Capítulo 3 - Família e danos.

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"As pessoas são imprevisíveis, céticas, estranhas, absurdas, loucas, malvadas, arrogantes e desconfiadas, porém extremamente necessárias.
Seria fácil eu admitir ou tentar exprimir uma opinião que não vem de mim, mas serei franca ao expressar que simplesmente não importa o quão bem julgares tal pessoa conhecer um fato te farei ver ao afirmar convicta que tu, jamais passarás da superfície.
Sinto-lhe informar que por mais que tentes, jamais poderá julgar ou tentar interpretar de forma plena outro ser humano.
Assim deixo-lhe um fato não exatamente por mim confirmado, o mesmo lhe soará clichê e repetitivo, mas o que séria do mundo sem tais vacilos? Então preste atenção quando lhe digo;Ninguém é totalmente previsível."

— Jay.

As palavras da minha mãe ainda rondam minha cabeça em um turbilhão de pensamentos confusos. Trancada em meu quarto, imóvel sobre a minha cama box, a penumbra me envolve numa dormência reconfortante, eu respiro fundo deixando os últimos momentos voltarem á minha mente de novo, de novo e de novo... Como se alguém simplesmente tivesse deixado o botão de replay do meu cérebro ligado.

Momentos antes.

Levi vai me deixar em casa alguns minutos depois da minha mãe ter voltado para cozinha.

Durante mais uma de minhas conversas loucas com ele eu mal podia imaginar que raio de assunto ela tinha para falar.

Era hora de por as coisas em pratos limpos. Sempre tive vergonha de falar sobre minha fatídica situação no colégio, acreditando ser culpa minha, sendo passiva diante do inaceitável. Eram grosserias, que viraram duros insultos que por sua vez deram inicio a uma enorme bola de neve à medida que elas abriam caminho em suas liberdades.

Apelidos, pequenos furtos, humilhações, esbarrões e piadas tolas. Aos poucos isso foi se acumulando, o poder sobre mim foi conquistado e aquela bola de neve que cuidadosamente deslizava esta se transformando numa avalanche.

Nunca fiquei totalmente quieta diante daquilo, mas de nada adiantou e às vezes ate penso que piorou.

Chorar não resolve nada e só gera mais risadas, no fim a culpa é minha por ser tão fracassada.

Pelo visto violência também não concerta as coisas e apenas trás mais fedor e moscas em toda essa merda.

Estou tentando simplesmente não pensar nas palavras de Ângela.

O que mais ela poderia fazer comigo alem do inferno que já causa?

O arrepio que me percorre diante de tal pergunta me diz para não duvidar de nada.

Minha mãe chegou tarde do trabalho, o cheiro cigarros e suor entram na sala junto com ela. Observo seu corpo lentamente se escorregar ao longo do sofá. Cansaço, isso é tudo que tenho visto nela ultimamente.

— Ok... — Diz calma, quase entorpecida, com um braço sobre os olhos — Agora você pode me explicar o que ouve na escola e o que são esses hematomas em você — Sua voz ainda é controlada, mas eu consigo notar um leve tom de frustração — Porque Caroline eu simplesmente não posso mais engolir suas desculpas, e você sabe muito bem que não é a primeira vez que você chega em casa nesse estado, então pelo amor de Deus me conta o que fizeram com você.

Ela nunca havia me perguntado tão diretamente sobre minha vida, se eu apanhava na escola, ou tinha algo roubado sempre dizia que caí de algum lugar, que me bati em algo, ou que perdi aquele estojo.

Minha relação com meus colegas é assim desde o fundamental, com ou sem companhia no colégio sempre tinha alguém pra apontar meus defeitos e me lembrar de meu lugar.

E Não Foi Coisa AlgumaOnde histórias criam vida. Descubra agora