X1

60 8 7
                                    

     Fim de tarde chegava em Tangará da Serra, e com ele, as crianças saíam da escola.
   Vitor esperava por seus amigos Diogo e Vitória, esperava por Vitória pois queria apenas se despedir, pois ele só voltava para sua casa com Diogo.
  Ele atravessou o pátio da escola e foi para a recepção, onde seus amigos sempre o esperavam.
  Ao chegar lá, ele comprimentou a moça que trabalhava ali, ele nunca lembrava seu nome.
  Virou-se para as cadeiras que ficavam ali e sentou ao lado de seus amigos. Uma conversa sem assunto se iniciou.

    - Oi gente, como foi a aula? Perguntou ele colocando sua bolsa na cadeira ao lado.

    - Um inferno, aquela velha ainda acha que eu vou me comportar na aula dela? Haha, ela que me aguarde. Diogo estava furioso pois dias atrás a professora de português havia dado uma baixa nota de comportamento para ele.

    - Foi engraçada, e a sua, amigo? Vitória nunca reclamava das aulas.

    - Normal, mas acho que vou reprovar em física, Deus queira que não.

     Depois de um período de silêncio Vitor continuou.

    - Acho que está na hora de ir embora, vamos gente.

    Diogo e Vitória concordaram e os três foram para o estacionamento pegar suas bicicletas.
    Muitos alunos ainda estavam na frente da escola, e o "congestionamento" de bicicletas, no portão, era enorme. Enquanto tentavam andar no meio das pessoas, eles encontraram outro amigo em comum entre eles, Mateus, que estudava apenas com Vitor, mas acabou se tornando amigo de Vitória e Diogo com o tempo.

    - E aí galera, bom? Ele soava como a pessoa mais heterossexual para o trío, mas isso deixava as coisas mais interessantes.

    Vitor acenou, Diogo fez um sinal com a cabeça e Vitória foi a única a dizer "oi" com sua voz.
  Eles não disseram mais nada e continuaram a luta no meio da multidão.
    Demorou um tempo mas os quatro conseguiram passar e achar um lugar para que pudessem se despedir, não era o fim de nada, eles apenas gostavam de se abraçar.

    - Tchau gente, se cuidem, até amanhã. Vitor dizia enquanto abraçava Vitória e pegava na mão de Mateus.

    Quando Diogo foi se despedir um grito muito alto de criança passou por todos, deixando todo mundo que estava na frente da escola em silêncio. Foi aí que Vitor percebeu que não haviam carros nas ruas e nenhum pai havia vindo buscar o filho, o ônibus que busca pessoas de outra cidade também não estava no lugar que sempre ficava. Vitor e Vitória jogaram suas bicicletas no chão e foram ver o que havia acontecido, pois o barulho que escutaram não era normal.
    Seguiram até a esquina e então viram algo que os paralisou, Diogo ficou preocupado e foi até eles para ver o que tinha acontecido. Ao chegar lá ele também ficou em choque, mas voltou a sí rápidamente e começou a puxar Vitor e Vitória que ainda estavam parados ali. Mateus foi até eles para ajudar Diogo que pediu sua ajuda. Mas não precisou, pois quando ele chegou, os dois já haviam voltado ao normal mas  estavam gritando.
   A cena era caótica, carros estavam espalhados como lixo por toda a rua, pessoas estavam correndo entre eles na direção da escola, como se os alunos fossem algum prêmio, mas não havia humanos no meio daquilo que corria até eles. Enquanto Vitor, Vitória, Diogo e os outros alunos corriam para a escola, Mateus estava indo embora dela. Vitor olhou para trás e o viu, deu meia volta e foi atrás do amigo.

    - Onde você está indo? Gritou, pois Mateus estava um pouco longe.

    - Preciso ir embora.

    - Não, você precisa se esconder. Vitor ainda falava alto.

    - Eu preciso ir para casa.

    - Por favor, não vai. Por favor. Dava para perceber a voz trêmula que essas palavras soavam ao sair da boca de Vitor, e acho que foi isso que convenceu Mateus a voltar para perto de Vitor.
   Quando ele chegou próximo o suficiente, Vitor pegou seu braço e o puxou para dentro, correram para dentro, empurrando as pessoas que estavam atrapalhando o caminho.
    Quando todos entraram, Vitor pediu para que o segurança da escola fechasse os portões. Ele não estava entendendo toda a confusão então Vitor pegou o controle de sua mão e fechou. A porta de vidro que ficava na entrada da instituição também foi fechada. O caos do lado de fora era visível, bicicletas jogadas por todo lado, carros espalhados, tudo isso parecia coisa de filme. Então houve o último passo para despertar o medo em quem ainda não o tinha dentro de sí. Um dos alunos estava tentando voltar para a escola, ele estava do lado de fora dos portões, mas as coisas estavam perto, seria muito perigoso deixá-lo entrar. Então elas o acharam, ele estava sendo morto na frente de dezenas de alunos e eles não podiam fazer nada. Vitor então foi em direção ao pátio procurar seus amigos que estavam perto da cantina, eles ainda estavam em choque, mas precisavam se recompor e se esconder, não demoraria muito tempo para as coisas quebrarem as grades que separavam a escola do mundo exterior.

    - Essas coisas só podem ser zumbis. Disse Mateus.

    - Isso é muito impossível. Vitor disse colocando as mãos por trás de sua cabeça.

    - Então me explica, por que aquelas coisas mataram o cara lá fora?

    Um silêncio ocupou todo o lugar e Vitor começou a pensar em como passar por tudo isso.

    - Se a gente não quer morrer a gente tem que se esconder.

    - Onde? Vitória o perguntou.

    Nesse momento Mateus olhou para cima e isso fez Vitor olhar também.

    - Lá! Disse Vitor apontando para cima.

    A cantina de sua escola tinha dois andares, na parte superior estava a caixa d'agua mas provavelmente os quatro caberiam la dentro pois o espaço era amplo.
    Diogo já estava subindo as escadas quando Vitor disse:

    - Suba lá e não deixe mais ninguém subir, eu vou na copa pegar comida. Vitória, vai com Mateus na cantina e tente pegar o máximo que você conseguir, se possível, quebrem a geladeira e peguem coisas para beber.

    Vitor adorava filmes de sobrevivência, e achava que era hora de colocar seu conhecimento em prática. Ele correu para a copa e abriu a geladeira, haviam algumas marmitas dentro e coisas que os alunos deixam ali. Todo mundo estava muito preocupado para dar atenção para o que Vitor e seus amigos estavam fazendo. Vitor, então, colocou sua bolsa no chão e jogou seus livros no chão, para que houvesse mais espaço para as vasilhas. Ele pegou o suficiente para os quatro, pois se levasse tudo, iria estragar e seria um desperdício.
  Voltou ao pátio e encontrou Vitória e Mateus enchendo suas bolsas com o que havia sobrado na cantina.

     - Pronto? Perguntou Vitor querendo apressá-los.

     - Acho que sim. Disse Vitória.

     - Podemos ir então.

    Os três começaram a subir as escadas para encontrar Diogo, que observava tudo lá de cima.

    Ao chegarem lá em cima, encontraram um lugar extremamente sujo, parecia que ninguém pisava ali há meses. Mas esse era o menor dos problemas deles agora. Trancaram a porta e sentaram-se em roda. O que acabara de acontecer precisava ser discutido.

A Revolta Das OvelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora