Malevolente

Maldição

   O nascimento da princesa é o evento mais apreciado pelo reino desde a coroação do rei Stefan. Camponeses, burgueses ou qualquer outro membro da pirâmide social, se unem para comemorar a chegada da futura rainha.

   Hubert, amigo e parceiro político de Stefan, leva o seu filho, Phillip, para cumprimentar o tio e olhar sua futura noiva. É precipitado unir e prometer um casamento com duas crianças, mas quanto antes reforçarem as alianças entre os reinos, melhor será.

   Os membros mais importantes da realeza se aproximam e sorriem para o futuro do país. Afastam-se logo depois e Stefan precisa se levantar para anunciar:

— Agora, entrarão suas madrinhas, as últimas fadas reais: Fauna, Flora e Primavera.

   A multidão bate palma e se maravilha com o show de cores e brilho que o trio faz. As fadas baixinhas se curvam para o público, que as exalta.

— Por aqui, queridas. — Leah, a rainha, sinaliza para o berço de ouro da primogênita.

   As três voam rápido até lá e soltam um "Aah!" ao mesmo tempo. Não sabem dizer o que é mais fofo: seus olhinhos curiosos, suas bochechas rosadas ou o seu cabelinho loiro enrolado. Mesmo agora, elas sabem que a menina será brilhante e adorável no futuro.

— Oh, doce princesa... Meu dom será graça e beleza. — Fauna sorri e gira a varinha, tocando no narizinho dela e a fazendo rir.

— Amada princesa... O meu dom será o dom de cantar. — Flora faz o mesmo que a anterior, mas agora Aurora apenas balança as perninhas.

   Por último, falta Primavera. A fada de azul arregaça as mangas e começa:

— Linda princesa... O meu dom será-

   Mas então, a ventania começa e toma conta do salão. As velas se apagam e o portão se abre, deixando o ambiente carregado e obscuro. O rei levanta-se abruptamente quando escuta aquela risada. E sem ser convidado, ele entra. Assustador, estranho e maligno como sempre foi.

— Ora, ora, ora majestade... Mas que chato não ter recebido um convite. — Diz, enquanto caminha pelo corredor de pessoas assustadas e acaricia o seu corvo.

— Malévolo... — Engole em seco e sente medo pelo que pode acontecer.

— Por favor, Stefan... Poupe as formalidades. Me chame apenas de... Mal. — Ri baixo, mas vai aumentando o volume aos poucos, até virar um risada cruel e sinistra. O feiticeiro desmancha o sorriso e deixa o corvo voar. — Mesmo não tendo recebido o convite, não podia deixar de dar o meu presente para a sua amada princesa.

   As pernas do rei ficam bambas e as três fadas correm do berço, temendo as próprias peles. Mal sorri para cada uma delas, com o seu sorriso mais diabólico. Aproxima-se do bebê e não se abate pela doçura inocente de Aurora. Ele aponta para a testa dela.

— I-Isso não é necessário, senhor...

— Acalme-se, rainha Leah. — Fala, sem olhá-la nos olhos. — Aurora quer saber qual é o meu presente...

— Malévolo, por favor ela é apenas um bebê! — O rei berra.

— Ouçam bem, todos vocês! — Chama a atenção de toda a população e, com a voz séria e grossa, diz: — No seu décimo oitavo aniversário, ela espetará o dedo no fuso de uma roca e morrerá!

   Como o decreto final de suas palavras, Mal bate o cajado mágico no chão e se volta para o seu rei. Com um sorriso sacana e um adeus silencioso, estende o braço para o corvo, que pousa nele. Antes que os guardas o pegue, Malévolo bate o cajado mais uma vez... E desaparece.

— O que faremos, Stefan? — Leah indaga, apavorada e aos prantos, enquanto pega a filha no colo.

— Ainda temos uma fada... Primavera, você pode acabar com a maldição, não pode?! — Ele pergunta, desesperado. Sua coroa até mesmo cai de sua cabeça.

   A mulherzinha suspira e balança a cabeça negativamente.

— Malévolo é poderoso demais, senhor... Não posso anular seu feitiço.

— M-Mas... — Suspira e passa a mão no rosto. — Não há outra solução?

— Bom... — A fada então se aproxima de Aurora. Puxa a varinha e a gira, invocando a magia. — Linda princesa... Se por causa da magia de um feiticeiro cruel você se furar, você não morrerá, apenas adormecerá... E despertará com um beijo de amor verdadeiro.

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