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Agarrei-me nas costas do animal, por ser a única maneira de permanecer vivo. Ele possui escamas, é possível ver pequenas chamas azuis saindo de suas asas e de suas orelhas grandes e aprumadas, nelas pareciam sair escamas grandes, como se fossem vários espinhos. Não é um morcego, parece mais um dragão. Estamos voando em círculos, bem alto, sobre uma vila cheia de flores. É tudo muito real. Tenho consciência de que eu estou dormindo, e que aquilo é um sonho, mas parece extremamente real tudo isso que está acontecendo.

O animal começa a pousar, e descemos bem no meio de uma praça grande, com muitas pessoas, todas parecem ser da minha idade, e estão tão confusos quanto eu. Todos também têm um animal estranho com eles. O local é cercado por quatro muros de pedra, com flores entre as rochas cinzentas, e estendia-se um teto delas, segurado por pilastras também feitas de rochas. Olho em volta, e vejo um homem velho, cabelos e barba curtos e brancos. Ele está com roupas de couro marrom escuro, e se encontra em um altar, em uma posição de líder, como se fosse realizar uma palestra.

— Sejam muito bem vindos, novatos — eu fico calado, apenas tentando entender o que ele quis dizer — se vocês estão aqui significa que é o primeiro dia. Certamente é, afinal, hoje é dia 7 de janeiro, o Wonderland Day — escuto cochichos, todos duvidosos, ninguém está entendendo nada. O velho ri, e continua — por um motivo desconhecido, todas as pessoas que nascem no dia 7 de janeiro, quando completam 16 anos, vêm parar aqui toda vez que caem no sono. É pra cá que vocês virão toda vez que forem dormir. Mas tomem muito cuidado, se morrerem aqui, morrem na vida real – esta fala é seguida por um silêncio de cerca de dez segundos – estão dispensados, e tenham um ótimo primeiro dia!

Ele sai do pedestal em que se encontra, e some da vista de todos. Os portões se abrem, e estamos livres para ir. Ir... Ir pra onde? Esse cara vem aqui, fala essas coisas estranhas, e some? Pra mim foi a mesma coisa de ele não ter falado nada. Sinto uma cauda passando pelas minhas pernas, é aquele animal de antes. Quase me esqueci de que ele estava comigo. Sinto meus pelos se arrepiarem, de medo dele, e de agonia sobre tudo o que está acontecendo. Não entendo absolutamente nada.

Primeiro preciso me livrar desse bicho. Vou me afastando dele cuidadosamente enquanto ele está olhando pra outro lugar, mas vejo as escamas dele se arrepiarem, ele olha pra mim imediatamente e vem correndo pra perto. Ele está na forma pequena dele, olhe, confesso, chega a ser fofo. Mas e se esse animal me matar? Ele fica enorme quando se transforma, enorme tipo cerca de 10 metros da cabeça ao fim da cauda.

Consigo sair do local e agora é possível enxergar bem a vila em que estávamos sobrevoando. Existem lagos passando no meio das ruas, e pontes foram construídas para possibilitar o trânsito sobre a água. Tem flores em quase todos os lugares, inclusive nas casas. É tudo muito lindo. O local onde estamos fica no topo de uma montanha bem alta, por isso era possível enxergar toda a vila de cima.

— Ei — diz alguém atrás de mim, me viro e vejo um garoto tão magro quanto eu — meu nome é Isael, prazer.

— Olá, prazer — eu fico meio besta quando vou conversar com alguém que nunca vi na vida. Paira um clima de silêncio sobre nós, tento entender o que ele espera.

— Qual o seu nome? — ele diz rindo. Meu Deus, como eu sou sonto!

— Oh, me desculpe, meu nome é Raue.

— Raue? Que nome inédito. Bem, não posso dizer muita coisa, afinal, quantos garotos com o nome Isael você já conheceu na vida? — nós rimos, uma risada curta. Ele sabe quebrar o clima, pois com certeza estamos confusos com tudo o que está acontecendo.

Com ele eu vi um pequeno lobo, ao seu lado, ele têm pelos brancos como os cabelos de Isael (creio que eram platinados) e tinha olhos vermelhos. Até agora não vi nenhuma criatura se comportando de forma agressiva com seu "parceiro", espero que continue assim.

Eu e Isael fomos andando até o centro da vila, onde estava acontecendo uma enorme festa. Quando chegamos lá, felicidade dominava o local, com muita comida, música, dança e alegria. Era possível avistar um grande arco passando por cima da praça em que acontecia a festa, escrita "WONDERLAND DAY", não entendia direito o que significava, mas na verdade eu não estou entendendo nada. Eu estou dormindo na minha cama, isso é um sonho.

Tropeço em um degrau, e caio na calçada, sinto um ardor no braço. Me cortei.

— Ta tudo bem? — diz Isael, me ajudando a levantar.

— Sim, foi só um corte. Mas dói — começo a suar do nada, estou nervoso — que merda está acontecendo aqui? Isso é real?

— Raue? — diz Isael, colocando suas mãos em meus ombros — se acalme.

— Como você pode estar tão calmo assim? Você é real? — sinto minha pressão subir, eu estou sentindo dor, SENTINDO DOR REAL EM UM SONHO.

Sento em um canto onde tinha uma união de dois muros de duas casas, e apoio meus braços nos joelhos, e choro. Como pode tudo parecer tão real? Não entendo nada! Sinto uma língua passando no meu tornozelo, olho o que é. É aquele meu dragão estranhamente fofo. Afinal, o que é esse bicho também? Todo o barulho da festa está fazendo a minha cabeça parecer que vai explodir. Mas eu continuo agachado, Isael está do meu lado, em silêncio, talvez esperando minha crise passar.

Eu quero acordar.

Eu quero acordar.

EU QUERO ACORDAR!!!

...

Estou suado, com meus cobertores no chão. Me mexi muito na cama. Foi só um sonho. Graças a Deus. Respiro fundo, e pego meu celular pra conferir as horas. 4h26.

Espere. Sinto um ardor no braço. Uso a luz do celular e consigo enxergar o corte da minha queda na calçada da praça. Um corte de uns cinco centímetros e todo esfolado nas bordas.

Um calafrio agoniante domina meu corpo.

Que merda ta acontecendo? 

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