Regras são regras.

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   Passaram-se alguns segundos de silêncio, a turma nova não sabia se seus pensamentos pairavam em dúvida ou embevecimento. Vênus cortou a apreciação dos jovens mortais quando passou por Mercúrio – que havia aberto a porta – e por Saturno. Ele caminhou calmamente por entre as mesas, seus olhos divergentes tomavam nota do ambiente que estavam. A sala era bastante sem graça e muito mal cuidada. Tinha o teto alto de uma construção rústica, paredes de um tijolo mal lixado e com algumas rachaduras nada "grunge", o piso de madeira parecia oco e fazia um som de "clac, clac, clac" com o passar dos sapatos Oxford envernizados de Vênus. As mesas estavam alinhadas em algumas fileiras, e para a infelicidade de vossa majestade não haviam cinco mesas livres e próximas umas das outras. Como de costume, Vênus e seu esquadrão tinham um lugar de privilégio sentados próximos a mesa do professor e para lá eles iriam reivindicar seus tronos. Vênus jogou sua mochila vermelha em cima da mesa logo à frente da mesa principal e encarou um dos alunos que ali sentavam, seu grupo se aproximou e fez o mesmo nas quatro mesas que o rodeavam – ali seria a nova colmeia de Vênus. Com uma lábia doce, além de seu ar egocêntrico, ele começou uma conversa com os donos dos cinco lugares.

- Sei que parece inoportuno da minha parte, principalmente porque estou chegando agora na escola, mas seria demais pedir para vocês nos liberarem estes lugares? – Antes de esperar pela resposta dos garotos, Vênus já estava se apropriando de sua mesa, jogando sua capa por cima da bolsa e preparando-se para sentar-se. Os alunos astutos tentaram intervir, mas antes que pudessem fazer alguma coisa, Júpiter e Mercúrio já tratavam de arrastar todos pelos braços e os arrancar das mesas. Aquela brutalidade toda dos dois parecia ser aprovada por Vênus, e isso quebrou a maneira dócil com que ele falava. Agora livres, eles tomaram os lugares em suas mesas enquanto os alunos depostos partiram em busca de novos lugares enquanto resmungavam.

- Vênus Baldwin, ahn? – A professora olhou na ficha em sua mesa, e falava com grande surpresa. Tinha em suas mãos o registro dos cinco novos estudantes e parecia interessada demais com as informações sobre eles para ver o pequeno golpe de território que Vênus acabava de dar. – E, Tori Walton, Brianna Deshayes, Cole Hearst e Harlow Corgill... vocês são os alunos transferidos correto?

- Sim senhora, da Manhattan's Empire College. – Vênus respondia por todos os cinco, que agora se acomodavam em suas cadeiras e colocavam suas bolsas em seus devidos lugares. Ao dizer de onde vinham foi o bastante para voltar os murmúrios de surpresa dos outros alunos, e isso deixou Vênus bastante feliz – adorava exibir-se e apresentar uma pampa sobre si mesmo.

- E o que fazem aqui? Pensei que seu colégio fosse o sonho de todos os alunos que buscam um bom futuro e um sucesso inigualável.

Ela havia tocado em uma ferida perigosa de Vênus, mesmo que fosse errado, Júpiter e Mercúrio deram uma risada, cobrindo a boca, Saturno trincou os dentes e olhou para seu líder, já Netuno continuou calada com os olhos oblíquos e maldosos. – Bem, isso não é importante não é mesmo? E mesmo que fosse, não diz respeito a senhora. – Depois de seu depoimento, Vênus fechou a cara para a professora, Senhora Schueller, que antes tinha a empatia do jovem, agora só o seu desgosto. Com o novo estopim criado por Vênus, a sala voltou a corja com murmúrios e comentários sobre sua língua afiada e sua origem privilegiada.

A professora piscou incrédula e voltou a dar sua aula, ou pelo menos tentou. A sala aos poucos foi ficando cada vez mais barulhenta e os alunos passaram a andar por entre as mesmas, rindo alto ou jogando papéis e lápis uns contra os outros. Vênus olhou por cima dos ombros e arqueou a sobrancelha para o grupo de amigos. Os quatro olhavam entre si e para a professora também, aquela baderna começava a ficar cada vez mais feroz e, mesmo que Vênus já não tivesse empatia com a professora, aquilo realmente o estava irritando. A salvação de Vênus foi quando ouviu o sinal tilintar no pátio – a aula havia acabado. Ele estava prestes a se erguer e trocar de sala como de costume, quando foi interrompido pela senhora Schueller, que também se preparava para sair da sala.

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