Capítulo 01

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Annabel

Parei para respirar quando os gritos ficaram distantes. Não conseguia ver o rosto dos seres que arrastavam Aideen para a escuridão do bosque, porém, ouvia seu desespero com aflição. Voltei a correr em sua direção, porém, a cada passada dada, a distância aumentava mais. Quando estava prestes a sucumbir em desespero, senti a terra tremer e uma enorme cratera se abriu à minha frente. Tentei voltar para não ser tragada, mas uma mão enorme agarrou minha cintura me fazendo gritar. Na medida em que eu ia afundando no buraco, que estava iluminado por fogo, a figura medonha de um demônio se ergueu revelando olhos vermelhos flamejantes. Eles transpareciam toda a raiva e ódio que emanava de sua alma negra. Debati-me tentando me soltar, mas foi em vão, pois, fui sendo puxada para dentro das profundezas da Terra. Fora minutos de desespero e de gritos que pareciam não ecoar pelo ar. Meu medo era tanto que desmaiei ante a gargalhada medonha e a escuridão que se fechou a minha volta.

Um barulho me fez saltar do chão onde estava adormecida. Com a besta engatilhada nas mãos, olhei em volta assustada, aguardando quem quer que fosse que saísse de algum lugar por detrás das árvores. O bosque em que eu estava era conhecido por mim desde minha infância e não havia como alguém ter me seguido, a menos é claro, que conhecesse as trilhas. Respirando fundo, baixei a besta ao constatar que o barulho era, na verdade, galhos de árvore secos que, o cavalo que eu roubara, tinha quebrado com suas patas. Fazendo uma careta para ele eu me aproximei para afagar suas orelhas. Ele me olhou como se pedisse perdão e então voltou a pastar.

— Você é um bom menino. – disse balançando a cabeça e sorrindo.

No momento de minha fuga, tudo o que pude pensar foi em saltar sobre o lombo do primeiro cavalo que vi e sair a galope para dentro do bosque. Por sorte o animal pertencia a um batedor, pois, além da besta, havia uma bainha com uma espada sobressalente e um alforje com suprimentos. Dentre eles, um cobertor que eu usara para descansar recostada em uma das árvores. Felizmente minha irmã Aila teve tempo de me ensinar a sobreviver na mata ou em qualquer lugar que eu estivesse. Aos dezesseis anos, eu já era uma perfeita arqueira. Eu não gostava de viver como um pássaro e odiava a condição em que minha mãe colocara Aideen, por isso, decidi buscar inúmeras formas de tentar libertá-la. Saia todos os dias escondida para aprender os caminhos que esse bosque poderia me levar. Eu sabia que se me casasse com Alistair, Aideen morreria em pouco tempo, trancada em uma masmorra, já que a ideia de mantê-la no quarto fora minha. Graças a Deus ela estava casada e sendo muito bem cuidada. Poderia não parecer, mas ela sempre foi a mais frágil de nós.

Abaixei-me para dobrar o cobertor e apertei a capa com força em volta do corpo. A noite estava fria e eu não podia acender uma fogueira para não atrair atenção. Revisando o alforje, descobri que havia um odre de pele de carneiro. Caminhando até a margem do rio, onde decidi me manter até chegar aos limites de Inverness e encontrar a estrada para Dunhill, enchi o odre. Cedo ou tarde eu teria de sair do bosque para seguir pela estrada, por isso, estava há dias tentando despistar os soldados enviados por minha mãe. Apesar de estar muito cansada decidi retomar a viagem. Prendi o alforje de flechas em minha cintura e atravessei o arco, que roubei de um cavaleiro, no meu peito por segurança. Desamarrando as rédeas da árvore, montei no cavalo e então voltei para trilha ao longo do rio. Mal tinha começado a cavalgar, quando ouvi o relinchar de outros cavalos. Olhando para trás vi o brilho de tochas e alguns soldados armados se aproximavam.

— Maldição! – sussurrei entre os dentes. – Como foi que eles me encontraram?

Aquela tinha sido a segunda vez que soldados conseguiram me localizar. Eu já me sentia frustrada. Tinha certeza de que aquilo era impossível, mas estava ficando cada vez mais difícil tirá-los de meu caminho. Sem ter tempo para pensar, simplesmente coloquei o cavalo em disparada e recomecei minha fuga. Olhando para trás, notei que estava sendo seguida por soldados ingleses. O que eles faziam na Escócia? Será que Roy conseguira se aliar ao rei Phillipe? Aquilo não seria possível, já que, ouvi dizer que Alistair tomara cuidado para que nenhuma carta ou mensageiro chegasse a Inglaterra.

Trilogia Irmãs MacBride - Livro 02 - A Duquesa (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora