Página Vinte E Oito

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A conversa se estendeu entre ambos para que definissem detalhes sobre a contratação de Ruby, todos os deveres que deveria cumprir como jornalista, seu tipo de abordagem e a forma como seria paga por isso:

- Bom, o salário inicial de um jornalista aqui é três e quinhentos semanais, de acordo com a sua demanda, é claro. Se me trouxer assuntos realmente valiosos, posso te dar uma bela comissão.

- Vamos entender isso direito, senhor... você me contratou com  outras intenções, não preciso ser uma jornalista para descobrir isso. O senhor sabe que conheço pessoas, artistas devido ao meu tempo trabalhado como uma. Sou muito influente, se posso dizer assim.

- Continue.

- Três mil e quinhentos dólares semanais é muito pouco, Joe. - Concluiu Ruby. - Eu estava pensando mais em... vinte e cinco mil doláres. 

- Como é que é? - Riu Louis, ouvindo toda a proposta. - Eu ganho 30 mil mensais, e eu sou a editora chefe. 

- Bem é pegar ou largar, senhor. - Disse Ruby, encarando seu patrão.

O velho retirou seus óculos de grau e colocou-se a pensar, Louis o fitava com os olhos cerrados, o encarando com um olhar mal encarado. Joseph, franziu o cenho passando as duas mãos em seu rosto envelhecido, ele deu um suspiro longo e se encostou em sua poltrona:

- Está bem - Ele disse. - Mas quero um excelente trabalho vindo de você, Ashburg! - Exclamou Joseph, apontando o dedo para Ruby - Ficará com a coluna de fofocas, junto com Louis.

- Com todo respeito, senhor, sei que já exigi demais, eu posso trabalhar na mesma coluna que ela, mas não gostaria de trabalhar no mesmo escritório.

- Você terá um seu.. um só para você. - Respondeu Joseph, atendendo a todos os pedidos de sua nova funcionária. - Bom, começará amanhã, as nove. Esteja aqui.

- Obrigada... Até amanhã, Sr. - Ruby agradeceu. A nova jornalista deu as costas para os dois e saiu do prédio com um sorriso de satisfação, pelo menos ali, ela teria algo para fazer e talvez, só talvez, saberia da vida de Atlanta sem precisar estar por perto. Era uma ideia um tanto preocupante para a nova jornalista, pois ainda sim, ela só conseguia pensar na estrela:

- 50 mil dólares, Joseph? - Contestou Louis, após Ruby sair do prédio.

- Eu sei o que eu estou fazendo...confie em mim. Ela vale muito mais.

- O que o senhor está tramando, que mal eu lhe pergunte?

- Você sabe, eu sei... Ruby se envolvia com Atlanta emocionalmente. Se ela saiu de lá foi porque algo aconteceu entre as duas. E é aí que você entra. Você vai se aproximar dela, enquanto ela trabalhar aqui, e vai tentar conseguir alguma prova disso.

- Não é um tanto arriscado? - Perguntou Louis, não tão certa de si.

- Sim... Mas você dá conta, não é?!

- Com certeza.

...

Três dias se passaram desde então, do outro lado de Nova York, Atlanta terminava de gravar uma entrevista sobre seu novo filme. Sentado em uma cadeira afastada, Dexter olhava atentamente para seu celular. Todas as 36 ligações que ele tentou fazer a Ruby foram ignoradas. Ela visível que ele sentia falta de sua parceira de trabalho.

No camarim, a estrela se trocava para uma outra entrevista e com a ajuda do seu irmão, ela se olhava no espelho. Apesar de sua aparência bem e estável, ela estava acabada por dentro, mas evitava ao máximo falar disso com quem quer que fosse:

- Pronto. - Disse Kyle, ajeitando o blazer de sua irmã. - Você está linda. 

- Eu realmente gosto das roupas que você está criando para mim... você tem talento, meu irmão.

- Você me deixa ser livre para as criações, então eu faço com muito amor... é assim que um artista trabalha.

- Vamos sair daqui, eu estou morrendo de fome.

- Vamos! - Concordou Kyle.

Ao saírem do camarim, um grupo de pessoas se aproximaram e dentre delas, Amy, que sorria ao ver Atlanta. Ela não hesitou em abraçar a estrela, dando um beijo cheio de intenções em seu rosto:

- Você estava maravilhosa hoje. Aliás, não tem um dia que você não seja brilhante.

- Amy.. Oi... Obrigada! - Respondeu Atlanta, sem graça.

- Cadê aquela sua secretária que vivia em cima de você? Não a vejo mais por ai. 

- Ela não trabalha mais para mim. - Respondeu Atlanta, sentida ao responder.

- Que pena...

- Realmente... - Atlanta concordou.

- Será que.. - Amy sorri, envergonhada -... Nós duas não poderíamos jantar hoje a noite?

- É.... - Kyle, se aproxima de sua irmã e a cutuca, dando a entender que ela tinha que aceitar o convite.

- Ela adoraria. - Respondeu seu irmão, abruptamente. 

- Ótimo! - Amy sorriu, vitoriosa. - Meu motorista irá te buscar por volta das oito e meia da noite. Está bem?

- Será que é uma boa ideia? 

- Pode ter certeza que sim. - Amy respondeu, ao piscar para Atlanta.

- Se você diz...

- Te espero, então. - Todos se despediram e seguiram teus caminhos. Kyle não se demorou para comentar sobre aquilo com sua irmã:

- As vezes Deus não dá asas a cobra, não é?

- Não estou com cabeça para isso, agora.

- Eu sei que você está sofrendo muito pela Ruby, mas ela não te atende, sempre te ignora... não acha que precisa se distrair?

- Não sei não, Kyle... não quero tapar buraco nenhum. Ruby é importante para mim.

- Só vai jantar com essa garota, deixa as coisas fluírem. Ver no que dá.

- Ei! - Gritou Dexter, impaciente - Onde vocês dois estavam?

- Atlanta tem um encontro hoje! - Exclamou Kyle, dando um tapinha nos ombros de Dexter.

- Encontro? Com quem?

- É só  um jantar. - Respondeu Atlanta, sem demonstrar animo. - Com a Amy. Nada demais.

- Pelo menos fez algo inteligente dessa vez, Delano. - Dexter comentou, com um sorriso de canto. - Vai ser bom verem vocês duas juntos. Amy acabou de se candidatar para ter seu nome na calçada da fama. Quem sabe você não é a próxima? 

Atlanta nem respondeu, não conseguia pensar em outra coisa a não ser em seu péssimo hábito em tentar ter tudo, assim como Zara, Ruby também havia ido embora, parecia sua sina, algo como um carma. Ela não sentia mais alegria em quase nada, seu dinheiro não servia para corrigir nenhum de seus problemas. Em contra partida, Atlanta a cada dia se tornava a maior escritora do mundo:

- Vamos... o carro já está nos esperando lá fora. - Kyle disse, libertando sua irmã de seus pensamentos. Os três saíram do estúdio e foram direto para a mansão de Atlanta.

....

Pela janela de um aeroporto, os olhos vidrados de Zara observava o imenso avião que decolaria em poucas horas, sem saber que aquilo mudaria o rumo da história que estava prestes a surgir:

- Estamos orgulhosos, filha! - Disse a senhora Benson, com os olhos marejados. - Finalmente vai seguir o seu sonho.

- Você é o motivo do meu orgulho, não poderia ter uma noiva mais perfeita do que você. - Blake disse, sorridente ao abraçar Zara. - Eu vou te visitar assim que eu puder. 

- Mesmo? Não consigo viver sem seu café da manhã. - Zara riu de forma afetuosa.

- Pode apostar! Logo estarei em Nova York pra ter ver, mas até lá, foque no seu novo trabalho. Tenho certeza que vai ser a melhor fotografa da cidade.

- Eu te amo, Blake. - Disse Zara, em um beijo de despedida. Logo uma voz anunciou o embarque dos passageiros e o horário da decolagem. 

- Bom, é melhor você ir. - Disse Blake, sorrindo. 

- Nos vemos logo. - Zara abraçou seu noivo e em seguida sua família, todos já sentiam muito pela separação. Mas nada chegava aos pés do sentimento estranha que Zara sentia ao ir para Nova York. Era como se algo a dissesse que todo seu passado voltaria a tona. 

Assim que entrou e sentou-se em sua poltrona designada, uma enxurrada de lembranças atormentava seu coração. Ela nunca parou de seguir os passos de Atlanta, apesar de ser totalmente sem intenções ou força de querer. A estrela estampava outdoors, capas de revistas, jornais. Estava em canais de tv, filmes, trailers e para onde quer que Zara olhasse. 

Era como um pesadelo. 

Boa Noite, Atlanta.Onde histórias criam vida. Descubra agora