Capítulo 4: Sete lições avançadas na terapia do luto

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Muito tempo atrás, Earl um amigo de muitos anos, telefonou para me dizer que seu amigo mais íntimo, Jack, acabara de ser diagnosticado com tumor cerebral maligno e inoperável. Antes que eu pudesse manifestar comiseração, ele disse:
- Olhe, Irv, não estou telefonando por minha causa, mas por outra pessoa. É um favor, uma coisa realmente importante para mim. Escute, você pode tratar da mulher do Jack, a Irene? O Jack que terá uma morte terrível, talvez a mais dura que a vida pode trazer. E o fato de Irene ser cirurgia não ajuda em nada: ela saberá coisas demais e viverá uma agonia, assistindo impotente enquanto o câncer devora o cérebro do marido. E depois, ficará com uma filha pequena e um consultório lotado. O futuro dela é um pesadelo.
Ao ouvir o pedido de Earl, tive vontade de ajudar. Quis oferecer tudo o que ele estava pedindo. Mas havia alguns problemas. A boa terapia existe fronteiras claras, e eu conhecia Jack e Irene. Não muito bem, é verdade, mas estiverámos juntos nuns dois jantares na casa de Earl. Eu também assistira com Jack ao Super Bowl, a final da Liga Nacional de Futebol Americano, e havia jogado tênis com ele algumas vezes.
Disse tudo isso a Earl e concluí:
- Tratar de uma pessoa que a gente conhece socialmente nunca deixa de ficar confuso. A minha melhor maneira de ajudar é encontrar a melhor indicação: alguém que não conheça a família.
- Eu sabia que você ia dizer isso - replicou ele. - Preparei Irene para essa resposta. Falei disso com ela uma porção de vezes, mas ela não quer consultar mais ninguém. É muito decidida e, embora tenha pouco respeito pelo campo da psiquiatria, de modo geral, cismou com você. Diz que tem acompanhado seu trabalho e está convencida, só Deus sabe por quê, de que você é o único psiquiatra inteligente o bastante para ela.
- Deixe-me pensar um pouco. Amanhã eu ligo para você.
O que fazer? De um lado, a amizade falava mais alto: Earl e eu nunca recusáramos nada um ao outro. Mas a invasão potencial da fronteira me deixava inquieto. Earl e a mulher, Emily, eram dois de meus confidentes mais íntimos. E Emilly, por sua vez, era a melhor amiga de Irene. Eu já imaginava as duas num tête-a-tetê, falando de mim. É, não havia dúvida: eu ouvia os sinais de alarme tocando. Mas diminuí bastante o volume. Arrancaria de Irene e Emily a promessa de construir um muro de silêncio em torno da terapia. Era uma coisa difícil e complexa. Mas, se eu era tão inteligente quanto ela achava, conseguiria lidar com isso.
Depois de desligar, perguntei-me por que estava tão disposto a ignorar os sinais de alarme. Percebi que o pedido de Earl, naquela conjuntura específica da minha vida, parecia predestinado. Um colega e eu havíamos acabado de concluir três anos de pesquisa empírica sobre o luto conjugal, estudando oitenta homens e mulheres que tinham enviuvado recentemente. Eu fizera longas entrevistas com eles e tratara de todos em grupos de terapia breve formados por oito pessoas. Nossa equipe de pesquisa havia acompanhado sua evolução durante um ano, coletando uma montanha de informações e publicando diversos artigos em periódicos especializados. Eu me convencera de que poucas pessoas conheciam melhor o assunto do que eu. Como medalhão em matéria de luto, como é que eu poderia, em sã consciência, recusar o pedido de Irene?
Além disso, ela dissera as palavras mágicas: que eu era a única pessoa inteligente o bastante para tratá-la. A tomada perfeita para eu encaixar minha vaidade.

Lição 1: O primeiro sonho

Dias depois, encontrei-me com Irene para nossa primeira sessão. Deixem-me dizer desde já que ela se revelou uma das mulheres mais interessantes, inteligentes, teimosas, angustiadas, sensíveis, imperiosas, elegantes, trabalhadoras, engenhosas, inflexíveis, corajosas, atraentes, orgulhosas, gélidas, românticas e irritantes que eu já havia conhecido.
A meio caminho da primeira sessão, descreveu um sonho que tivera na noite anterior:

Eu ainda era cirurgiã, mas também era estudante de inglês na pós-graduação. Meus preparativos para uma cadeira incluíam dois textos diferentes, um antigo e um moderno, os dois com o mesmo nome. Eu estava despreparada para o seminário, porque não tinha lido nenhum dos dois. Em especial, não tinha lido o primeiro texto, o antigo, que me havia preparado para o segundo.

Mamãe e o sentido da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora