Capítulo 7

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  Alguma coisa em Aaron tinha um ar de mistério que me prendia, agora que eu não estava sentindo nenhuma daquelas sensações que eu sentia todas as vezes em que ele estava por perto tive que me esforçar para não ficar o encarando o tempo todo. Eu queria entender o que estava acontecendo, nada fazia sentido ainda.

  Meus pais pareciam estar gostando dele, conversavam sem parar desde que nos sentamos à mesa, embora eu não estivesse prestando atenção na conversa em si, as risadas, principalmente do meu pai, eram perceptíveis demais e incomum. Esse era o único fato que me desprendia um pouco da minha mente: a risada do meu pai. Não que ele fosse um homem rancoroso, mas nunca tinha visto ele tão a vontade com um garoto do meu colégio, nem mesmo com o Charlie que não tinha a mínima chance de dar em cima de mim porque namorava minha amiga Lisa. Era realmente uma noite de surpresas.

  E não parou por ai. O som da campainha tocou novamente, como já havíamos iniciado o jantar Judy se prontificou em atender a porta. Ficamos aguardando enquanto nos olhávamos com cara de "você está esperando alguém?". Consegui ouvir a voz de Judy baixo pela distancia, mas a pessoa com quem ela falava tinha o tom de voz baixo demais dificultando escutar da sala de jantar. Passei o olhar brevemente por Aaron e ele parecia irritado.

  Judy voltou logo, seguida por um rapaz alto de cabelos loiros, olhos claros e barba por fazer. Tirando o comprimento do cabelo e a barba ele se parecia muito com Aaron. Não posso esquecer dos olhos. Os olhos de Aaron tinham um tom escuro, sombrio.

   Senti um calafrio subir minha espinha. Aquele mesmo calafrio que eu já conhecia e que até agora não tinha sentido ainda, mas tinha algo diferente dessa vez. A sensação não era a mesma.

-O que faz aqui, Reyn? –Aaron olhava irritado para o rapaz parado atrás de Judy.

   "Reyn?".  Senti aquela onda de calafrios aumentar. O que tem nesses dois? Ou melhor, o que tem em mim? 

-Você não é o único com bons modos irmãozinho, vim das as boas vindas aos nossos novos vizinhos. –sorriu e continuou –Permitam-me me apresentar, sou Reyn, o irmão mais velho do Aaron. –ele acenou com a cabeça, seus lábios formavam um sorriso extremamente atraente.

  "Que genética!" Pensei ignorando os calafrios, e provavelmente minha expressão deve ter dedurado meus pensamentos, porque pude notar o sorriso de Reyn curvar mais enquanto seus olhos se estreitavam em minha direção.

-Aaron não nos disse que tinha um irmão –minha mãe olhou para Aaron sorrindo e ainda parecia animada, mesmo tendo o jantar interrompido.

-Receio que seja minha culpa. Passo tanto tempo viajando que acho que as vezes ele se esquece que tem um irmão.

  Reyn ainda estava na porta da sala de jantar, aguardando logo atrás de Judy, e só agora pude notar que havia uma sacola em uma de suas mãos. Era um saco comprido daqueles de papel, parecia que o conteúdo dentro era uma garrafa.

  Tenho quase certeza de ter ouvido Aaron sussurrar algo, parecia uma reclamação, notei Reyn olhando na direção dele, mas não tinha como ter ouvido o que Aaron disse, uma vez que o mesmo estava sentado praticamente do meu lado e Reyn do outro lado da sala, parado na porta. Não era possível que ele tenha escutado, presumi que ele estivesse acostumado com a reação de Aaron. Eu sou filha única não sei bem como é isso, mas acho que é comum irmãos se irritarem.

  Olhei de Reyn para Aaron, ambos possuíam expressões totalmente opostas. Aaron estava nitidamente incomodado, já Reyn parecia se divertir com a situação. Meus pais, assim como eu, não sabiam como agir, mas Reyn ainda estava de pé na porta, então meu pai finalmente se lembrou de seus bons modos para convidá-lo a se sentar conosco.

-Então... Reyn, certo? –ele assentiu com a cabeça, confirmando seu nome e papai continuou— Já começamos a comer, mas se quiser se juntar a nós será muito bem vindo.

    Reyn sorriu novamente. Seu sorriso era extremamente lindo.

-Não queria incomodá-los, sr. Mayfield... Entretanto creio que já tenha feito isso. –Reyn disse sem nenhuma expressão de que realmente se importava em incomodar alguém.

-Incômodo nenhum, seria um prazer tê-lo conosco. –minha mãe sorria cordialmente.

-Nesse caso... –Reyn deu alguns passos se aproximando da mesa e puxando a cadeira a minha frente para se sentar— Trouxe um presente de boas vindas, espero que gostem de vinho.

  Estendeu o braço entregando a sacola com a garrafa a meu pai antes de se sentar. O seu olhar cruzou com o meu por um momento. Eu não sabia o que ativava aquelas sensações, não sabia quando elas viriam, não sabia como impedi-las, mas em alguns momentos, como agora, eu não queria impedi-las.

   Por um instante vi Aaron e Reyn sorrindo juntos, pareciam contentes. Eles já estavam com essas roupas? Olhei ao redor e meus pais não estavam à mesa. Quem são essas pessoas? Os móveis... A garota de costas na porta, tenho certeza que conheço ela...

-Você está bem, querida?

   A voz da minha mãe me trouxe de volta. Eu caí no sono no meio do jantar? Não, a expressão no rosto deles não dizia que eu estava dormindo. Então o que foi isso? Parecia tão real. Eu alucinei?

-Ahn... Estou, claro. Estou ótima. –sorri e peguei o garfo, levando comida à boca agindo como se nada tivesse acontecido e esperando que eles fizessem o mesmo.

  Não funcionou imediatamente, ficaram me olhando desconfiados por um tempo ainda, mas não durou muito e voltaram a conversar sobre alguns assuntos sem muita importância, falando vez ou outra sobre as viagens de Reyn e o trabalho do meu pai. Falaram sobre o tio John e como viemos parar nessa enorme mansão. Estranhei o fato de que em nenhum momento Aaron ou Reyn mencionaram os pais. Viviam viajando como Reyn ou haviam morrido? Nenhum dos dois mencionou sequer uma palavra a respeito deles e eu não quis ser inconveniente de tocar em um assunto que pudesse ser delicado.

   Fiquei em silêncio quase que o jantar todo, exceto quando me perguntavam alguma coisa. Aquele calafrio na espinha que surgiu quando Reyn apareceu tinha diminuído, mas não passado por completo. Tentei não demonstrar que algo estava me incomodando, mas realmente tinha começado a incomodar.

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