, ela fica cada vez mas insistente, dessa vez decido logo desligar o celular.

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