Prólogo de Primeira Viagem

46 9 18
                                    

Era uma vez - porque é assim que toda história deveria começar - uma cobertura do Upper East Side, em Manhattan. Não se tratava somente de uma simples cobertura, era a cobertura Dele, e mais do que isso, era extremamente luxuosa. Seu teto era alto e com ornamentos pelas esquinas de um cômodo ao outro, o teto dos corredores tinham pinturas tipicamente clássicas de histórias greco-romanas, o piso sempre uniforme em tons pretos e vermelhos, todas as paredes brancas com desenhos encrustados de flores ou paisagens e com muitos quadros por todos os lados em que se encontravam. O herói com ideais nada convencionais de nossa história é um sujeito arrogante, metido, extremamente gay e elitista.

Para o café da manhã com sua mãe - Greca - e seu pai - Roman - ele desceu as escadas do segundo andar, escadas essas muito bem desenhadas com uma breve curva na metade do percurso, tinha corrimãos de arabescos de ferro e os degraus com desenhos dourados, o percurso da escada tinha uma janela ornamentada com um vitral desenhado com a imagem da deusa Gaia e cortinas carmim, bem como as da sala. Usava uma cueca samba canção cor-de-rosa e um longo e majestoso robe de seda branca com bordados azuis. Tinha o peito nu e era magro, até um pouco demais, mesmo que ainda demonstrasse definições e músculos pelo corpo, e os pés calçados em uma espécie de pantufa felpuda e cheia de frufrus. Era alto, sua pele era clara e extremamente bem cuidada como porcelana, os lábios bem desenhados e vermelhos quase como se usasse um gloss da Chanel para dar mais cor a eles, mas não usava. Seus cabelos eram curtos nas laterais e volumosos, com ondas desenhadas no topo e no topete bagunçado ao sair da cama, tinham uma cor melosa e dourada, quase única. Não tão única quanto seus olhos. Eram grandes e brilhantes, sedutores e maléficos, um deles tinha a cor castanha muito clara, quase tornando-se a virar ouro e o outro tão azul quanto o céu. Sua heterocromia fora encarada por ele durante muitos anos como uma aberração, e agora era motivo de orgulho e exibições.

Sentados na mesa gloriosa e muito bem servida da sala de jantar que contava com um belo lustre de cristais pendurado bem acima do centro da mesa de madeira escurecida, as cadeiras almofadadas com tecidos cor de mostarda estavam ocupadas por seus pais cujo os nomes vocês já sabem, a outra cadeira era ocupada por um garoto de mais ou menos onze anos, era muito parecido com seu irmão mais velho, mas tinha os olhos totalmente castanhos e bochechas mais fartas. Seu nome era Marte, por incrível que possa parecer. O pequeno Marte se deliciava com um iogurte de chocolate e muitas amoras que faziam sua boca ficar suja de vermelho. Seu irmão mais velho o olhava com certo desgosto, não por ele, mas sim pela sujeira que causava logo de manhã. A governanta - como era chamada, pois ninguém no apartamento sentia-se no direito de chama-la de empregada - corria de um lado para o outro para servir a família. Bandejas com frutas e pães, geleias e jarros esculturais com leite e suco. A senhorita Jaqueline, como se chamava, colocou um dos pratos na frente do mais novo membro da mesa: era um prato de porcelana muito bem esculpido com uma grande taça cheia de iogurte e frutas das mais variadas, duas fatias de croassant de queijo e um pires com geleia de laranja o esperavam. Mas ele só comeu um pedaço de morango que estava em cima de sua taça.

- Querido você tem que comer, hoje é seu primeiro dia de aula! - Greca suplicou para que seu filho comesse, deixasse de lado suas manias e sua vontade de chamar a atenção.

- Não estou com fome, só de pensar para onde eu vou, eu perco a fome.

- Escute sua mãe, filho, aliás, está pagando o preço do que você mesmo fez. - Seus olhos coloridos pairaram em seu pai e ele se ergueu da mesa, virando-se para o outro lado e voltando para a escada.

Alguns minutos depois desceu pela escada e estava vestido, usava um shorts curto e preto com uma camisa de botões azul escura, sobre seus ombros tinha uma capa gloriosa que lhe caia até a cintura, cobrindo os braços e abotoada até o meio do peito, a capa era marrom escuro com desenhos dourados e bordados em verde e vermelho vivo. Os dedos eram ocupados por alguns anéis simples e de ouro branco. Os pés estavam calçados por um par de Oxford marrom verniz, combinando muito bem com sua capa, e o cabelo agora estava perfeitamente arrumado, com suas ondulações endireitadas e bem penteado. Ele terminou de digitar alguma coisa no celular e o jogou para dentro da mochila vermelho sangue com um belo e bem desenhado logo "ARMANI" próximo do zíper.

- Filho, não acha essa roupa, muito chique, para escola? - Seu pai o esperava na porta do elevador próximo ao corredor.

- Eu usava roupas assim na Manhattan's Empire College, não vou mudar de estilo só por ir para outra escola. - Roman tentou protestar mas sabia que era inútil, despediu-se de seu filho e o despachou para o elevador.

Ao sair do Garden's Saint Marie, seu ornamentado e luxuoso apartamento de muitos andares, que era feito uma parte de tijolos lixados e madeira polida com enormes janelas, e a parte que subia para os andares era de pedras cor de creme com pilastras crescendo nas laterais e nos meios, e parar na guia da calçada após a fachada do prédio, ele deu de cara com Kevin, o motorista, que usava neste momento um terno azul escuro e uma boina singela sobre os cabelos ruivos. Ele deu um sorriso para o recém chegado e tratou de abrir a porta do majestoso BMW preto para que ele pudesse entrar. Após algumas instruções o carro partiu, do Upper East Side direto para o Brooklyn.

Pode parecer estranho - e realmente era muito raro - ver um BMW luxuoso e lustroso estacionar na frente da simples e nada charmosa New York High School, a escola pública menos apreciada desde o West Village até o Bronx. Mas se era isso, por que então Greca e Roman despachariam seu filho do meio para essa escola? Por que não iria para a Manhattan's Empire College com seus amigos, no primeiro dia de seu irmão mais novo? Acontece que este era o castigo, o castigo dele. Ele fez coisas horríveis no verão passado e como maneira de puni-lo, seus pais o tiraram do colégio que estudava, tiraram-no de perto de seus amigos e seguidores, e tiraram dele o direito de dar suas famosas e requisitadas festas e eventos tradicionais. Mas por que? O que ele havia feito de tão ruim, se não seu elitismo e jeito esnobe? Uma confusão atrás da outra envolvia a mente dele neste momento, que olhava para a entrada da nova escola com os alunos se agrupando para ver a chegada do novo aluno. No meio de tantos alunos simples, com roupas nem um pouco interessantes e nada glamorosas se encontrava um grupo de quatro jovens, que tinham roupas parecidas com as do passageiro da BMW - que ficou muito aliviado e feliz ao ver os únicos quatro seguidores que acompanharam ele dá Manhattan's Empire College até a New York High School.

Kevin abriu a porta para ele que deu uma última respirada no cheiro caro de seu carro e então colocou os pés para fora, seguindo diretamente para os portões onde seus amigos o esperavam. No meio do caminho arrumou a capa e a bolsa, que atraia muitos olhares - não só pelas roupas extremamente caras e chamativas mas também para seu físico e rosto, que era claramente marca de alguém do Upper East Side. Parou na frente do quarteto, todos bem vestidos de preto e então respirou fundo.

- Bom dia, coorte real. - e como de costume, responderam sua rainha em unis som.

- Bom dia, Vênus.

METROPOLITANOnde histórias criam vida. Descubra agora