Capítulo 5 - As janelas de Amelie

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Do outro lado da cidade, 7 horas atrás, Amelie conversava com seu marido enquanto estavam na cama, hábito comum entre os dois que nunca foram de dormir cedo, silenciosos para não acordar a menina que dormia tranquilamente em seu quarto ao lado, uma conversa regada de muitos risos, carícias, lembranças, brincadeiras e alguns beijos, os assuntos fluíam naturalmente como qualquer casal normal.

---Você me falou que Annie estará casada e ainda não terá saído da cadeira de rodas, não gosto quando fala desse jeito.

---É, eu sei, mas cada dia em que eu saio pra clínica nessa cadeira de rodas, perco as esperanças de um dia voltar a andar de novo--- Disse Jean, colocando o edredom sobre as pernas

---Eu entendo que é difícil pra você, é um processo lento, a médica mesma falou

Jean respira fundo

---Amelie, eu nunca mais serei o mesmo de antes, entenda isso de uma vez por todas, nem prazer eu posso lhe dar por completo

---Ora...não diga isso.... É claro que você pode

---Viu como você relutou em dizer? É óbvio

Ao ver como seu marido ficou decepcionado, Amelie lamentava-se ao lembrar do acidente que o deixou paraplégico, assim como os problemas que esta tragédia trouxe aos dois.

O sentimento de culpa vem em minha mente toda vez que vejo Jean nessa cadeira de rodas, no dia do acidente ele e eu brigamos então saiu com a moto por estar com raiva de mim, foi então que um carro o pegou em cheio em um cruzamento, quando recebi a ligação, o chão se abriu sob meus pés, eu não tive coragem de dar um passo, imaginava-o nas piores condições possíveis, quando cheguei até o local do acidente, Jean já estava imobilizado, a pancada foi tão forte que o lançou a muitos metros da batida, ele estava consciente o tempo inteiro, os paramédicos diziam que ele estava bem porém ia passar por uma série de exames, fui junto com ele na viagem, acalmando-o o máximo que eu podia, e tentando não me desesperar quando me dizia que não estava sentindo as pernas, segurei em suã mão o tempo inteiro, não saí do seu lado, como uma boa esposa faria. Quando chegamos ao hospital, os paramédicos o colocaram na maca levando diretamente para fazer exames. Jean ficou meses no hospital, todos os exames que fez foram sem bons resultados, alfinetes, canetas, água, nada sentia de sua cintura para baixo, mesmo após 4 cirurgias, Annie ainda era muito pequena, pouco compreendia a dor que estávamos passando.

Amelie acaricia o rosto de seu marido que ainda parece chateado, aproxima-se de sua orelha, mordendo-a delicadamente, Jean se contorce

---É claro que você me dá prazer, amor--- Dizia Amelie com um tom suave na voz

---Assim....não é justo--- falava pausadamente

Amelie passa suavemente a mão pelo corpo de seu marido, ela o beija no pescoço, e sobe até que alcance seus lábios, Jean vira o rosto e a encara, ela sobe sobre seu peito, deitando-se sobre seu corpo e beijando-o enquanto seus cabelos o cobrem a cabeça.

---Quem disse que você não me excita? hein? ---Disse Amelie, com uma voz sensual

Jean, encara sua esposa por mais alguns segundos e a joga do lado da cama

---Não!

---O que foi, amor?

---Eu não estou bem hoje, desculpe--- Ele se cobre, fecha os olhos e desliga o abajur rapidamente

---É isso o que tem pra me dizer? Que não está bem? Vou ficar aqui sozinha agora, mas que merda hein

---Durma, você está muito nervosa

Amelie aperta os lábios com raiva

---......Você está sendo um grande filho da puta!

---Amelie!

O amor que o tempo me trouxeWhere stories live. Discover now