Capítulo terceiro - Ataques

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Ah saudade, de quando tínhamos tanto tempo que parecia não haver tempo!

Henrique sempre foi ousado, desde pequeno. Gostava de sonhar alto, de pensar além do céu, de romper barreiras, de partir limites. Aquele Galpão estava longe de ser pequeno para a Lumnis mas sua ambição o obrigava a buscar algo mais poderoso para sacia-la. Para ele, estava na cara que toda essa história de nova sede da luz tinha sido um sinal. Um sinal que era hora de botar em prática sua ambição, sua ousadia.
Ao longo da semana Henrique pesquisou por locais abandonados que poderiam servir de nova sede, sempre acompanhado de Artur. Em um momento porém Artur decidiu dar a Henrique uma opinião:
- A luz não deve ficar pra sempre em baixo dos panos! Acho que um bom meio de começar essa apresentação à sociedade é agora, desbravar um local que seja mais exposto. Deixe que nos conheçam, mas sem revelar o que somos.
Aquela opinião foi essencial. Era a faísca que faltava para a dinamite hipotética de Henrique explodir.
- Nós vamos invadir o palácio central!
- Muito boa essa - respondeu, rindo.
- Não, eu estou falando sério! - reafirmou Henrique.
- Você deve estar ficando louco. Eu não deveria ter falado nada!
- Deveria sim! Confie em mim, esse será nosso começo!
Artur ficou assustado com tudo aquilo que disse Henrique. A sua convicção realmente convencia de que ele o faria. Ou melhor, que a luz o faria, e isso incluía Artur. Por isso seu espanto.
Voltaram para suas casas e, como sempre, seguiram a semana normalmente. Henrique ainda usou o tempo livre para ler o livro de possibilidades. No futuro você entenderá por que!
Chegada quinta feira, reunião da Lumnis, e como característico o número de pessoas aumentou. Eram agora duzentas e dezessete pessoas. Todo o traje pronto, Artur desejou sorte a Henrique antes do abrir das cortinas.
- Boa noite homens, sejam bem vindos à reunião da luz. Hoje tenho que anunciar algo de extrema importância para nós: Iremos mudar de sede.
Foi uma surpresa, nem mesmo os sectas sabiam. Apenas Artur. Henrique prosseguiu, quase como a silenciar os cochichos que se iniciavam:
- Digo além... Vós confiais em minhas palavras?
(Silêncio)
- Vós confiais em minhas palavras??
- Confiamos - responderam em coro imperfeito.
- Então eis de me ouvir: Faremos de nossa sede o Palácio Central!
Houve então um espanto geral, muitos paralisaram-se ao ouvir aquilo. Cerca de 40 segundos de total silêncio. Era algo inacreditável: em um salão com duzentas e dezessete pessoas não houve uma que não se espantasse com a ordem dada pelo lidros. Voltou a falar então Henrique:
- Quem deseja se poupar de tal dificuldade ou tem medo de enfrentar o mundo pela certeza de um novo mundo melhor pode se retirar por aquela porta e nunca mais voltar. Esse irá deixar de ser um ser "di-paz".
Nesse momento, cerca de quarenta e cinco pessoas se retiraram dalí. Henrique porém, não parecia preocupado com a cena. Sua face revelava total desapego com o número de membros que haviam na luz. Preferia que somente os obedientes alí ficassem.
- Em vez de organizarmos uma próxima reunião, na próxima quinta feira estaremos lá, na porta do Palácio Central. Todos nós devemos dar as mãos e rezar. E o resto meu pai fará. Boa noite a todos, até a próxima quinta.
Henrique se encaminhou para trás das cortinas onde os sectas o esperavam.
- Não sei bem se são obedientes, mas sei que o pai me pediu que fosse assim, assim será!
Houve então a janta dos sectas. É claramente explicável por que todos os sectas pediram proteção e sabedoria a eles. Estavam um pouco divididos se deviam ou não fazer a "invasão" e um pouco com medo por culpa de manifestações passadas em frente ao Palácio Central que sempre acabavam por morte ou por humilhação pública e nunca chegavam a lugar algum. Após a janta Henrique disse a todos que não deveriam sentir-se com medo, nem divididos. - A luz é perfeita assim como o pai e tudo o que for pedido por ele terá com certeza o apoio dele.
Passou mais uma semana, voando, como todas as outras. As notas de Henrique começaram a baixar e seus pais foram notificados. Henrique não queria falar sobre a Lumnis pra eles ainda. Decidiu pedir perdão a eles e dizer que tentaria normalizar suas notas. Então, ao chegar quarta Henrique disse aos pais que iria viajar com amigos, para o litoral, perto da capital. Seus pais, lembrando-o de suas notas baixas o negaram o pedido. Henrique já rinha 19 anos, mas por viver com os pais ele não tinha permissão para fazer algumas coisas que seus pais achassem que ele não deveria. Ele chegou a conclusão de que estava na hora de partir, pegou suas economias, deu boa noite aos seus pais e no outro dia (quinta feira), a caminho dos estudos ele pegou o ônibus para Baycotz, a capital. Ficava no litoral. Muitos lumnistas moravam lá, que não era muito distante, e por isso tinham facilidade para visitar a sede da luz nas quintas. Ao chegar a tarde Henrique foi até o local combinado com todos. A praça em frente ao Palácio Central. Logo quem passava por alí notava a grande movimentação de pessoas, todos de preto. Esperaram então a chegada das 19:32(7:32p.m.) e iniciaram as orações. Era uma única oração de origem bíblica, ensinada por um antigo messias. Todos daquele tempo o chamavam de Jesus Cristo. Hoje só ouvimos chamá-lo de filho de Deus. Quem por alí passava, por impressão ou devoção, se ajoelhava junto a eles e orava junto. Passaram cerca de 20 minutos sem que nada acontecesse.
- O que deveria acontecer? - pergunta um inconveniente rapaz
- Somos da luz. Quando as 20:00(8:00p.m.) horas fecharem será o momento em que os políticos corruptos cairão por terra e toda a glória da luz se derramará por cima da nação, que vai honrar a Deus para todo sempre. - disse Henrique.
O rapaz, mesmo sem entender seguiu rezando com todos.
Foram mais sete longos minutos até que, faltando um minuto, Henrique se levantou e disse:
- Continuem, porque já sinto o cheiro deles tocando o chão.
Todos continuaram. Henrique admirou o relógio atentamente até que, às 20(8p.m.) em ponto um som de vidros quebrando. Todos olharam para cima. Na altura do sétimo andar vinham caindo homens engravatados com suas maletas como se não resistissem a queda. Caíam de braços e pernas fixos ao corpo, sem pânico. Quem entrava em pânico era quem não pertencia a luz que alí estava. Todos os líderes políticos estavam alí, caídos na calçada, alguns morreram na hora, outros ficaram com danos irreversíveis, alguns viveram mais algum tempo até seu destino se completar. Henrique chorou, não sabia o que iria acontecer então não imaginava ver tanta desgraça. Pensava ter mais paz, com os políticos se entregando, deitando na calçada ao sair do palácio para se entregar. Mesmo assim, seguiu o que deveria ser feito. Subiu para o último andar e gritou a todos os Lumnistas que agora a capital era deles. As lágrimas se misturavam com sorrisos. Era o início do poder da luz. Na mesma noite ele decretou a polícia local que era o novo poder alí, que essa terra seria dele. Sem explicação, todos os lideres militares com quem ele conversava se convertiam para o lumnismo com uma hora e pouco mais de conversa. Todos alí simpatizavam com ele. Era o melhor líder que poderia existir, contra qualquer tipo de violência, injustiça, corrupção, escravidão ou preconceito. Lá pelo quarto dia na nova sede e em sua nova cidade ele recebeu uma ligação. Seus pais estavam a sua procura. Preocupados com seu sumiço. Ele pensou em voltar mas isso tornaria a capital frágil a qualquer ataque. Pelo mesmo motivo não queria seus pais alí. Seria perigoso para eles. Então decidiu que iria aguardar mais um tempo para dar notícias.
Com toda a facilidade para fazer reuniões agora que tinha sua base pública, resolveu aumentar o número de reuniões por semana. Agora seria uma reunião na terça feira e outra na quinta feira. Logo na primeira terça feira, estava ansioso para fazer sua primeira reunião na nova sede quando vieram os sectas conversar com ele.
- Durante o protesto da invasão seu rosto foi revelado, não foi mestre?
- Sim, foi. Pretendia revelar meu tosto uma hora ou outra.
- Acontece que, quando dominamos a capital e estabelecemos uma relação com os militares os vizinhos começaram a lutar com as armas que tinham. Provavelmente algum espião viu seu rosto no protesto. Logo ele foi buscar in...
-Para de enrolar. Deixa que eu falo. Mestre, descobriram sua família. Eles iram mata-los se não renunciares o poder.
- O que? Mas como? C...como isso ppode acontecer c...comigo? Meus pais? Não! Não! Isso não pode acontecer!
Henrique estava sentindo na pele, ou melhor, no coração, o início do gosto do poder. Embora sua família fosse muito importante para ele, a profecia era tudo o que importara nos últimos meses. Não havia dúvida que ele se importara mais com a luz que com sua família. Seria o momento de parar? O fim da luz? Iria sacrificar todo seu crescimento por sua família? Qual era o preço da luz? E de sua família?

Não pense muito nisso agora pequeno,
Pode atrapalhar seu sono!
Durma bem, esteja com a luz,
Eu continuarei em breve!

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⏰ Última atualização: Jan 05, 2018 ⏰

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