The Other Side Of Life (kth + jjk)

c a p i t u l o 1

As folhas finas e desgastadas já tinham uma cor amarelada. Alguns buracos aqui e ali eram visiveis no objeto, tal como rabiscos, circulos e palavras escritas, abundantes em cada página. Entediado, o garoto joga o dicionário e a caneta para o lado, a fim de se levantar para tomar suas vitaminas. Ele enche um copo com água e engole as pílulas com uma careta no rosto.

Odiava aqueles comprimidos.

Assim que despeja o restante da água na pia retorna para o chão, se sentando e com um suspiro, abre novamente o dicionário, agarrando a caneta entre os dedos e brincando com o objeto enquanto lia, palavra por palavra, seguidas por seus significados. Ler o dicionário era o seu único passatempo naquele lugar, além da televisão, que só disponibilizava o canal local.

Taehyung olha para as paredes do pequeno quarto e fita a janela, tão alta que se aproximava do teto. Uma vez ele escalou alguns objetos empilhados e olhou pelo vidro protegido por grades metálicas. Conseguiu notar que a janela ficava próxima ao chão, indicando que o quarto onde era mantido ficava no subsolo. Pelo vidro também conseguiu notar mais três coisas: um carro abandonado abaixo de uma árvore morta; uma cafeteria, bem movimentada durante o dia, do outro lado da rua, chamada "Sweet&Coffe Min Hae"; e uma placa azul que dizia "Rua Jung Dallae".

O garoto ficou em silêncio ouvindo passos no andar de cima e minutos depois conseguiu ouvir o barulho dos dois carros se afastando, indicando que os dois moradores da casa haviam saído, como todos os dias no mesmo horário.

Logo tratou em se levantar, pegando todas as colheres e facas disponíveis em suas gavetas velhas e enfiando os objetos em seu bolso do casaco. Caminhou até o armário da cozinha onde guardava os poucos alimentos e alguns utensílios e o arrastou devagar, tirando a tábua de madeira - que arrancara do guarda roupa - do chão, deixando visível o buraco relativamente grande que tinha alí e se enfiando no mesmo.

Assim que entrou, destapou o ducto de ar, para o caso de alguém se aproximar. Sem o tampo do ducto, os passos ecoavam com mais facilidade, o que dava a Taehyung um tempo extra para sair do túnel e esconder a entrada, caso necessário. Ele caminhou até o fim do longo túnel que trabalhou nos anos em que esteve preso.

10 800 segundos.

Era o tempo que Taehyung se permitia ficar ali diariamente para que não corresse tanto risco de um dos dois voltar de surpresa e o encontrar planejando mais uma fuga.

Saiu dali, colocou tudo em seu lugar e tratou de lavar os utensílios usados, o casaco e a pele, retirando qualquer resquício de terra.

Quando termina de se lavar e verifica se tudo está em seu devido lugar, o garoto caminha até o armário e busca algo para se alimentar. Ele pega a pequena folha amassada entre suas roupas, abre o kimchi enlatado, agarra uma colher e se senta no chão, desamassando a folha e lendo os nomes que havia riscado.

Dahyun, Chunghee, Baekhyun, Namjoon, Jimin, Hoseok, Jennie e Jungkook. Seus pais, seu irmão e seus amigos.

Taehyung se perguntava diariamente como estavam, se estavam bem, se ainda estão em Seul... É impossível sequer imaginar.

As últimas lembranças que tem de cada um o fazem sorrir e chorar.

Mas duas pessoas que sempre estavam presentes em sua mente eram seus pais. As duas últimas pessoas com quem teve contato.

Seu pai e ele nunca foram muito próximos, mas Taehyung sempre respeitou a pessoa que ele era. Chunghee trabalhava duro para manter o conforto e luxo da familia, era uma pessoa muito fechada e rigida, mas também muito carinhosa... O que o faz lembrar da última lembrança do mesmo e de mais uma pessoa. Sua mãe.

Dahyun sempre fora muito engraçada e extrovertida.  Muito carinhosa e sempre visando um futuro brilhante para seus filhos... Futuro esse que Taehyung não queria. Ela sempre quis que ele terminasse a escola e entrasse na faculdade de Medicina, que ele encontrasse uma linda garota com a qual namoraria, se casaria e teria uma linda família.

Naquela tarde, enquanto os três conversavam na saída do supermercado, Taehyung falou que não gostava de meninas... Seu pai perguntou se tinha certeza e disse que o apoiaria, mas sua mãe fez um escândalo. Ela disse que não aceitaria um filho gay e gritou para que Taehyung sumisse da sua frente. E foi o que ele fez.

O garoto correu pelas ruas enquanto seu pai gritava por seu nome. Ele só queria chegar na casa do Jimin o mais rápido possível, precisava ver o amigo, chorar até não ter mais lágrimas e ouvir os bons concelhos que Jimin sempre dava. Mas então caiu. Uma mulher que parecia muito simpática o ajudou a levantar, havia um corte muito grande em sua perna, devido à queda, então ela disse que o levaria para o hospital...

Aquela mulher loira de olhos redondos e sotaque esquisito colocou o garoto no carro e o levou para um lugar que não era o hospital.

E ele estava lá até hoje.

Duas pessoas... Aquela mesma mulher e um homem. Algumas vezes ela aparece, outras vezes ele. Ela não aparece tanto quanto ele.

Ela leva uma bolsa pequena consigo. Lâminas, agulhas, pinças, alicates, tesouras... Essa é a explicação para as cicatrizes nas costas, abdômen, peito e braços de Taehyung. A tortura.

Ele leva uma garrafa de wiskey e o seu cinto. Essa é a explicação para as marcas inchadas temporárias e as lágrimas. As surras e os estupros.

Porque ele ainda não se matou? Não foi a falta de vontade que tirou suas forças de cometer tal ato contra a própria vida, mas o medo. Medo de que as ameaças se concretizassem. Eles sabem onde sua família e amigos estão. Taehyung teme por eles, mesmo sem saber se é verdade ou não.

Quando já está escuro o suficiente ele se deita e fecha os olhos, tentando adormecer, mas como sempre, é impossível.

O garoto escuta as trancas e seu corpo começa a tremer, a porta abre e ele fecha os olhos com força. Mãos agarram seus tornozelos e o puxam, causando uma imensa vontade de gritar... Mas se segura. Aprendeu que fazer isso só pioraria as coisas.

Seus joelhos encontram o chão e sua calça é abaixada, afunda o rosto no colchão e tenta se convencer mais uma vez de que essa é a última vez e de que passará depressa.

Oi pessoal... Então, essa fic tem uma áurea mais tensa e pesada, não será sempre assim...

Aqui vou mostrar que os seres humanos são capazes de coisas horríveis e de como é complicado passar por situações que só você entende.

Desculpem se estiver muito tensa ou algo do tipo, espero que gostem.

Comentem e curtam, por favor, isso ajuda bastante.

Xero docinhos 😗