Sabe quando o sorriso não chega aos olhos? É isso o que acontece com a jovem. Seu desanimo é palpável e nenhum dos seus sorrisos foram felizes ou alegres. Os presentes e o bolo parecem tão mínimos agora. Nem mesmo o vestido rosa (e às vezes azul) consegue deixá-la bem.
— O que foi, meu bem? — Fauna começa.
— Não gostou dos presentes? — Flora continua.
— Alguma coisa a chateia? — Primavera finaliza.
Aurora sorri fraco e balança a cabeça em negação.
— Não, está tudo bem. Eu adorei tudo, muito obrigada, tias.
— Você está bem? — Flora indaga, curiosa e preocupada.
Sem conseguir segurar mais dentro de si, a loira resolve dizer, de uma vez por todas:
— Estou apaixonada por alguém.
Ela já esperava uma reação ruim. Só não esperava que ficassem apavoradas, como se o mundo estivesse acabando.
— Como isso aconteceu? — Desta vez, Primavera começa.
— Você falou com um estranho?! — Fauna continua.
— Desobedeceu a nossa única regra? — E Flora finaliza.
Suspirando, a garota se sente péssima pelo trio estar se descabelando e se precipitando.
— Ele é maravilhoso. — Assegura. — Ele é tão bom e... Eu não sei nem o que dizer. Ele é o homem com quem eu gostaria de ficar.
— Por Deus, Aurora! — Flora diz, enquanto anda de um lado para o outro.
— Você já está prometida a alguém, querida. — Primavera lamenta por ela e segura suas mãos delicadas e macias.
— Sim, e o nome dele é-
De repente, alguém bate na porta. O coração da mais nova pula no peito, dança e comemora antes do tempo. Ela se levanta abruptamente da cadeira.
— É ele.
— Você o convidou?! — Primavera arregala os olhos e faz o mesmo.
Correndo, Aurora corre até lá e abre a porta. Sorri largo.
É ele.
— Você me escutou... — Por impulso, ela o abraça. Com força.
— Eu sempre te escuto... — Ele suspira e acaricia os cabelos dourados dela.
As três ficam horrorizadas. E ao mesmo tempo, exclamam:
— Malévolo!
Perdida nos braços do moreno, Aurora só entende o que está acontecendo quando a arrancam dele. Ela se assusta e as olha sem entender.
— Ele é um monstro! — Esbraveja Flora.
— Ele é alguém maligno! — Fala Fauna, protegendo a princesa.
— Ele é detestável! — A última delas complementa.
Aurora fica ainda mais assustada, mas Mal apenas aceita as palavras.
— Aceito tudo o que estão dizendo... Só vim entregar o presente dela. — Mostra uma caixa.
Num ato enraivecido, Primavera pega o presente e joga na lareira. A loira acompanha a trajetória da caixa e sente o peito doer.
— Seu imundo! Como ousa chegar perto dessa criança?
Malévolo limpa a garganta e começa a tentar se explicar, mas duas das tias o empurra para fora.
— Você é um ser das trevas, Malévolo. Volte para o inferno de onde você veio. — Fauna manda, entredentes e com a voz sinistra.
Desesperada e horrorizada, Aurora começa a chorar. Como podem tratá-lo tão mal sem nem ao menos conhecê-lo?
— Parem com isso!
Ao contrário do que pensavam que faria, Mal sorri fraco, mas com ternura para a jovem princesa. Então, se vira e anda para fora. Os gritos dela o atormenta e ele quase volta. Malévolo permite que uma lágrima escorra por sua bochecha.
A maldição é irreversível. E a culpa é toda dele.
A verdade é revelada, após dezoito anos: Aurora é a princesa, filha do rei Stefan e da rainha Leah.
O reencontro com os pais não foi emocionado e tampouco feliz. A jovem não consegue simular aquilo que não sente. Quando a levaram para se vestir para o baile, ela já não se importava mais com vestidos, coroas ou danças.
Ela só queria Mal. Ou Malévolo. Esse nome não combina com o que ele é de verdade. Todos os dias na última semana, enquanto estavam juntos e ele mostrava o que poderia fazer com a sua magia, tudo o que ele fez foi ser amável. Doce. Gentil.
O moreno é tudo o que ela sempre idealizou e agora fora jogado fora. Tudo por causa de um compromisso imbecil com algum Príncipe qualquer. Aurora olha a pulseira de esmeralda em seu pulso, que tanto se assemelha aos olhos dele. É um presente de seus pais, mas parece tão vazio.
Sua visão começa a borrar com as lágrimas e ela deita a cabeça na penteadeira para chorar. Enquanto soluça, seu corpo vai ficando fraco. Como se estivesse sob algum dos encantos do Mal.
Sem que possa controlar, a garota se levanta. Vai atrás de alguma coisa que a atormenta, que a puxa para perto. Há uma porta em seu quarto que se abre e revela uma escada. Ela sobe a escadaria, no automático. No topo da torre, a sala se mostra diferente. Fria. Só há uma coisa no meio dela: Uma roca.
Tão encantada com ela, Aurora apenas se aproxima. Estica o dedo e toca no fuso.
E então, cai adormecida.
(804 palavras)
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Malevolente
Fiksi PenggemarTodos conhecem a história da Bela Adormecida. A princesa Aurora espetou o dedo numa roca e dormiu profundamente, até receber o beijo do amor verdadeiro. Acontece que ninguém conhece a real identidade da pessoa que condenou a pobre jovem a morte...