Isolamento

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   Todas as rocas foram queimadas em menos de 24 horas. As artesãs e costureiras perderiam seus empregos por um tempo, mas é necessário. Pela segurança e pela vida da princesa, é necessário acabar com tudo que faça a maldição se concretizar.

   É noite e está frio. O rei e a rainha estão nos fundos do castelo com as três fadas. Chorando, Leah entrega a sua preciosa garotinha e a deixa nos braços de Fauna.

— Cuidem bem dela.

— Cuidaremos como se fosse nossa, vossa majestade. — Primavera assegura e sorri com afeto.

— Acho melhor irmos logo para não chamar a atenção. — Flora diz e aponta para a carroça.

— Não permitam que aquele canalha se aproxime dela! — Stefan fala, entredentes.

— Não deixaremos, senhor. Fique tranquilo. — Desta vez, Fauna é quem tranquiliza os dois.

   Na surdina, as três mulheres levam Aurora para o campo, para um lugar seguro e longe de Malévolo.

   E enquanto elas pensam que estão seguras, Mal só sente raiva por observar tudo por meio de um caldeirão. Mesmo em seu globo mágico, a imagem é a mesma: Fadas traidoras, que o apunhalou para que pudessem se tornar as principais fadas reais, levam a futura rainha para morar no campo, longe dele.

— Acham que estão me enganando... — Ri amargurado e cerra os dentes assim que o rostinho da princesa é mostrado.

    Mal poderia se arrepender do que fez, se suas lembranças não fossem suficientes para afastar qualquer coisa...


Dez anos atrás...

   As correntes estão quentes e sua pele parece fritar toda vez que encostam nele. Dimitri grita e raspa as unhas no chão, precisando afastar a dor de suas asas para qualquer outro lugar de seu corpo. Sempre soube que era bom demais para ser verdade. Era uma fada real. Membro da corte e alguém que ajudou o reino por décadas. Fez feitiços e gastou sua energia protegendo as fronteiras da maneira que pode. E agora, está acabado.
   Fauna, Flora e Primavera fingem não olhar e fingem estarem sofrendo com essa visão. Mas, Dimi sabe que a culpa disso é totalmente delas. Por ambição e ganância, mentiram e disseram que ele havia se aliado a reinos inimigos para propor proteção. Falaram que Dimitri estava virando as costas para o seu rei.
— Isso queima, Dimitri? Sabe... Também doeu em mim quando soube da sua traição. — Stefan diz enquanto caminha pela poça de sangue e finge ser a vítima.
   Sem forças, o fada apenas fica em silêncio.
— Trair o próprio reino... Que inacreditável, e eu que pensava que tinha a pessoa mais fiel ao meu lado. Engano meu, engano meu. — Com o rosto livre de emoção, ele apenas sinaliza para que continuem com a tortura. — Por ter feito mal ao seu reino, eu decreto que o seu nome não será mais Dimitri. Agora, você se chamará Malévolo.
   Lentamente, a corrente envolve as asas do homem. E os gritos de dor preenchem a sala.


   Inconscientemente, Mal acaricia onde está sua cicatriz. A dor existe até hoje, dez anos depois do ocorrido. Mesmo assim, há feridas que doem mais do que essa e ser traído é a que mais machuca.
— Tenho dezoito longos anos até que a maldição se cumpra. Dezoito longos anos.
   Pega o seu cajado mágico e sai dali, indo para qualquer lugar longe das imagens.

(543 palavras)

MalevolenteOnde histórias criam vida. Descubra agora