Stand Up

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- Senhor Styles, levante-se.

Harry recusou-se a abrir os olhos por uns segundos, preso ao estupor matinal que a noite de sono no navio lhe oferecia. Ainda cansado, seu único desejo naquele momento era poder dormir mais, com tranquilidade, sem ouvir os baques surdos dos passos de seus marujos no convés acima. Não era um copo de uísque ou mulheres. Era apenas ter uma noite pacífica de descanso.

Vagarosamente ele abriu seus olhos. Oliver ainda continuava parado de pé um pouco mais a frente da rede em que Harry passava suas noites. O ambiente era assim: mais escuro e logo abaixo do convés, com pilastras de madeira cor de mogno cheias de ganchos, onde se penduravam redes. As redes eram os lugares em que os marinheiros dormiam. Mais baratas que camas e mais confortáveis que sacos de feno, os marinheiros adotaram rapidamente a peça de tecido reforçado para descansarem.

- Senhor Styles, apenas vim acordar o senhor. Estamos à apenas duas horas de chegar ao litoral da Irlanda, senhor. Os homens já serviram-se de seu desjejum e planejam nesse exato momento o que fazer ao chegar em terra firme.

- Vamos todos descarregar as mercadorias do navio, senhor Smith - respondeu com mau-humor Harry, que havia acabado de acordar. - Depois, veremos alguma forma de nos entretermos. Já estou subindo.

Oliver concordou quietamente, e sem dizer mais nada, acenou a cabeça e virou-lhe as costas, contornando as redes e se dirigindo ao outro extremo da grande sala, em direção às escadas.

Harry suspirou. Em geral, amava seu trabalho. Cresceu entre as ondas do oceano e na rígida disciplina na vida dentro de um navio. Por ser um marujo exemplar, lentamente foi sendo reconhecido pelo capitão do navio, Liam James Payne, o que agora resultava em ser o segundo homem em comando do navio, e tão respeitado quanto Payne.

Finalmente, Harry deu um impulso na rede, fazendo-a balançar, e se levantou. Rapidamente pôs as suas roupas, pois mais um dia de trabalho estava pela frente. Geralmente, o dia em que chegavam na Irlanda era o mais trabalhoso e cansativo, pois significava carregar centenas de caixas para fora do navio, onde os produtos seriam posteriormente comercializados.

Subindo as escadas, já ouviu seus homens conferindo as mercadorias para agilizar o processo de desembarque da mesma. Ao chegar perto do mastro principal, onde a mesa de desjejum era posta todas as manhãs temporariamente, ele apanhou um pãozinho doce e um cantil de água, e apoiou seu corpo no próprio navio. Por ser um "segundo capitão", seus homens o presenteavam com seus modos logo de manhã.

- Bom dia, senhor.

- Tenha um bom dia, senhor Styles.

- Olá, capitão. Como vai?

- Bom ver você, senhor. Um bom dia para o senhor.

Ele sorria e acenava. Podia até reclamar, mas amava o seu trabalho. Amava nesse exato momento a brisa marítima que soprava pelos seus longos cabelos e pelas velas estendidas nos mastros. Amava o vínculo e a sintonia de todos ao trabalhar em alto-mar. Amava ser respeitado, ser reconhecido.

Logo terminou de comer, e tratou de supervisionar os seus colegas. Como Liam passava a maior parte do seu dia trancafiado na sua sala abaixo do leme, cuidando da parte burocrática do negócio, era ele quem supervisionava a parte de fora, o funcionamento do navio, as funções de seus marujos e seu cumprimento. Ele não se considerava um comandante ruim: procurava ser justo com cada um dos seus homens, mas todos tinham que trabalhar.

Felizmente, eles já tinham experiência e já trabalhavam no Seapearl, o navio, há anos e anos. Se conheciam e cumpriam sempre as mesmas funções, fazendo com que realizassem perfeitamente seu trabalho.

E foi assim que passou grande parte da sua manhã: supervisionava o leme, consultava a bússola e o binóculo, ajudava no balanço das mercadorias, reparava danos e consertava estragos no navio, auxiliava Liam quando era preciso. e foi neste embalo que ele não viu que se aproximavam do porto da cidade irlandesa que costumavam ancorar o navio.

- Irlanda à vista, rapazes! - anunciou o marujo Jones com o seu binóculo, em cima do cesto da gávea, local de observação.

Harry subiu as escadas para a parte mais alta do navio, onde ficava o leme. Chamou a atenção dos rapazes ao gritar por atenção, emudecendo o navio. Harry lançou um pequeno sorriso e iniciou.

- E é de novo que nos encontramos em mais uma expedição, rapazes. Vamos trabalhar o melhor que pudermos hoje, e terão autorização de após o desembarque das caixas, aproveitarem o máximo o que o dia lhes tem a oferecer. Logo voltaremos às nossas famílias, voltarão às suas mulheres, mas agora, há trabalho para fazer. Mais tarde, vamos comemorar mais um sucesso, e assim brindar com um grande barril de uísque!

A tripulação explodiu de alegria. Não há nada que motivasse mais os marujos que a bebedeira depois de um dia de trabalho.

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Com o incentivo de Harry, rapidamente as caixas de tecidos foram descarregadas para o cais, onde comerciantes compravam seus materiais para revender em suas terras. Mal terminaram o trabalho e os marinheiros desataram a correr para a liberdade. Rindo e comemorando, se dirigiam à bares tradicionais, outros à bordéis, mas Harry continuava no píer, recatado.

Sempre que vinha da ou ia à Irlanda, se sentia abatido. Parecia que algo lhe faltava. Gostava de beber com seus homens e dançar ao som de música irlandesa, gostava de sentir os corpos nus das mulheres em camas baratas de bordéis, mas tinha a impressão de que algo faltava. Talvez era a família, mas nunca se incomodou tanto com isso, pois nunca a havia conhecido. Talvez era o dinheiro, mas logo afastou esse pensamento da cabeça; ganhava uma boa parte dos lucros das mercadorias e não gastava muito, tendo grande quantia guardada em um pote de vidro enterrado nas areias da praia de sua cidade natal, Southport. Talvez seja uma companheira, mas também nunca se importou, pois poderia ter quantas mulheres quisesse.

Entenda, Harry Edward Styles era um homem muitíssimo desejado. Ele tinha uma pele clara, um pouco bronzeada por ser castigada pelo sol ao alto-mar. Tinha olhos verdes penetrantes, uma boca bem desenhada e uma expressão séria. Quando sorria, dois buraquinhos nas suas bochechas eram revelados, o que já fascinou muitas mulheres e alguns homens. Tinha um corpo modelado graças ao esforço físico com que lidou a vida toda, e sua altura o tornava um homem grande e bonito. Tinha costas largas, mãos grandes e seus cabelos de cachos caíam pelos seus ombros. Por ser mais calado, tinha um ar de mistério que envolviam muitas de suas vítimas.

Começou a andar pela praia, pensando no dia de amanhã. Lidaria com seus marujos domados pelo mau-humor ocasionado pela ressaca. Lidaria com a ansiedade de alguns por voltar rápido para suas famílias e filhos. Lidaria com a exaustão e malandragem de outros após um dia de trabalho pesado e uma noite de diversão. Mas ele continuaria sendo um bom comandante, e ajudaria a todos. Uma das coisas que um dia prometeu a si mesmo era que sempre, sempre, levaria seus homens de volta à seus lares.

Cansado e perturbado com seus pensamentos, mal percebeu que o dia já virava noite e o sol já tinha se posto. Sem vontade para comemorar, voltou ao barco para assistir o crepúsculo.

Ao chegar lá, sussurrou para si mesmo:

- Hoje não, mas quando eu chegar em Southport... Não poderei deixar nada me incomodar. Devo viver minha vida, devo me levantar. Sou Harry Styles, tenho 21 anos e preciso viver minha vida muito mais.

Sail In The Blue Of My Eyes ||L.s. Story||Onde histórias criam vida. Descubra agora