Capítulo 1 - 19 de Janeiro de 2017

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02:34.

Bufei frustrado com a constatação de terem se passado somente 20 minutos desde a última vez que olhei para o relógio. Minha inquietação não me deixava dormir e para piorar os minutos pareciam levar uma eternidade para passar. Passei a mão pelos meus cabelos e rolei na cama, deitando-me de cabeça para cima esperando que assim, eu conseguisse dormir. Encarei o teto esperando que o sono me alcançasse, mas infelizmente, nem a minha posição favorita estava fazendo a estranha sensação do nervosismo desaparecer.

Era a minha primeira noite em casa após ter passado quase um mês em Londres para conhecer os pais da minha namorada, Gabrielle.

Quer dizer, ex namorada.

Terminei com ela ontem de manhã após passar quase um mês dentro da sua casa, em sua terra natal, com seus pais falando em casamento a cada cinco minutos e suas tias querendo me agarrar, chamando-me de pedaço de mau caminho. Na primeira semana tudo que eu fazia era me esconder das tias loucas e tentar parecer que não estava surtando com a ideia de me casar com 21 anos de idade que o pai dela insistia em falar. Na segunda semana comecei a refletir sobre o que estava fazendo com a minha vida e o porquê de eu estar naquela casa sendo que deveria estar na minha casa com ela ao meu lado. Na terceira semana me dei conta de que não era Gabrielle quem eu amava e tomei a decisão de terminar tudo.

Gabrielle ficou furiosa com minha decisão repentina e seus parentes me expulsaram de lá a tiros (acredite, alguns tiros foram disparados). Eu poderia ter ficado nervoso ou com medo da morte, mas tudo que pude pensar era que estava fazendo a coisa certa. Não que eu não gostasse de Gabrielle, não era isso. Ela era um amor de pessoa e eu realmente me sentia feliz ao seu lado.

Mas ela não era a pessoa que eu amava.

E eu precisei partir para longe da pessoa que amo para me dar conta disso. Precisei de um mês para ver o quão estúpido eu vinha sendo durante todos esses anos e agora eu estava disposto a consertar as coisas. Estava disposto a colocar tudo como deveria ser.

Por isso, a primeira coisa que farei assim que o relógio marcar nove horas da manhã, será correr até a casa de Rebecca e a contar sobre o meu amor de longa data por ela.

Não nos falávamos há um mês, mas eu não me importava, qualquer motivo que ela tivesse para não responder minhas ligações e mensagens ao longo desse tempo eram insignificantes se comparadas a declaração que eu a faria. Sorri ao lembrar de seu sorriso e me virei para olhar o porta-retrato em cima da minha mesinha de cabeceira. Minha versão mais nova naquela foto me encarava sorrindo e ao meu lado, uma Rebecca mais nova, com grandes bochechas e aparelho nos dentes me encarava timidamente. Seus olhos que tanto me fascinavam, estavam mais cinzas do que nunca.

Céus, como pude ser tão cego durante todo esse tempo?

Lembro-me perfeitamente do dia que tiramos aquela foto.

Era o último dia de aula do primeiro ano do ensino médio e estava tendo uma festa de confraternização entre os alunos para comemorar o início das férias. Todos já estavam muito bêbados mesmo que isso fosse proibido dentro do colégio. Claire já tinha bebido tanto que estava até beijando as paredes. Rebecca não era de beber, então resolvi acompanha-la no refrigerante para não deixa-la sozinha no meio de um mar de loucos.

Nós conversávamos e riamos e eu me lembro perfeitamente como era fácil faze-la rir mesmo que ela não gostasse, pois, rindo mostrava o aparelho nos dentes. Eu nunca me importei com os comentários que a rondavam quando nos conhecemos nos primeiros meses de aula. A turma a achava estranha e desajeitada, mas eu e Claire não nos importamos e rapidamente nos tornamos amigos.

Na época, eu não entendia como poderiam chamar alguém tão adorável de estranha ou desajeitada. E agora olhando essa foto, eu entendo por que eu a elogiava enquanto todos a colocavam para baixo.

Nunca pensei que fosse vocêWhere stories live. Discover now