Era chato ir para uma escola nova. Era ainda mais chato ir para uma escola nova na metade do ano. Você pega tudo no caminho e tenta se encaixar, tanto nas matérias quanto nas amizades. As panelinhas já estão formadas e você tenta se encaixar em algum grupo ou se isola e passa o resto do ano sendo tachado como o esquisito da escola, o solitário.
Eu não via a hora daquele dia acabar. Se eu pudesse estar agora com meus amigos, pelo menos as aulas não seriam tão chatas se a Rowena estivesse comigo.
Por um breve momento senti raiva de Tio John por ter sido um solteirão até a morte. Se ele tivesse se casado ou tido filhos, papai não teria herdado a fortuna e eu não teria que me mudar. Ainda estaria na nossa casa que não era grande, mas nos acomodava muito bem. Estaria em Drastória High School, meu antigo colégio, sentada em algum lugar do pátio com Charlie, Lisa, Rowena e talvez até Axel ou Nasty, que eu não tinha tanta amizade quanto tinha com os três primeiros, mas ainda assim tínhamos um vínculo. Não que seja uma coisa ruim a herança do meu falecido tio avô, claro que não. Meus pais, principalmente minha mãe, estavam mais aliviados depois que recebemos a notícia da herança, mas toda essa coisa de mudança, não ter meus amigos por perto. Isso era um saco.
Agora era o intervalo entre a terceira e quarta aula. Eu tinha 15 minutos para lamentar a mudança antes de ir para a próxima aula, que segundo meu papel dizia ser matemática. Fui até o pátio onde ocorriam as aulas de educação física ao ar livre, subi na arquibancada, me sentei na parte mais alta com as pernas cruzadas e fiquei observando as poucas nuvens no céu. Nessas horas geralmente Rowena deitava a cabeça em minhas coxas enquanto segurávamos vela para Charlie e Lisa. Balancei a cabeça sorrindo com a lembrança, era engraçado a forma como os dois pareciam estar conectados, como se fossem almas gêmeas. E mais engraçado que eu pensasse isso considerando que nunca acreditei que uma pessoa estivesse destinada a ficar com outra independente do que acontecesse, esse lance de destino e alma gêmea era coisa de filmes e livros de romance.
Desviei o olhar das nuvens para o pequeno símbolo da Ilium High School estampado no bolso da camisa que eu vestia emprestada pelo garoto. Embora ninguém tenha demonstrado antipatia até agora, ninguém também havia demonstrado solidariedade. E eu sei que é só uma camisa, mas ele não tinha motivo algum, poderia ter deixado que me levassem a diretoria e ligassem para os meus pais, não era um problema dele. Então considerei um ato generoso da parte dele ter me emprestado.
Sua imagem parado na calçada e depois ele sumindo entre os alunos pelo corredor me vieram a mente no mesmo instante, assim como também um arrepio que me subiu a espinha e aquela sensação de déjà-vu. Eu não fazia a mínima ideia do que me causava essa sensação, mas estava ficando incômodo a frequência com a qual a sentia. Decidi que se ela voltasse novamente, ignoraria e quem sabe assim ela parasse.
Ouvi o sinal tocar, peguei minha mochila e me direcionei à sala da quarta aula, que por sorte eu já havia descoberto onde era enquanto me perdia entre as salas da segunda e terceira aula.
Me sentei em uma das primeiras carteiras para não ter que andar por entre muitos alunos, apresentei minha matrícula ao professor e mal prestei atenção na aula nos minutos que se passaram. Matemática nunca me interessou muito e eu só queria que acabasse logo pra eu poder ir para casa.Infelizmente essa ainda não era a última aula e tinha mais uma troca de sala, dessa vez para a aula de história. Pelo menos era uma das minhas matérias favoritas, gostava de aprender sobre o passado. As grandes guerras, os acordos, tratados, conquistas, independências. Tudo aquilo era fascinante para mim.
História tinha me ganhado quando tive essa mesma sensação que eu sentira a chegar em Ilium, que eu tinha também sobre o garoto sem nome que me emprestara o uniforme, essa sensação de déjà-vu. Há uns dois anos mais ou menos, eu estava folheando um dos grandes livros de história que mamãe possuía em uma de suas estantes de livros a procura de algo sobre o trabalho que eu tinha para entregar na semana seguinte, quando em uma das páginas uma figura me chamou atenção: a imagem de uma pintura antiga. O pintor cujo eu nunca antes ouvira falar o nome, havia retratado em sua pintura a figura de uma mulher seminua de costas para ele olhando sobre o ombro de forma que era impossível decifrar para onde estava o foco de seu olhar. Seus cabelos caiam longos e com ondas do meio para as pontas sobre as costas nuas, com os braços esticados ao lado do corpo segurava com as pontas dos dedos o lenço que cobria suas nádegas. À frente da moça havia uma lareira acesa cuja luz o pintor retratara de uma forma incrível. Era uma bela moça, com curvas bem delineadas e olhar essa pintura havia me dado um déjà-vu pela primeira vez. Desde então, história passou a ser minha matéria favorita. A primeira vez que tive um déjà-vu me pareceu uma sensação incrível, porque eu tinha total certeza de que nunca vira aquela pintura antes, mas mesmo assim eu tinha a impressão de que a conhecia. Mas desde que cheguei a Ilium tenho tido sensações como essa e já não me parece mais tão incrível assim.
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Destiny
FantasyDiana sempre acreditou que o destino era uma ilusão, até se mudar para Ilium e começar a vivenciar uma série inquietante de déjà-vus e outras sensações envolvendo principalmente seu enigmático vizinho, Aaron. No passado um romance proibido entre ele...