Capítulo 10

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Bruce

Sentado em um dos bancos da varanda da estalagem, observei a alegria das pessoas durante uma dança em volta da fogueira. Algumas dançavam na porta da taberna aproveitando a música que vinha de fora e se misturava com a de dentro. Tudo havia sido montado ao ar livre no meio do vilarejo e bem em frente à estalagem. Havia um grupo que tocava de forma animada as músicas típicas da Escócia. Levei a caneca até a boca para sorver um gole da cerveja que tinha ganhado do dono da taberna. Ele conhecera meu pai quando eu era bem pequeno e disse ter me reconhecido assim que pisei no vilarejo. Dissera ter ficado surpreso com minha chegada e tentou amenizar os comentários de algumas pessoas que não confiavam no Cavaleiro Negro. Os olhares de alguns habitantes ainda eram hostis, desconfiados ou cheios de medo. Eu já me acostumara com aqueles olhares, visto que criara aquele personagem feroz e implacável para os campos de batalha, mas nunca pensei que teria uma fama entre os aldeões e que ela seria tão ruim. Sendo o guerreiro que eu era, não me importava com esses detalhes. Até agora!

Tinha passado o dia todo ajudando no que podia e me sentindo útil de uma forma reconfortante. Há meses não via uma festa como aquela, pois, para um chefe da guarda engajado em uma luta, não havia muito tempo sobrando para diversões. Exceto nos bordéis ou tabernas onde podia beber na companhia de belas moças. Há muito tempo minha mente vivia ocupada com estratégias de batalha e vingança. Todo o clã MacCalister desejava a cabeça de Roy mais do que todo o povo que habitava as Highlands e alguns aliados. Havia motivos óbvios para tanto ódio e cresci em meio a ele. Por isso, estar em meio a pessoas tão alegres e alheias, era, ao mesmo tempo, reconfortante e estranho. Olhando em volta, não parecia que havia tropas sitiadas em torno de Edimburgo, traçando estratégias para entrar na fortaleza. Havia também pequenas tropas sitiadas ao longo da fronteira, cuidando para que nenhum traidor atacasse Dunhill e tentasse matar Aideen. Tudo, naquele momento, inspirava ou transpirava paz e alegria. Uma paz que há muito eu tinha esquecido ou renegado.

Ergui a caneca de cerveja em mais um brinde coletivo com os que cantavam. Meu olhar atravessou a multidão parando na direção de uma bela loira. Ela estava de costas para mim e se preparava para atirar uma flecha contra um alvo. O vestido de cor suave não escondia as suas curvas e sua postura perfeita mostrava que ela sabia o que fazia. Os cabelos prateados estavam presos em uma longa e grossa trança que chegava a sua cintura fina. Não precisava de muito para saber que aquela era Annabel. Ela inspirava delicadeza e selvageria ao mesmo tempo, por isso, me lembrei da manhã em que nos conhecemos. Quando saltei sobre o cavalo, não fazia ideia de que aquele anjo havia premeditado e ajudado na fuga de Aideen. Logo descobri que por de trás daqueles belos olhos brilhantes, havia um demônio escondido e ele vinha me atormentando desde o momento em que pus meus olhos em Annabel.

Prendi a respiração quando um sujeito saiu da taberna e caminhou em direção a ela. Fui acompanhando com o olhar e me levantei devagar. Havia algo no olhar dele que não me deixou satisfeito ou confortável, por isso, deixando a caneca de lado, desci as escadas sem tirar meus olhos do homem e fui caminhando até Annabel. Ele parou às suas costas e disse algo em seu ouvido. Isso foi o suficiente para que ela perdesse o foco e suas mãos escorregassem fazendo com que o arco caísse. A corda foi solta no momento errado batendo contra a mão que o segurava, sem que ela esperasse. Annabel gritou com a dor e soltou o arco no chão. O homem riu enquanto ela segurava o punho. Sabia bem o quão doía aquele baque, pois, por muitas vezes, soltei a corda no momento errado quando começava a aprender a usar a arma.

— Deixe-me ver! – pedi pegando sua mão com delicadeza. – Vamos precisar de um pouco de água fria.

— Não! Não toque! – ela implorou encolhendo a mão e tentando puxá-la, mas eu segurava seu pulso com firmeza. – Está doendo muito!

Havia uma linha vermelha marcando a base de sua mão e o polegar. Annabel chorava por causa da dor que sentia.

— Você está bem? – perguntou o homem quando a viu começar a chorar.

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⏰ Última atualização: Apr 03, 2020 ⏰

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