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    - Eu sei como a gente vai conseguir aquela chave! Mateus disse em voz baixa, mas dava para notar o entusiasmo em sua voz.

    - Como? Respondeu Vitor, ainda sonolento e com os olhos fechados.

    - O Gilcélio sempre aparece para dar bom dia para todos, se a gente fingir uma briga, ele pode tentar separar, e enquanto ele está tentando, alguém pode pegar as chaves da calça dele.

    - Ótima idéia, anote isso, talvez você esqueça quando acordar. Vitor virou-se e voltou a dormir.

    Mateus pegou um caderno em sua bolsa e escreveu o que acabara de dizer, tudo estava planejado, o plano só precisava ser posto em ação.
    Pela manhã, seguiram a mesma rotina, mas antes de descerem, Mateus contou a eles o seu plano. Enquanto iam para o banheiro, discutiam mais sobre quem iria fingir a briga, Guilherme tomou frente e disse que ele poderia ser quem confrontaria Gilcélio, disse que iria pedir comida e alguém deveria contrariá-lo, então eles começariam uma briga. Mateus se voluntariou para ser aquele que iria afrontar Guilherme. Novamente eles se encontraram no banheiro, mas desta vez havia sorriso no rosto de cada um. Eles poderiam sentir a liberdade novamente, uma liberdade arriscada, porém, melhor do que ser apenas gado. Quando a primeira pessoa chegou ao banheiro eles correram para o pátio, Mateus certificou-se de manter uma distância considerável de Guilherme.
    Então o tão aguardado momento chegou, como sempre, Gilcélio apareceu para lembrá-los o quão importante era racionar alimentos, mas desta vez, nem todo mundo se calou.

  -   Nós não estamos vivendo em condições humanas aqui! A quanto tempo as pessoas não comem? Ou até mesmo, tomam banho? Como você está fazendo para se manter? Tenho certeza que você toma banho todo dia. Disse Guilherme, fingindo uma raiva que não era dele, mas que era fácil de acreditar.

    Mateus então entrou em ação dizendo:

    - Cala a boca, cara, ele está fazendo isso para o bem de todos nós, se não tá feliz, pula o muro e vai embora!

    - Eu não estou falando com você, se eu quiser ficar aqui eu fico, não será você que vai me tirar.

    - É mesmo? Mateus fez uma voz sarcástica indo na direção do Guilherme.

    E então eles se jogaram um no outro e foram ao chão, na frente de Gilcélio para facilitar. Neste momento Vitor e Vitória correram para cima deles para "separá-los", Gilcélio entrou na confusão e essa era a chance perfeita. Vitória se jogou ao lado de Gilcélio e com delicadeza, e com pressa também, agarrou a chave e tirou-a bolso de Gilcélio, virou-se contra o chão e a colocou no peito. Quando a chave estava bem escondida, fez um sinal para Vitor, que se jogou em cima dos garotos que estavam rolando no chão e eles entenderam o recado, separando-se. Ela correu para o bebedouro, e bebeu um gole de água, arrumou o sutiã e voltou a centro do pátio, onde Gilcélio brigava com os meninos. Eles estavam tentando fazer uma cara de culpado, mas acho que por dentro eles estavam se matando de rir. Após o sermão, Gilcélio voltou para a sua sala e Mateus voltou a se sentar com seus amigos, isso fez com que as pessoas olhassem confusas para eles, principalmente Vinicius, que se levantou e foi até o grupo.

    - O que vocês estão armando?

    - Não estamos armando nada, eles sentaram juntos para resolverem as coisas. Vitor levantou-se e se colocou a frente de Vinicius.

    - Você acha que pode esconder alguma coisa de mim, né? Pois saiba, até o fim do dia eu vou saber o que você está fazendo. Vinicius virou as costas e saiu.

    Vitor voltou para o seu lugar e agora tentaram disfarçar mais a felicidade que eles estavam sentindo.
    Quando eles sentiram que já era mais que meio dia, foram dar uma última volta pela escola, lembrando dos momentos que viveram juntos, sozinhos ou com outras pessoas. Passaram tarde toda sentados em um corredor, conversando como se tudo estivesse perfeitamente normal. No fim da tarde, quando estavam voltando para o pátio, Diogo viu que Vinicius andava junto com Gilcélio, e isso não era nem um pouco normal, pois Gilcélio parecía bufar de raiva e Vinicius estava com um tremendo sorriso no rosto, Diogo mandou todos correrem e se esconderem, eles não entenderam no começo, mas quando viram Gilcélio tudo parecia muito claro. Todos correram para o banheiro, Vitor e Mateus se esconderam atrás da porta, Vitória, Diogo e Guilherme entraram na última cabine e tentaram não fazer nenhum barulho. Gilcélio entrou no banheiro e bateu com força na porta, Vitor e Mateus se espremeram o máximo que conseguiram para ele não notar que havia alguém atrás da porta. Enquanto abría as cabines, Vinicius falava:

    - Eles estão escrevendo coisas em um caderno o tempo todo, não deixam ninguém se aproximar e depois daquela briguinha que tiveram hoje já se sentaram juntos e estavam muito animados. Eu aposto que foram eles que pegaram a sua chave.

    Quando Gilcélio ia abrir a última cabine ele disse:

    - Você tem certeza?

    - Toda.

    Quando Gilcélio voltou sua atenção para a porta, alguns alunos passaram correndo na frente do banheiro e Gilcélio pensou que poderiam ser eles, imediatamente correu do banheiro, e Vinicius foi atrás.
    Quando tudo parecia limpo, todos saíram correndo do banheiro e foram para o pátio, haviam algumas pessoas ali, mas isso não importava mais, Vitor subiu as escadas o mais rápido que pode, pegou tudo que estava lá em cima e jogou pela porta, quando estava descendo, Gilcélio atravessou a porta que ligava os corredores ao pátio. Vitor se jogou de onde estavam e começaram a correr para fora do pátio, quando todos atravessaram as portas da recepção Vitor e Guilherme as fecharam para dar tempo, enquanto Vitória e Mateus abriam a porta da frente, Diogo correu para procurar a bicicleta de Gabriel, por sorte, ela estava em fácil acesso. Vitória correu e destrancou a camionete, Vitor e Guilherme foram ajudar Diogo a pegar a bicicleta, eles a jogaram na carroceria e correram para entrar no carro. Mateus estava no volante e Vitor no banco ao lado, quando tentava ligar o carro, Gilcélio começou a bater no carro, tentou abrir a porta mas Vitória, Guilherme e Diogo a seguraram com toda a força que possuíam. Vitor esperou Gilcélio largar a porta e então trancou todas elas. A camionete ligou e Mateus deu marcha ré, Vitor esperou chegar perto o suficiente do portão para que ele abrisse. Quando o portão se abriu, o carro saiu e Mateus acelerou e o controle caiu da mão de Vitor, quando ele o achou, já estava longe de mais para poder fechar.

    - Não! Volta, o portão não fechou! Vitor gritava desesperado.

    - Não dá para voltar! Mateus também se desesperou.

    - As coisas! Elas vão entrar na escola!

    As coisas, sim, Vitor não viu muitas delas quando o carro saiu, mas com certeza o barulho dele chamou a atenção delas. Vitor começou a chorar no carro, e foi como efeito dominó, todos estavam chorando depois de um tempo, enquanto Mateus os levava para o que eles achavam que iria salvá-los.

A Revolta Das OvelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora