O estudante de Medicina

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                 Ele e sua mãe sempre foram muito próximos. Desde o dia do seu nascimento, quando a pressão arterial de sua progenitora caiu bruscamente no momento que as enfermeiras o tiraram de perto dela para que o limpassem. A partir daí, a conexão apenas se manteve cada vez mais forte e mãe e filho cada vez mais próximos.

                  Beirava o extraordinário, ao ponto de que se o filho não se sentia bem, física ou mentalmente, a mãe, passado o estado frágil do filho, sentia os mesmos sintomas. E assim, com essa proximidade e conexão ela criou seu filho da melhor maneira que pode, ao passo que ele se tornou um rapaz inteligente, educado e bastante gentil, porém recluso e extremamente apegado a mãe, como era de se esperar. Porém, com o avanço da idade, eles tinham que aceitar um evento que não tardaria a acontecer: ele teria que ir para a faculdade.

                  Ela havia se preparado financeiramente e psicologicamente para isso, além de passar para o seu filho seus melhores ensinamentos e aprendizados, portanto, considerava que ele também estaria preparado. E então, começaram as buscas e tentativas por faculdades. Miravam as grandes e os grandes cursos porque sabiam da capacidade do garoto e de sua vontade em ser médico.

                    Eis que na semana de resposta das universidades, o que eles mais desejavam aconteceu: ele foi admitido em uma das melhores universidades em relação ao curso de medicina do país. A alegria contagiou o lar. Sua mãe fez uma grande festa, convidou amigos de ambos, familiares e o pai do rapaz, que, mesmo constantemente ausente, apareceu com sua nova família e se ofereceu para ajudar nos gastos que o rapaz tivesse durante os anos na faculdade.

                    A única pessoa que não apareceu foi o seu avô materno, pois devido ao seu estado delicado de saúde, ele estava num centro de recuperação para idosos em pós-operatório. Porém, assim que recebeu a carta de aceitação, ligou para a clínica e informou-o, trazendo alegria para um momento tão delicado.

                 Passado o alvoroço da aceitação, iniciou-se o alvoroço da preparação para tantas mudanças que estavam por vir. Era o momento do pequeno pássaro colocar em prática tudo o que a mãe tinha lhe ensinado sobre a vida, e consequentemente, era o momento da separação. Ninguém admitia, mas nenhum dos dois estava preparado. A mãe perdeu cerca de cinco quilos  em menos de duas semanas devido a ansiedade e o filho começou a apresentar comportamentos um tanto violentos, rasgando roupas e quebrando itens de sua infância. Foi uma transição estranha e difícil, mas tinha que acontecer

                Uma semana depois, com o estudante de medicina já instalado na faculdade, a mãe pode, aos poucos, retomar a sua vida. Foi estranho, desconfortável e até angustiante, mas ela conseguiu dar uma guinada na vida profissional, que tinha deixado estagnada por anos a fio em benefício de seu filho. Além da vida profissional, ela também deu um novo significado a sua vida pessoal e amorosa e o fez saindo para uma boate com as colegas de trabalho. Divertiu-se como se ainda não tivesse tido o seu filho e fosse uma adolescente em sua primeira noitada. Podia-se considerar que aquela foi a melhor noite de sua vida em muito tempo e ela soube aproveitá-la.

              No entanto, mesmo com sua nova visão de sua própria vida, ela ainda se matinha extremamente conectada com seu filho e se sentiu um pouco angustiada e temerosa ao chegar em casa. Então, ligou para ele e contou-lhe sobre suas novas aventuras como uma mãe solteira e um pouco mais solta. Sentiu seu filho ficar um pouco enciumado e até irritado, mas levou em conta a proximidade entre os dois e deixou isso passar. Pensou que ele estava tendo um pouco mais de dificuldades do que ela ao se adaptar a essa nova realidade e apenas relevou. 

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