Última carta- última parte

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  A ideia de que aquele jantar seria realizado fazia com que o meu cérebro quisesse explodir de irritação, mas se os meus pais queriam tanto que aquilo acontecesse, quem era eu para contraria-los!?

  Afinal de contas, nem era a minha vida que estava em jogo...

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  Deixei o tempo tomar conta das coisas. O jantar foi marcado para sexta feira à noite dessa mesma semana, o vestido foi comprado, tudo arranjado, menos os meus pensamentos.

  Era ainda terça feira.

  Todos os dias via Rebecca. Conversávamos e desabafava-mos uma com a outra como uma confissão diária, que me trazia uma paz e conforto que não encontrava em casa.
  Entretanto, um plano surgia, no obscuro da madrugada.
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  A sexta feira chegou rápido de mais. A casa estava em total confusão. A minha mãe arrumava, o meu pai ia às compras e eu apenas me encontrava sentada a olhar pra todo aquele desnecessário aparato.

  Tudo acabaria e seria nessa mesma noite.

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  Liguei pra Becca mesmo antes de bater as 19:00 a perguntar se estava tudo pronto e como resposta, do outro lado da linha soou um juntas até que a fita se desamarre.

  Depois disso, vesti a minha pele clara com o tecido leve de que era feito o meu vestido estupidamente branco, coloquei o colar de ouro que o meu pai havia me oferecido para a estúpida ocasião especial e afundei-me na cama há espera do grande desfecho.

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  Quando  o ponteiro mais pequeno do relógio apontou para as 20:31, a campainha ressoou por toda a casa. O meu "prometido" e a família tinham chegado.

    Saí do quarto subtilmente e fui até à porta receber os convidados, afinal de contas, o espetáculo tinha de ser bem encenado.

   Fui olhada de cima abaixo e de baixo acima e inevitávelmente, as minhas bochechas preencheram-se de um tom vermelho, mas logo tratei de o disfarçar. Tudo corria como previsto.

  Acompanhei-os até à sala onde seria o jantar. Fui apresentada ao meu suposto futuro marido, ao qual não gostei nem um bocadinho e o jantar começou, entre conversas sobre o casamento e sorrisos falsos de alegria.

   Eu apenas comia, olhava em volta e para o relógio, há espera da hora certa para concretizar a última parte do meu plano conjunto com Rebecca. Estava quase.

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  A sobremesa foi servida, e enquanto tentava suportar o rapaz com que me queriam juntar, as minhas pernas tremiam de ansiedade. Já sentia a liberdade chegar devagarinho.

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  O bolo de chocolate que a minha mãe havia feito de manhã estava delicioso, isso podia afirmar com toda a certeza do mundo e quando acabei a última colherada, ouvi um tilintar vindo de onde estava o meu pai e o homem de barba, pai do "noivo".

  - Hoje, celebramos, afinal de contas, em breve, as nossas famílias estarão unidas, pelo laço do matrimónio e, para firmar isso, creio que Nathan tenha algo a fazer perante todos nós- disse o meu pai e logo a seguir o rapaz veio até mim, ajoelhou-se na minha frente, puxou a minha mão com alguma urgência e proferiu:

  - Perante as duas famílias aqui presentes, peço permissão para pedir oficialmente a mão de Diana em casamento. Diana Stark, aceitas casar comigo?

  Ouvir aquelas palavras era pior que imagina-las, mas eu sabia o que tinha que fazer e assim o fiz:

  - Desculpa pelo que vou fazer, mas eu não posso casar com alguém só por  causa de um capricho dos meus pais. É a minha vida, é a minha escolha e não cabe a mais ninguém a não ser eu decidir! Não quero casar-me contigo, não quero viver contigo nem com mais ninguém a não ser com o meu verdadeiro amor que se chama Rebecca, então desculpe mãe, eu amo a senhora mas eu não posso viver ao lado de quem não me aceita como eu sou.

  Saí da mesa de jantar com todos os olhares vidrados em mim, principalmente o do meu pai, que se prendeu às minhas costas como uma faca lá cravada, mas não desisti e nem baixei a cabeça.

  Fui até ao meu quarto, peguei na mochila que já estava preparada em cima da cama e saí porta fora, sem nem olhar para trás.

  O carro preto de Becca esperava-me do lado de fora das grades que rodeavam a casa em que em tempos fui feliz. Atravessei o portão de ferro desgastado pelo tempo e entrei no automóvel. Beijei-a e assim partimos para a estrada, rumo a um lugar melhor, onde pudéssemos ser nós mesmas, onde o nosso amor não fosse desalinhado.

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  Lyanna, agora espero que entendas o porquê de eu não voltar a escrever-te, pelo menos não tão cedo. Espero também que estejas bem e que, qualquer dia, possamos voltar a encontrar-nos.

  Com carinho,

                                       Diana Stark, a tua desalinhada preferida.

812 palavras
 

Desalinhada [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora