Capítulo Sete - Eu Não Sei O Que Fazer

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Ao abrir os olhos, Atlanta foi recebida por um mundo distorcido e confuso. As paredes brancas do quarto hospitalar dançavam diante de seus olhos, uma visão embaçada de um cenário que não se encaixava em sua memória recente. A tentativa de compreender o que havia acontecido era como juntar peças de um quebra-cabeça que se desfizera.

- Onde estou? - A voz de Atlanta, ainda enfraquecida pelo coma, escapou como um sussurro tremido.

A preocupação pairava no ar quando Ruby, ao lado da cama, segurava a mão de Atlanta com firmeza.

 - Você está em casa, Atlanta. Houve um acidente, mas você está segura agora. Tudo vai ficar bem.

- Ruby? É você?

- Oi... - Ruby respondia, emocionada. - Sou eu...

Atlanta, porém, sentia-se isolada em um mar de confusão. A sensação de não conseguir enxergar mergulhou-a em uma ansiedade crescente.

- Por que está tão escuro? O que aconteceu com os meus olhos? - Atlanta perguntava, desesperada.

Os médicos, presentes no quarto, compartilhavam olhares preocupados enquanto tentavam acalmar Atlanta. Um deles explicou gentilmente:

- Você sofreu uma colisão muito grave e com isso, suas retinas foram afetadas pelos estilhaços do carro. 

- Eu vou ficar cega?  Não... isso não está acontecendo. - Atlanta estava desesperada. - E a minha carreira? Meus livros... não.

- Calma. - Tranquilizava o médico. - Agora que você acordou vamos começar o tratamento adequado, não é uma condição permanente, existem chances de você recuperar a visão. 

A escuridão ao redor de Atlanta parecia pesar como um manto, e a ideia de não poder ver o rosto de Ruby, o ambiente familiar e o mundo ao seu redor a atormentava.

- Não.. eu não posso ficar assim, eu não vou aguentar. - A estrela ficava cada vez mais agitada e angustiada pela possibilidade de nunca mais enxergar. 

- Calma... - Disse Dexter, sem saber muito como reagir aquilo.

Lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto de Atlanta enquanto ela tentava processar a nova realidade. A incerteza do desconhecido e a escuridão que se abatia sobre ela tornavam a recuperação um desafio ainda maior.

- O acidente foi só comigo? A Zara está bem? - Atlanta perguntou, preocupada.

Ao mencionar o nome de Zara, Atlanta percebeu um breve silêncio que pairou sobre o quarto, como se a menção da fotógrafa tivesse evocado uma sombra desconhecida:

- Dexter, Ruby... O que aconteceu? Por que esse silêncio?. - Atlanta questionou, tentando decifrar o enigma que se desenrolava em sua mente turva. - Ela está bem? Respondam!

- Zara?... Qual é a ultima coisa de que se lembra Atlanta? - Dexter perguntou, como um teste para entender o que estava acontecendo. Nesse momento os médicos já sabiam que talvez a escritora havia perdido parte de suas lembranças. 

- Eu não... não consigo me lembrar muito bem... eu.. não lembro de muita coisa.

- Tudo bem. - Disse um médico, interrompendo. - É muita informação para ela, agora. É melhor Atlanta repousar, afinal, ela acabou de acordar de um coma. Sua mente ainda está confusa.

Os olhares trocados entre Dexter e Ruby foram carregados de significado, como se uma comunicação silenciosa se desenrolasse diante das palavras de Atlanta. 

A confusão nos olhos de Atlanta persistia, mas ela optou por aceitar o pedido do médico, pelo menos por enquanto. O desconhecido pairava sobre as informações que não foram compartilhadas, e Ruby, apesar de seu próprio coração pesado, escolheu não adicionar mais peso à já complicada jornada de Atlanta. Dexter conduziu Ruby para fora do quarto, ambos já sabiam o que estava acontecendo e precisavam conversar o quanto antes:

- Ela perdeu a memória, não se lembra da gente. - Ruby comentou, assim que saíram do quarto.

- Eu sinto muito... - Dexter disse, percebendo como Ruby havia ficado mexida com aquilo. - Eu tenho certeza que ela vai recobrar as lembranças de vocês, mais cedo ou mais tarde. 

- Pouco me importa, Dexter... ela lembrando ou não, você nunca nos deixaria em paz, não é? 

- Não é bem assim... eu..

- Me desculpe, eu não deveria estar descontando nada em você. Eu só... eu não sei o que fazer. - Ruby estava com o coração ainda mais partido. Era uma tristeza profunda que ela sentia naquele momento. - O mais importante é que ela acordou. 

- É... você tem razão... 

- Escuta, eu vou contratar uma cuidadora para ela, alguém para ajudar em tudo o que ela precisar, quero que Atlanta se recupere logo. 

- Acho que é uma boa ideia, não quero deixar ela sozinha nem um minuto sequer.

- Eu vou providenciar isso, não se preocupe. - Disse Ruby. 

- Sabe nunca entendi completamente esse vínculo tão forte que você tem com Atlanta. É como se você sempre estivesse disposta a sacrificar qualquer coisa por ela...

- O amor não é algo que você pode entender apenas racionalmente. Para mim, amar é colocar a felicidade de Atlanta acima de tudo. A alegria dela é a minha alegria, e sua dor é a minha dor.

Dexter arqueou uma sobrancelha, expressando sua perplexidade.

 - E quanto a você? E sua própria felicidade? Você está disposta a sacrificar isso indefinidamente?"

Ruby sorriu, um sorriso terno que refletia a profundidade de seus sentimentos.

- O amor, Dexter, é sobre compartilhar a alegria e a dor. Eu acredito que, ao escolher a felicidade de Atlanta, também estou construindo a minha. Ver o sorriso dela é a minha recompensa.

Dexter, embora respeitoso, não conseguiu conter a preocupação.

 - Não acho que esse tipo de amor seja saudável, acho que mesmo que soa bonito, alguém sempre sai machucado. - Ele rebateu - Você é uma pessoa incrível, mas não pode dedicar toda a sua vida à felicidade de outra pessoa. Você precisa pensar em si mesma também.  Afinal, o que Atlanta te dá em troca disso?

Ruby se pois a pensar por alguns segundos e ao concluir sua resposta, ela olhou certa de suas convicções:

- Vida. - Ela disse. - Para mim não há nada mais importante do que ver ela viver.

- É difícil compreender.

Ruby, com um olhar determinado, respondeu:

- Eu entendo sua preocupação, Dexter. Mas para mim, colocar Atlanta em primeiro lugar não é um sacrifício. É uma escolha que faço com o coração. Não consigo imaginar outra maneira de amar.

- Um dia eu gostaria de experimentar um amor assim... mas eu ainda não tenho maturidade para isso... mas afinal, o que pretende fazer com essa história da Atlanta estar sem memórias?

- O que eu tenho para fazer? Nada. É obvio que me dói saber que ela não se recorda de nós, mas esse não é o foco no momento. E se for preciso, eu conquisto ela mais uma vez.

 - Bom, para o que você precisar, eu estarei aqui... - Ruby sorriu, sarcasticamente, lembrando da vez em que precisou que Dexter fosse empático, e ele não foi. Mas ela não quis jogar isso em sua cara, pelo menos não naquele momento.

 Mas ela não quis jogar isso em sua cara, pelo menos não naquele momento

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Boa Noite, Atlanta.Onde histórias criam vida. Descubra agora