Capítulo 4

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Um mês se passou – que parece ter durado um ano –, e mal falei com qualquer um dos três. Não por falta de tentativa deles, mas eu não estava com saco para joguinhos depois do que aconteceu na festa.

Eu não conseguia esquecer o que havia acontecido. Nem mesmo a preocupação com os resultados dos cinco vestibulares que prestei foi capaz de tirar o sabor da boca de Andy de mim. Tentei, de todas maneiras possíveis, me ocupar para esquecer. Mas cadê que eu consegui?

Droga, fiz de tudo e nadinha daquela maldita pegada me abandonar. Caramba! Não quero assumir, mas meio que fico sem fôlego toda vez que me lembro de seus braços em volta de mim. Devo ter pirado de vez, só pode ser isso, minha gente, me coloquem em uma camisa de força! E para piorar, Andy, dentre todos os três, foi o que mais me perturbou com mensagens e ligações. Eu juro que tentava não dar atenção a ele, mas às vezes era impossível não ceder à tentação de ouvir sua voz. Tudo corria bem, desde que ele não mencionasse nada sobre aqueles beijos...

Se já não bastasse essa porcaria de preocupação, ainda tinha a ansiedade pelos resultados do vestibular se misturando a isso. Eu não mereço, de verdade!

Todo mundo achou sem noção a minha primeira escolha: jornalismo. Minha família, meus amigos e principalmente meus professores me olharam como se eu fosse um ET. Afinal, segundo eles, eu era um dos caras mais fodões do time de futebol da escola. Mas acho que escolher essa carreira foi a minha primeira decisão madura, sem ajuda de ninguém. Sentia que sendo repórter poderia fazer algo realmente importante, não só para mim, mas para todos.

Estou muito ansioso, pois os resultados serão divulgados essa semana e eu não aguento mais esta maldita ansiedade que cresce dentro de mim. É algo a mais que eu ainda não sei controlar nesta bagunça que virou a minha vida no último mês. Preciso me ocupar com alguma coisa para essa angústia proporcionada pela ansiedade me dar um pouco de sossego.

Olho à minha volta. O quarto está uma bagunça, os livros estão fora do lugar e eu nem mesmo sei em qual canto fica cada coisa. Eu odeio isso, gosto de meus livros todos arrumados de acordo com o gênero ao qual eles pertencem. Deve ser mania de sagitariano, eu acho. É com isso que decido me ocupar naquele instante. Unir o útil ao agradável é sempre uma boa escolha.

Ligo o computador. Uma foto minha com meus amigos, na areia da praia, estampa o fundo da tela. Bons tempos... Dou uma rápida olhada na minha caixa de entrada dos e-mails e vejo que não recebi nada de importante. Faço a playlist do dia, que será um pouco mais agressiva do que animada, com bandas como Bring Me The Horizon, Alesana, Blessthefall e Underoath. Assim que ligo o som, a gritaria invade o ambiente rapidamente, criando uma atmosfera barulhenta e caótica dentro de meu quarto.

As pessoas sempre me questionaram se era normal um jogador de futebol também ser um viciado em literatura. Acho que esses babacas pensam que só porque eu jogo bola sou um retardado que não sabe fazer nada além disso. Que se danem!

Tenho tantos livros que ao espalhá-los no chão e na cama, mal consigo me movimentar pelo quarto. Vários deles carregam lembranças que jamais quero esquecer, sentimentos únicos e lições valiosas. Alguns até mesmo me lembram de momentos difíceis, momentos em que eles foram os únicos a me ajudar. Sim, ser um garoto jogador de futebol também não significa que eu seja um trouxa com coração de pedra.

Perco umas boas três horas arrumando o quarto, até que minha mãe, histérica, praticamente derruba a minha porta com batidas e gritos. Ela, quando quer, consegue ter a delicadeza de um elefante enfurecido. Clico no mute bem no meio da minha música favorita e corro em direção à porta.

Imperfeito (Romance Gay) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora