A Dama e o Vagabundo

15°

Tudo que deu errado, um dia vai da certo, basta ter esperança.  ⚓☁❄

Sempre que eu fico assim, é sinal que vai começar tudo de novo.
Não tenho consciência do que vou fazer, na verdade tenho um pouco. A única coisa que eu quero nesse momento é que Deus tire essa vontade de mim. POR FAVOR MEU DEUS! NÃO!
Já sofri e fiz minha família sofrer por causa disso.

Quer saber só vai ser um corte, só preciso de um corte.
Casso a minha caixinha de óculos que eu sempre carrego na minha bolsa, lá dentro tem algumas lâminas. Eu não as uso, é mais uma garantia sei lá, não consigo me livrar delas.

As acho e pego uma que esteja com corte ainda. Afinal estão ali a muito tempo.
Estou soluçando muito, limpo meu nariz com as costas da mão.

Respiro fundo e faço um corte.
Como é bom sentir isso, é como se toda a tristeza, todas as mágoas, saudades, fossem embora. Só quem passa por isso sabe como é, não tem explicação.
Mais essa sensação não dura muito tempo, fica somente alguns segundos ou uns minutos. Não foi o suficiente, a dor volta quando o sangue para de escorrer.

Faço mais um corte e outro e outro e outro.
Quando tomo coragem pra olhar, meu braço esta todo cortado.
O sangue pinga no chão.
Ah meu Deus ! O que eu fiz?
Eu sou uma idiota! Sem  noção.
Não podem me ver assim, o que vão pensar ? Que sou uma doida, suicida.

Levanto, vou até a pia e deixo o sangue escorrer junto com a água até parar de sangrar.

Seco os meus pulsos e volto pra dentro do banheiro.
Me sento no chão novamente.
Eu aqui olhando pra esses cortes, me sinto tão fraca, preciso de ajuda, preciso de alguém que me ajude a me livrar desses demônios. Quero o Lucas aqui comigo, só ele me faz esquecer tudo, até o medo de andar de moto.

Acabo domindo.

Batidas muito altas. Que coisa! Quero dormir.

– CHLOÉ SAI DAI PORRA! ABRE ESSA MERDA, EU SEI QUE TU TÁ AI.
Lucas?

Levanto correndo, quase caiu, sinto uma tontura.
Abro a porta e me jogo nos braços do Lucas, ele me encontrou. Sorrio.
Ele me empurra pra longe. O quê ?

Olho pra sua mão e vejo que lá se encontra um revólver. Ai meu Deus!
Me afasto e coloco as mãos na boca.
Ele não! Não acredito nisso.

– O que tu tava fazendo trancada aí porra?
Pra que ele está gritando?
E porque ele tem um revólver? Esse não é o Lucas de todos os dias.

– Para.
Digo baixinho.
– Para porra nenhuma, me responde o que tu tava fazendo trancada ali? RESPONDE PORRA!

Pulo de susto e no impulso ponho meus braços atrás das costas pra ele não ver os cortes. Mais acho que me entreguei.

Ele se aproxima mais de mim e fica mexendo aquela coisa.

– Me mostra os braços e da onde é aquele sangue ali na pia ?
Aponta pra pia com a arma. Meu deus! Como eu sou burra. Demente !
– Mostra logo merda!

Que saber, sobre o fato de mim me cortoa ele não tem nada a ver com isso.

Estendo meus braços, fazendo meus pulsos cortados ficarem amostra.
Ele olha dos meus pulsos pro meu rosto, do meu rosto pro meus pulsos.
Com uma expressão de quem não está acreditando no que está vendo. Pode apostar que também fiquei assim, quando vi a arma na mão dele.

– Porque Chloé?
Ele se aproxima e tenta me tocar.
Me afasto dele e vou pro outro lado do banheiro.
– Vem vamos embora Chloé.

O Lucas sai andando e eu vou atrás, não tenho muita opção.
Ele joga o revólver em uma caçamba de lixo. Porque ele estava com isso? Será que ele também é desse meio do crime? O Lucas não, ele não. Me recuso a pensar nisso.

O sol já esta nascendo, suponho que seja umas seis e pouca.
Como é lindo ver isso, o sol nascer.

Quando eu tinha uns treze anos de idade, nem tem tanto tempo, mais parece que sim, eu passava todas as noites acordadas só pra ver o sol nascer, tão magnífico, é um espetáculo.
A noite virando dia.
A lua dando lugar ao sol.
As vezes eu penso, a lua e o sol são dependentes um do outro, até porque se não existisse noite não existira dia e, se não existisse dia não existira noite.
Muitos falam que a lua e o sol se amam, acho que o amor mais lindo de todos. Mesmo eles estando separados, bom algumas vezes podemos ver o dois juntos.
Mais mesmo assim é uma coisa única e linda.

Será que comigo e o Lucas seria assim caso a gente ficasse juntos? Vamos depender um do outro, sermos um só?
Claro se ficarmos juntos.
Pra ele me trata daquela forma novamente? Se for pra ser assim, minha resposta sempre será não.
As vezes as coisas erradas acontecem para que as certas venham, logo após, é com esse pensamento que eu vivo a minha vida.