METROPOLITAN

Fim de semana no divã, e festas do passado.

- Isso é ridículo, já fiz isso outras vezes e nunca funcionou, desista.

Vênus estava deitado no divã de couro vermelho na sala da doutora Martin, uma sala bastante exuberante por sinal, com paredes altas e janelas enormes, muitos quadros e livros de psicólogos e filósofos muito renomados, alguns vasos de planta e uma grande poltrona de cachemir vermelho com arabescos e detalhes azuis e violetas. A sala da psicóloga ao menos era no Upper East Side, pensou Vênus. Ele estava em seu quarto dia de consulta, todo dia após a aula ele ia para lá e agora tinha que ir no fim de semana também, tudo culpa de Júpiter.

- Mesmo que seja ridículo, temos que fazer isso. É necessário, seus problemas de bulimia não podem prolongar-se por mais tempo.

- E o que você vai fazer? Me dar para uma família nova? Se puder, aceito os Grimaldi com grande louvor.

- Nada disso, o problema não é sua família, é entender o motivo de você passar por isso, e como isso alavancou os problemas em sua vida.

- Olha minha filha, eu já respondi, o problema é minha família.

- Então a culpa é deles o que você fez no ano passado? – Vênus sentou-se, fechou a cara na mesma hora.

- Quem te contou sobre isso?

- Sua mãe, mas eu não vou considerar isso até que você me conte o que realmente aconteceu.

A doutora Linda Martin era uma mulher alta e muito magra, de seios fartos e cabelos louros. Usava uma roupa clássica de seda azul e verde, uma saia que ia até os joelhos e um terno com caimento feminino, os pés eram ocupados por saltos agulha vermelhos, um par de brincos e algumas joias como anéis e pulseiras bastante simples. Vênus a encarou por alguns segundos e novamente deitou-se no divã.

- Quem sabe no futuro, quando eu ver que isso aqui realmente tá valendo a pena, não é mesmo?

- Então por que não começa me contando sobre as coisas que aconteceram com você, antes disso tudo?

Vênus ponderou alguns segundos enquanto mexia nos dedos e então resolveu falar, soltando o ar dos pulmões e começando sua narrativa.

- No começo do mês passado, em agosto, foi meu aniversário. E por causa do castigo tive que ficar preso em casa, Júpiter, Netuno, Saturno e Mercúrio ficaram comigo, Jaqueline também, e até meus pais, mas só por algumas horas. Mas sabe, no ano passado, foi algo realmente incrível... a melhor de todas na verdade.

E realmente foi. No dia primeiro de agosto de 2014, Vênus acordava mais um dia feliz de sua vida, não precisava que Jaqueline o tirasse da cama, pois ele estava muito animado para aquele dia em especial. Ele saiu da cama e vestiu seu melhor robe de camurça, foi até a porta do outro lado de seu quarto e entrou em seu banheiro. O banheiro era ladrilhado com pedras bonitas, o piso em um tom creme e o teto com pinturas, assim como a Capela Sistina, havia um grande balcão que cobria toda uma parede com duas pias e muitos armários abaixo delas, um espelho magnifico com lâmpadas em seu adorno – assim como espelhos de camarim – havia também um box de vidro esverdeado com uma ducha para banhos breves, mas na outra extremidade do banheiro estava o amor de Vênus por aquele lugar, sua concha, uma grande e majestosa banheira de porcelana ao lado da janela, onde ele poderia tomar banho e apreciar a vista de Nova York. A água já estava pronta para seu dia especial, ele arrancou o robe e mergulhou os pés na água morna cheia de espumas, antes de afundar ele banhou o rosto com um creme cor de caramelo e depois desceu na banheira até que só sua cabeça ficasse para fora.