É claro que você vai vencer esse jogo. Na época da escola, por mais que não fosse um aluno exemplar, você era um dos melhores em jogos. Você corre muito rápido e sabe se esconder bem. Assim que as garotas cobrem os olhos, você deixa a sala do piano apressadamente e corre escadas acima, tentando não fazer muito barulho para não se denunciar. Você sente a adrenalina começar a te dar mais energia e entra em vários cômodos. A maioria deles está vazia e os que possuem mobília não são bons para esconder. Você começa a ficar desesperado e pensa em descer as escadas correndo para tentar se esconder em uma das salas lá embaixo, mas sabe que é tarde. As garotas já começaram a te procurar.
Lentamente, um estranho pensamento te ocorre. A palavra pizza vem à sua mente e, com ela, um turbilhão de pensamentos e lembranças importantes que você tinha esquecido completamente por algum motivo. Ao ouvir passos nas escadas, você entra no último cômodo do segundo andar e se esconde atrás de uma pilha enorme de caixas. Você cobre sua boca para que as garotas não te ouçam arfar. E você tenta colocar a cabeça no lugar, começando a ficar apavorado de verdade.
O que eu ainda estou fazendo aqui?, você pensa. Quem são essas garotas estranhas? Por que estou me esquecendo de tudo?
Você olha ao seu redor, em busca de algum tipo de resposta às suas perguntas e derruba uma das caixas empilhadas. Fica intrigado ao identificar que tipo de caixa é: uma caixa de pizza. Assustado, você se vê cercado por pilhas de caixas e mais caixas de pizza, todas da pizzaria onde você trabalha.
E, nesse instante, as garotas te encontram.
No momento em que você as vê, tudo muda e você sorri por elas terem te encontrado. Você está feliz por vê-las de novo e não quer perdê-las de vista nunca mais. No entanto, seu corpo corre. Seu corpo instintivamente corre para longe delas, enquanto você sorri. É divertido, você diz a si mesmo. Mas seu corpo está apavorado e quer tirar você de dentro da casa o mais rápido possível. Você corre em meio as caixas de pizza e elas te perseguem, gargalhando de maneira musical. Elas estão se divertindo e você também - então por que você está com tanto medo de ser apanhado?
Você deixa o cômodo e elas também, seguindo você pelo corredor e escadas até a sala de estar do andar de baixo, onde cercam você. Elas te pegaram e não há como escapar. Lágrimas escorrem por seu rosto, mas você não consegue parar de sorrir para elas, porque são tão lindas...
- Pegamos você! - elas comemoram, tocando suas costas, braços e cabeça ao mesmo tempo.
Vocês todos caem nos sofás e no chão, exaustos e arquejantes de tanto correr pela casa. Foi divertido. Muito divertido. Mas você perdeu e não tem direito ao prêmio que tanto queria. É tão triste.
- Eu não me divirto assim há tanto tempo... - diz uma delas, mas você não sabe quem.
- Eu também não - você concorda.
A garota loira é a primeira a se levantar.
- Vamos jogar outro jogo! - ela cantarola, animada.
- Qual? - pergunta a garota de franja e olhos de raposa.
- Que tal o jogo da comida? - sugere a garota de cabelos longos.
Você também se levanta e vê suas mãos e pernas tremendo, mas não sabe o motivo. Então olha para as garotas.
- Como se joga o jogo da comida? - você pergunta, curioso.
- Venha - a garota loira segura sua mão e te puxa com ela. As outras seguem vocês dois.
Vocês chegam à sala de jantar, que é o cômodo mais mobiliado que você já viu até agora. Sobre a mesa, em seis pratos já colocados em seus lugares, há gelatinas de cor verde que te fazem lembrar de sua infância. Você fica com água na boca.
- Estas - a garota mais linda anuncia - são as regras: assim que o relógio anunciar a meia-noite, quem comer toda a gelatina primeiro vence. Mas só é permitido usar a boca e os olhos devem estar vendados. Tudo bem para você? - ela te encara.
Você nunca ousaria dizer não a ela.
- Claro - você sorri. - Estou pronto.
Cada um assume seu lugar à mesa e a garota de franja coloca uma venda em seus olhos. Você espia por uma fresta para ver se todas elas estão vendadas e confirma que sim. Então se concentra no som do tique-taque do relógio pendurado na parede e, assim que é dada a primeira badalada indicando meia-noite, você começa a comer a gelatina o mais rápido que consegue. Suas mãos seguram a borda da mesa com força e você come o máximo que consegue sem quase nem parar para respirar. Fica enjoado e sabe que perdeu o jogo outra vez - não consegue nem sentir o cheiro da gelatina sem sentir o estômago embrulhar. Você levanta o rosto e tenta ouvir as garotas comendo, mas só há silêncio.
De repente, você sente uma mão puxando seu braço e, espantado, retira a venda. A garota loira está diante de você, com uma expressão apavorada no rosto bonito. Ela até mesmo parece outra pessoa.
- Rápido! - ela sussurra, puxando você pela camisa. - Vou tirar você daqui antes que elas voltem!
- O quê? Por quê? - é a primeira vez que você encontra forças para questionar.
Ela está ansiosa.
- Isso tudo não é o que parece. Você precisa ir embora antes que se machuque!
Você fica assustado, mas acredita nela. Tudo isso está realmente bizarro demais e você pode mesmo estar em perigo. Quando se levanta e segura a mão dela, ela já não é mais a garota loira e sim e garota de franja com olhos de raposa. Você não hesita, embora ache isso estranho. Vocês dois correm na direção da porta da frente e, novamente, a garota muda de forma: agora ela é a garota de cabelos longos e escuros. Vocês passam pela porta e agora ela é a garota mais linda. Vocês chegam à calçada e ela se transforma na garota de cabelos curtos. Intrigado, você olha para trás, zonzo, e vê as cinco paradas na varanda, olhando para você como se você fosse a caça e elas as caçadoras. A garota de cabelo curto, que há um segundo estava correndo ao seu lado, aponta a besta dela na sua direção e dá um sorriso. Você se desespera e corre para o carro. Sente a flecha da besta passar bem perto de seu rosto e sente sua bochecha arder. Mas não para. Agora não está mais fascinado pelas garotas, está apavorado. Onde estava com a cabeça quando entrou naquela casa? Onde estava com a cabeça quando as acordou? Onde estava com a cabeça quando deixou que elas te encontrassem?
Você dá partida no carro e sai cantando pneus pela rua mortalmente silenciosa. Você quer desesperadamente voltar para casa e esquecer de tudo o que acaba de acontecer. Não quer explicações, não quer respostas - quer apenas o conforto de casa e o pleno esquecimento. Sua mãe deve estar morta de preocupação e é só nela que você consegue pensar nesse momento. Não se lembra de onde deixou o celular, então para no primeiro orelhão que encontra e disca o número de casa. Ninguém atende. Disca novamente, tremendo da cabeça aos pés.
- O número de telefone discado não existe. Por favor, consulte o catálogo e tente novamente.
Você se prepara para ligar para a pizzaria, mas escuta o som da porta do carro batendo e se vira para olhar. Você mal tem tempo de identificá-la até ela agarrar seu pescoço com uma das mãos inacreditavelmente fortes e enrolá-lo com o fio do telefone. Você tenta lutar, mas seu corpo parece entorpecido e começa a formigar, o que te deixa imóvel. A última coisa que você vê é o sorriso da garota mais linda do mundo. E o céu noturno cada vez mais estrelado.
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PEEK-A-BOO
FanfictionBaseada na canção e MV do girlgroup sul-coreano Red Velvet, "PEEK-A-BOO" narra a arrepiante história de um grupo de garotas cuja fascinação por entregadores de pizza vai muito além do natural. Os fatos narrados a seguir são puramente fictícios, port...