Ainda não havia pregado os olhos quando meu despertador tocou indicando que já era hora de levantar. Arrastei meu corpo para fora da cama, apesar do cansaço eu não conseguia relaxar minha mente o suficiente para apagar e cair no sono. O dia vai ser longo, mas pelo menos vou poder desviar minha atenção, desfocar dos pensamentos sobre a noite e me distrair com as compras.
Não demorei para me aprontar e me juntar aos meus pais para tomar o café da manhã antes de sairmos, não via a hora de desenfadar minha mente.
-Querida, mudança de planos... -mamãe falou assim que me viu -O chefe do seu pai ficou sem assessora e como ele sabia que eu estava sem emprego me ofereceu a vaga. Você pode ir ao centro depois da escola, não fica muito longe e se precisar de ajuda pode chamar a Judy pra te acompanhar.
-Não vão me deixar assistir as aulas sem o uniforme -falei desapontada enquanto me sentava - Ontem quase não deixaram...
Papai me lançou um olhar questionando sobre o assunto. Eu não tinha dado muitos detalhes para eles sobre como foi meu primeiro dia de aula e talvez eu tenha esquecido de mencionar sobre quase ter ido parar na direção por não estar usando o uniforme.
-Devia ter me contado isso. - Apesar de seu olhar mostrar que não havia gostado de saber só agora, sua fala era calma -Bom, eu te deixo no centro então.
Sair sozinha não era algo que eu costumava fazer, sempre tinha meus amigos para irem aos lugares comigo, mas como eu não teria escolha, eu podia pelo menos optar por ir mais tarde. Se eu não fosse com meus pais agora teria um tempo para entregar a camisa ao meu vizinho enquanto ele estava no colégio, assim não precisaria encontrar com ele e ter aquelas sensações logo cedo. Já que não conseguia ignorar aqueles arrepios e calafrios, eu tentaria ao menos evitar o que me causava isso.
-Ah, na verdade, como não vou ao colégio hoje vou aproveitar pra fazer uma coisa antes. Não se preocupem, eu chamo um táxi mais tarde - dei um sorriso e me levantei da mesa - amo vocês.
Meu pai estendeu a mão me entregando o cartão de crédito com um aviso de que eu não gastasse muito. Esperei até que eles saíssem e corri direto para a lavanderia, peguei a camisa que já estava seca graças a tecnologia (e a Judy, obviamente), dobrei e conferi o horário no meu celular. Ainda estava cedo demais, ele provavelmente não teria saído para o colégio, considerando que ele vai de carro, sendo assim não demora quase nada para chegar lá. Decidi caminhar pelo jardim esperando a hora passar. Andei até o banco em que havia visto a silhueta na noite passada procurando por vestígios de que alguém estivera ali. Mas não havia sinal algum. Nenhum rastro, nenhuma pegada, nada. Se alguém havia estado aqui, foi cuidadoso ao não deixar marcas, mas não cuidadoso suficiente para não ser visto, mesmo que não com clareza. Fiquei ali por um tempo observando a janela do meu quarto, a cortina balançava levemente com a brisa que batia.
Esperei sentada no banco do jardim tempo suficiente para que ele já tivesse saído para o colégio. Atravessei minha casa exageradamente (e desnecessariamente) grande, parando em frente a porta da casa vizinha. Hesitei antes de tocar a campainha por uns segundos sentindo um pequeno calafrio na espinha. Eu estava errada sobre aquele garoto ser o causador do que eu sentia? Ou ele também não havia ido à escola hoje? Eu calculei as horas e me preparei para evitar que esses calafrios acontecessem, e mesmo assim, estou aqui com essa sensação. Ouvi passos de alguém se aproximar da porta quando meu dedo estava sobre o botão cogitando dar meia volta. Vi a maçaneta, alguém estava abrindo a porta, tarde demais para voltar atrás.
Meu corpo estremeceu quando a porta se abriu.
"Droga! Você deveria estar no colégio!" Mas o que eu estava pensando? Talvez ele tivesse algum motivo para não ter ido também, ou talvez só não estava afim de ir. De qualquer forma, não era da minha conta, eu só tinha que entregar a camisa e voltar para casa.Eu ainda estava imóvel com o dedo levantado a centímetros da campainha desde que a porta havia sido aberta. O calafrio que percorria minha espinha ainda estava lá, mas fora isso eu não sentia mais nada de estranho como aquela sensação de déjà-vu que senti das outras vezes.
-Tá tudo bem?
Ouvi a voz dele e percebi que eu estava parada encarando-o sem dizer nada, provavelmente parecendo uma estranha. Recuei a mão e limpei a garganta, ajeitei a camiseta que estava na outra mão e a estendi para entregar.
-Vim te devolver isso...
Sorri sutilmente tentando disfarçar minha estranheza, mas meu sorriso se desfez em segundos dando lugar a uma expressão de espanto assim que ele pegou a blusa e sua mão encostou na minha. Eu não saberia explicar o que tinha acontecido nesse momento, o que esse breve toque tinha causado, não era nada parecido com o que eu havia sentido em todas as vezes que senti alguma coisa perto dele. Dessa vez eu fiquei assustada.
Aquele toque... Eu não sei dizer. Foi como se eu esperasse por senti-lo há muito tempo. Eu nunca o quis tocar, principalmente por esses calafrios que eu sentia quando ele estava por perto, no entanto quando a mão dele encostou na minha a sensação que eu tive foi como se o toque dele fosse tudo que eu quisesse. Como se eu sentisse... falta desse toque.
Recuei minha mão rapidamente, segurando em meus ombros como se me abraçasse, tentando reduzir aquele calafrio e desviei o olhar na direção da minha casa na esperança de que não olhar para ele pudesse diminuir aquela sensação. Pensei em sair correndo no mesmo instante, mas eu pareceria mais estranha do que já estava parecendo até agora, não queria que ele achasse que eu fosse louca, embora eu mesma já estivesse começando a achar isso.
-Tenho que ir, preciso... Ainda preciso comprar meu uniforme...
Me virei rápido, me justificar para ele pareceu que tornaria menor as chances dele me achar uma completa estranha enquanto me afastava a passos largos na direção da minha casa.
-Estou indo para o centro, se quiser uma carona... - o som da sua voz era rouca e suave, como das outras vezes.
-Eu já... já chamei um táxi. -menti. Entrar no carro dele nesse momento era a última coisa que eu faria.
Não esperei que ele falasse novamente e corri para dentro de casa, provavelmente jogando para o ar todo o esforço para não parecer totalmente esquisita. Peguei meu celular e liguei para Rowena, não importava quanto tempo seria até a casa dela, eu precisava conversar com meus amigos, precisava ver alguém que eu realmente conhecia e que não me causava calafrios ou qualquer tipo de sensação estranha.
Marquei com ela de nos encontrar no shopping próximo do meu antigo endereço, que era próximo de onde Rowena morava. Ficava bem longe de Ilium, o táxi provavelmente não ficaria nada barato, mas eu precisava vê-la e Rowena não tinha as mesmas condições que eu no momento. Eu não encontraria meu uniforme em uma loja de shopping, ainda mais em Endora, mas eu podia comprar na volta pra casa, eu só precisava sair com minha amiga. Ela com certeza me acharia maluca quando eu contasse tudo que estava acontecendo comigo, mas eu realmente precisava contar isso pra alguém em quem confio, antes que eu enlouquecesse de verdade.
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Destiny
FantasyDiana sempre acreditou que o destino era uma ilusão, até se mudar para Ilium e começar a vivenciar uma série inquietante de déjà-vus e outras sensações envolvendo principalmente seu enigmático vizinho, Aaron. No passado um romance proibido entre ele...