Trilogia Irmãs MacBride - Livro 02 - A Duquesa (Degustação)

Capítulo 06

Bruce

Dois dias depois...

Respirei fundo quando senti uma dor aguda rasgar meu abdome. Ela rodeada minha cintura até as costas na mesma direção. Tentei me mover, mas a dor aumentou. Levei a mão automaticamente onde senti a pontada. Mantive meus olhos fechados com força enquanto rezava para aquela dor passar. Suspirando, fui abrindo gradualmente as pálpebras. Pisquei tentando focar e mirei o teto de madeira.

— Onde? – sussurrei. – Onde estou?

Erguendo-me devagar, consegui sentar recostado na cabeceira. O quarto onde eu estava era espaçoso. Tinha outra cama e uma lareira que estava acesa. Era bem aquecido e me senti confortável. Aquele ambiente era bem diferente de um estábulo, por isso, estranhei de estar ali. Olhei para a cama onde estava sentado e contemplei o cobertor de pelos de cabra que cobria minhas pernas. Passei a mão pelo peito e descobri que vestia uma camisa de linho branco. Ela tinha mangas compridas e uma gola em V. Há muito tempo eu não vestia branco e me senti desconfortável. Puxando a coberta me certifiquei que estava vestindo umas calças, também de linho, porém, essa era negra. Ao menos algo que era do meu gosto. Colocando as pernas para fora da cama com certa dificuldade, pisei no chão de madeira com os pés descalços. Ficando de pé, usei a parede para me escorar e fui caminhando devagar até a janela ampla que havia no quarto. Lá fora uma nevasca caía com ventos não muito fortes, mas perigosos. Notei que estava no mesmo vilarejo em que cheguei à noite anterior. Imediatamente me lembrei do ocorrido antes de perder os sentidos. Annabel retirando a flecha do meu abdome; um homem enorme me segurando; uma dor insuportável que jamais havia sentido antes e o rosto de Cora em meus sonhos. Há muito tempo não sonhava com ela e tinha sido tão real que parecia que minha prima estivera ao meu lado durante toda a noite.

Desviando olhar da janela, olhei ao redor. Não havia sinal de Annabel em parte alguma. Notei o biombo com uma toalha pendurada. Havia um espelho de pé entre o biombo e uma penteadeira. Fui caminhando até ele, que ficava no lado oposto do quarto, bem em frente à outra cama. Senti um cheiro de rosas quando passei pela toalha pendurada. Não sei por que, mas puxei o tecido e trouxe ao nariz. Fechei os olhos ao imaginar a maciez da pele que aquela toalha havia tocado. Logo vislumbrei Annabel se banhando. Grunhi pendurando a toalha novamente no lugar. Não tinha tempo para pensamentos como aquele e muito menos para uma mulher. Principalmente, uma como Annabel. Mimada, cheia de vontades, atrevida... Enumerei os defeitos dela mentalmente enquanto voltava minha atenção para o espelho. Ter raiva dela me impedia de pensar em quão bela ela era. Seus cabelos, cor de prata, trançados a deixava com um ar de menina. Aqueles olhos azuis eram a perdição e cada vez que ela olhava para mim, tinha vontade de mergulhar neles. Não podia me dar ao luxo de me envolver com a irmã da rainha. Também não era somente isso, havia outros fatores que me impediam.

Respirando fundo, balancei a cabeça de um lado para o outro e ergui a camisa para ver o estrago que a flecha causara. Seria mais uma de muitas cicatrizes em meu corpo, mas a pior delas não ficava a mostra. Havia várias marcas de batalha. A maioria feita por espadas, outras por punhas e adagas. Nunca havia sido alvejado antes, por isso, não tinha noção da dor.

— O que pensa que está fazendo?

A voz de Annabel ecoou pelo quarto me fazendo virar em sua direção. Ela estava vestida com um vestido simples, sem mangas e com o decote quadrado, em tom pastel. Usava um avental amarrado à cintura, sapatilha nos pés e tinha os cabelos presos por um lenço. Carregava uma bandeja, que ela pôs em cima de um aparador.

— Você não deveria estar de pé. – ela disse caminhando em minha direção. – Não sabes que pode cair de repente e bater a cabeça?

— Estou bem! – respondi seco. – Apenas tento entender o que fazemos em um quarto da estalagem, quando disse que deveríamos ficar no estábulo.