Pavoas e Pavões

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Às vezes eu penso que sou adolescente mais esquisita do mundo, porque  uma vida adulta dentro de um matrimônio parece, para mim, muito mais livre do que viver a tão desejada liberdade impetuosa adolescente.

E não, a culpa não é do meu signo. Tenho sol e lua em aquário. Acredito que a origem pra tudo isso sejam os meus sentimentos quando penso na vida adulta, e no que sinto quando estou dentro de uma festa adolescente.

Para mim, festas adolescentes são como palcos ou talvez uma arena de exibição para animais. Você é um pavão, que precisa abrir as suas penas para conquistar a pavoa. E claro, assim como no reino animal, a melhor maneira de conseguir isso é por meio da aparência física. Por isso, você já chega na festa com um bom reboco, e uma roupa sex appeal. Depois, é hora da famosa exibição, então começamos a dançar sensualmente para atrair o parceiro, metaforicamente a pavoa.

Mas é claro, não poderíamos esquecer da famosa bebida. Ela vai te deixar animada e descolada, você vai aparentar espontaneidade. Além de ser uma ótima justificativa pra agir impulsivamente. Talvez nesse ponto realmente possamos falar sobre a liberdade impetuosa como algo menos produzido e falso, já que a bebida realmente proporciona essa sensação, mas de novo, ela volta a ser falsa, porque é uma substância química, e não a verdadeira liberdade.

E por fim, quando você finalmente tiver atraído as pavoas, chegou o momento da escolha. Obviamente essa escolha será feita totalmente baseada no critério físico e numa conversa de 30 segundos, que pode nem existir. Acho que isso é o que mais me deixa triste, pensar nas pessoas sendo tratadas como meios físicos. E pensar que no fundo eu sinto que tenho tanto pra dizer, e tanto pra falar, como seria interessante utilizar o tempo das festas pra trocar uma ideia sobre o stress da faculdade, o stress do vestibular.

Talvez conversas filosóficas, ou coisas banais do dia a dia. Mas cada vez eu sinto que aquilo só existe como uma exibição física e animal. E quanto  às amizades que poderiam substituir minha frustração com festas, elas também estão ocupadas demais vivendo a própria vida.

Aqueles que acham que esse é um texto moralista, menosprezando a liberdade de escolha e blablabla. Abra seus olhos. Estou longe disso, até porque já tentei fazer parte desse mundo. Já tentei agarrar isso como realidade, para finalmente poder dizer que algo me faz feliz.

Mas não me faz feliz

Eu me sinto um pavão

E pra mim isso é o maior indicativo de que perdi minha liberdade.

É estar num espaço em que minhas ações são moldadas, minha maneira de ser.

E o que venho reparado sobre a vida adulta, é que estas pessoas se enxergam tão a cima dos adolescentes, que gritam sem ter razão, impõe sua opinião.

Também já estão cansadas demais de serem pavões, e simplesmente já abdicaram dessa ideia de criar um conceito sobre si mesmo para agradar alguém.

Parece que a liberdade pode ser conquistada de diversas formas, e que seria tudo mais fácil se não julgássemos muito as outras pessoas.

De qualquer forma,

Não quero ser pavão

Crônicas de uma adolescente em criseOnde histórias criam vida. Descubra agora