Ouvi o despertador do meu celular tocar e num movimento quase involuntário estendi o braço até o alcançar com minha mão e tatear o dedo pela tela na intenção de desligá-lo o mais breve possível sem ter que abrir os olhos, acordar cedo sempre era um terror. Tentativa falha. O despertador continuou tocando e fui obrigada a acordar.
Por um breve momento senti uma súbita confusão sem reconhecer o local onde estava. Era meu novo quarto. Talvez eu demorasse um pouco ainda para me acostumar, meu antigo quarto não era nem metade do tamanho desse. Mas considerando a excelente memória que possuo, eu diria que levaria pouco tempo para que eu não tivesse mais essa confusão ao acordar.
Esse era um fator que me deixava ainda mais intrigada com aquela sensação de já ter estado em Ilium antes: a minha ótima memória. Mas talvez eu tenha visto alguma foto ou reportagem em algum lugar. Não era uma hipótese descartável devido as renomadas famílias que viviam ali. Tomei como plausível e única certeza essa hipótese. Era isso. Tinha que ser. Não haveria outra maneira de eu conhecer Ilium, senão por reportagens. Eu provavelmente vi fotos desse bairro em alguma matéria no jornal, ou alguma revista e por isso agora sentia que já viera aqui. Só uma coincidência. Talvez até mesmo alguma reportagem sobre a família daquele garoto, cujo agora era meu vizinho.
Com um pouco de esforço me arrastei para fora da cama e comecei a me arrumar para a tortura que viria a seguir: meu primeiro dia na escola nova. Tudo seria diferente agora, não é como o primeiro dia de aula do ano letivo. É uma nova escola, com pessoas que eu não conheço.
Na nossa antiga casa eu conseguia ouvir meu pai falando sobre alguma reunião ou qualquer coisa de seu serviço com a mamãe enquanto me arrumava no meu quarto, agora isso já não era possível devido a distância entre a sala de jantar e meu quarto que ficava no fim do corredor do segundo andar.
A escola era um pouco distante de casa e meu pai já tinha me oferecido carona desde o dia anterior enquanto jantávamos após arrumar grande parte da mudança no lugar. Não demorei muito para me arrumar, coloquei a primeira calça jeans e camiseta que encontrei e me juntei a eles à mesa do café. Eles pareciam mais felizes, minha mãe já não tinha mais aquela expressão preocupada que trazia há dias, desde que perdera seu emprego como secretária numa empresa onde o empresário a mandara embora por, segundo ele, "ter arrumado alguém mais qualificada". O que era uma tremenda mentira, na verdade ele tinha mandado mamãe embora para colocar a própria amante no lugar dela.
Papai trabalhava na administração de um dos departamentos de uma grande empresa que eu nunca me lembrava o nome ou com o que exatamente trabalhavam. O trabalho dele não era uma área que me interessava muito, então eu não fazia muitas perguntas a respeito, mas sabia que o pagavam bem pela sua função.
Tentei ser o mais breve possível para não atrasar meu pai, o emprego dele agora havia ficado longe, mas por sorte meu colégio ficava no caminho que ele faria para o trabalho.
De carro não demorou muito para que chegássemos. Dei um beijo no rosto do meu pai antes de descer do carro colocando a mochila em um dos ombros. Respirei fundo e fui em direção ao prédio escolar.
Eu tinha um papel que me dizia qual seriam minhas aulas naquele dia, mas eu não tinha um mapa da escola ou alguém para me mostrar onde eram as salas, me fazendo ter que procurar sala por sala. O que eu achei muito estranho, uma vez que na minha antiga escola tínhamos o comitê de boas vindas para que quando um aluno fosse transferido para lá não ficasse perdido e se sentisse acolhido. Drastória High School não era um dos melhores colégios, mas esse aqui pelo visto não fica muito à frente também.-Onde está seu uniforme?
Uma voz rude surgiu vinda de trás me fazendo virar bruscamente com o susto. O crachá na camisa do homem parado me encarando indicava que ele era o inspetor do colégio.
-E.. Eu não sabia que era... É meu primeiro dia, eu não...
Pelo visto o uso do uniforme era obrigatório em Ilium High School, mas eu não teria como saber disso já que não perguntei quando fizeram minha matrícula e eles também não se importaram em me informar. Estava acostumada com meu antigo colégio que não tinha a necessidade de usar o uniforme desde que sua roupa fosse decente cobrindo as coxas, não tivesse decotes, etc.
-Não pode assistir as aulas se não estiver trajando o uniforme, mocinha. Me acompanhe até a secretaria e vamos comunicar seu responsável sobre o ocorrido. Da próxima vez lembre-se de...
Ele foi interrompido por uma voz que chegou suave e rouca.
-Não vai precisar, senhor Louis, ela pode usar o meu... --ele trouxe a mochila para frente e abriu o zíper enfiando uma das mãos dentro do bolso enquanto continuava--... Por sorte eu sempre tenho uma camisa na mochila, pras aulas de educação física.
Era o mesmo garoto que estava parado na calçada perto de casa no dia anterior. Ele retirou uma camisa da mochila e estendeu em minha direção. O inspetor que agora tinha um nome, senhor Louis, fitou a cena com uma sobrancelha erguida, cruzando os braços. Olhei do Sr. Louis para o garoto sem entender o motivo da expressão dele, mas peguei a camisa torcendo para que o inspetor deixasse a historia pra lá agora que eu tinha um uniforme em mãos, meus pais não ficariam contentes em receber um telefonema do colégio no meu primeiro dia, mesmo que não fosse exatamente culpa minha.
-Tem 5 minutos para estar vestida nesse uniforme, senhorita. Se eu vê-la outra vez inadequadamente terá problemas.
Ele disse descruzando os braços e saiu andando a passos largos pelo corredor. Olhei para o garoto um pouco sem jeito pela situação, mas agradeci.
-Obrigada... --eu não sabia bem o que falar-- Você é sempre hospitaleiro?
Ele me encarou com o olhar um pouco baixo e pude ver um leve sorriso no canto de seus lábios precedendo o que diria.
-Eu estava passando e ouvi ele dizer que ligaria para seus pais, acho que não é uma coisa legal para o primeiro dia de aula. --Dando de ombros ele se virou na direção que eu acabei de vir.
Apertei a camisa nas mãos e observei ele se misturar aos demais alunos no corredor e enquanto ele sumia me veio novamente aquela sensação de ontem, de quando o vira na calçada.
Ajeitei a mochila nos ombros e fui em direção ao banheiro vestir a camisa correndo antes que o inspetor voltasse, já havia perdido tempo demais com essa situação, logo o sinal tocaria e eu ainda não havia encontrado a sala.
Por sorte, alguns passos à frente do banheiro era a sala de biologia, minha primeira aula.-OK. Vamos lá.
Empurrei a porta e entrei na sala.
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Destiny
FantasyDiana sempre acreditou que o destino era uma ilusão, até se mudar para Ilium e começar a vivenciar uma série inquietante de déjà-vus e outras sensações envolvendo principalmente seu enigmático vizinho, Aaron. No passado um romance proibido entre ele...