Capítulo 9

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  Santo Rafe! Preciso me lembrar de incluí-lo em minhas orações.Quando eu penso que tudo está perdido e que Alan vai me beijar na frente dessa multidão – e pior, nafrente de Danny –, Rafe aparece para me salvar, como um príncipe em um cavalo branco.Quando Alan me segurou, eu entrei em pânico, por dois motivos. Primeiro, com medo de que alguémvisse o que não deveria, já que o vestido era curto e a calcinha estava em falta. Segundo, a cara que oDanny fazia antes, quando nós dois apenas cantávamos, já não era boa. Eu não queria nem imaginar o queele poderia fazer com um beijo na boca no final do show.No momento em que Alan diz que eu hoje era dele, Rafe entra no palco e agradece à banda peloshow, interrompendo o romantismo súbito do meu companheiro de banda. Aproveitando a deixa, euagradeço a plateia e saio do palco mais rápido que um foguete. Não paro para falar com ninguém.Puxo George, que estava me esperando nos bastidores, e vamos embora pela saída dos fundos.Só quando estamos dentro do carro, já no caminho para casa, eu percebo que esqueci minhas coisasna sala de Danny. Não trouxe nem a carteira.– George?– Oi, querida.– Minhas coisas ficaram lá – digo, com um tom triste.– Eu pego pra você amanhã, garotinha.Aceno e continuo quieta, pensando em tudo e, ao mesmo tempo, em nada. Em pouco tempo, Georgepara o carro em nosso condomínio e me acompanha até em casa.– Você quer que eu fique com você? – ele pergunta, preocupado. Eu estou muito quieta e ele sabe queesse não é o meu normal.– Não, querido. Acho que preciso ficar um pouco sozinha. Obrigada.Ele sorri, me dá um beijo na testa e vai para casa.Vou para o banheiro, tiro a maquiagem e tomo um banho quente. Só ali, sozinha debaixo do chuveiro,me permito pensar em tudo o que aconteceu. Não consigo entender o que levou Daniel a agir daquelejeito no escritório. A lembrança do olhar desesperado dele, no final, me faz cair em lágrimas. Se eu tinhaalguma esperança de que poderíamos ter um futuro juntos, eu acho que ela morreu ali.Quando já chorei tudo que poderia chorar, fecho o chuveiro, me seco e visto uma das camisolas derenda que eu e George compramos. Ela me deprime ainda mais, mas ele jogou fora todas as minhascamisetas de desenho animado.Vou para a cama, assombrada por olhos profundamente verdes e pelo silêncio total da casa ao lado.Bum! Bum! Bum!Acordo assustada com um barulho de algo batendo. Bum! Bum! Bum!Olho para o relógio. São quatro e meia. Quem está batendo com tanta força a essa hora? Ocondomínio deveria... Bum! Bum! Bum!– Julieeeeeeeeeeeee! – alguém grita meu nome enquanto as batidas continuam. Bum! Bum! Bum!Oh, meu Deus! Esse barulho é na minha porta! Levanto correndo da cama e abro a porta antes que orestante da vizinhança acorde.– Mas o que está acon... – não termino de falar. Dou de cara com Danny, bêbado, segurando a bolsaque deixei no escritório dele. Espera, ele está com um... olho roxo? – Daniel, o que aconteceu? Seu olhoestá roxo e você cheira a... – franzo o nariz – uísque barato.– Eu tinha que traxer... – ele começa a falar, com voz de bêbado, até que se distrai com algumacoisa. Sigo seu olhar e percebo que ele está encarando a minha camisola de renda. Esquecicompletamente que eu estava vestida com ela. O pior é que é branca e transparente. Droga!– Daniel! – eu grito, tentando chamar sua atenção.– Oi? – ele fala e abre um sorriso meigo para mim. – Você eshhh tão linda. Estou com vuntaxiii delevar voxê cama.– Daniel, não! Você está completamente bêbado – eu volto para o meu quarto para vestir um hobby etentar me compor um pouco mais. Quando olho, ele está atrás de mim, tirando o sapato. – O que você estáfazendo? Para!– Vu durmir abraçado com voxê.– Cheirando a birita? Não mesmo! – pego ele pelo braço e o levo até sua casa. Pego a chave no bolsoda calça, abro a porta e o empurro para dentro. Ele senta no sofá enquanto arranca o sapato e a camiseta.Vou até a cozinha pegar gelo para colocar no olho roxo, enquanto repito meu mantra dessa madrugada:Não posso me aproveitar de um bêbado. Não posso me aproveitar de um bêbado. Não posso meaproveitar de um bêbado.– Julieeeeeeeeee!Ele é um bêbado difícil, viu?– O que foi? – eu pergunto, voltando da cozinha, com o gelo na mão, quando ele já está deitado nosofá... de cueca! Chego perto para entregar o gelo, quando ele fala: – Voxê é tão linda. Como vuconxiguir me afastar... – e cai num sono profundo.Coloco o gelo de volta na cozinha e vou até o quarto buscar um lençol, com um sorriso no rosto.Cubro-o e dou um leve beijo em seus lábios. Não me julguem, não consegui resistir! Apago a luz evolto para minha casa, pensando que nem tudo está perdido. Amanhã é dia de traçar estratégias econseguir aliados.Acordo cedo, apesar da noite agitada. Estou decidida a colocar meu plano em ação, mas vou precisarda ajuda de George e Jo.Eles vão me matar, mas não vou esperar ficar mais tarde para acordá-los. Ligo para o celular doGeorge.– Garotinha, explodiu uma bomba ou a terceira guerra? Por que você está me ligando às seis e meiada manhã?– Reunião de emergência, lembra? Levante seu traseiro da cama. Estou passando por aí em vinteminutos para irmos à Starbucks. Presença obrigatória.– Uau! Temos uma mulher em uma missão. Ok, em vinte minutos estarei pronto.Jo não atende ao telefone. Insisto mais uma vez. Seis toques depois: – Aconteceu alguma coisa, Ju?– Preciso de você na Starbucks em vinte minutos.– Ah, jura? O que houve? É que eu estou meio... – ela não consegue completar, pois sua atenção sedesvirtua para uma voz de homem ao fundo.– Jo? Quem está aí com você? – eu pergunto, chocada.– Ninguém, é a TV. Em vinte minutos estarei lá. Beijos.E ela desliga na minha cara! Estou chocada! Termino de me arrumar e saio de casa, encontrandoGeorge em frente à casa dele.– Garotinha, o que houve? Está com cara de assustada.– Não sei... fiquei cismada com uma coisa, mas deixa para lá. Vamos tomar nosso café.Quando chegamos ao café, a Jo já está nos esperando. Nos abraçamos, pedimos nossos tradicionaiscappuccinos com baunilha e sentamos em uma mesa ao canto, mais afastada das outras.Eu conto para eles tudo o que aconteceu. Desde os momentos na sala de Danny, quando ele perdeu ocontrole, até sua ida à minha casa, de madrugada.– Nós precisamos traçar um plano de ação. Antes eu tinha dúvidas se poderia ter alguma chance comele, mas depois dessa madrugada eu tenho certeza de que, se agir direito, eu consigo conquistá-lo.– E o que você está pensando em fazer? – Jo pergunta, com ar confuso. Quando abro a boca pararesponder, George o faz por mim.– Ela vai continuar cantando lá no bar. E vai arrumar um namorado novo. Um que vai deixar Dannyenlouquecido.– Namorado?! – eu e Jo perguntamos juntas.– Sim. Você vai ter um caso com Alan. Um caso falso, mas Danny Boy não precisa saber dessedetalhe, é claro – George nos olha com um sorriso do gato de Cheshire. Tenho medo quando ele faz isso.– Eu não posso enganar o Alan! – digo, chocada.– Você não vai. Ele vai te ajudar.– Como você sabe disso? – eu pergunto e Jo olha para nós dois, assustada com o desenrolar dosacontecimentos.– Vamos ligar para ele agora – George afirma, já discando o número de Alan.– George! – eu e Jo falamos ao mesmo tempo.– Alan? Querido, é o George. Estou te aguardando na Starbucks perto de casa, com as meninas, parafalar de um assunto do seu interesse. Ok, perfeito. Bye – ele termina a ligação e se vira para nós.– Ele está vindo. Não se preocupem. Vai dar tudo certo – então sorri para nós duas e muda deassunto.Meia hora depois, Alan entra no café e há um gemido coletivo na mesa. Ele tem um grande olho roxo,que parece ainda pior que o de Danny. E está andando com um pouco de dificuldade também.Nossa, o que aconteceu?– Ei, pessoal! – ele fala e senta ao meu lado. – Linda, tudo bem?– Tudo – eu respondo. – Alan, o que aconteceu na noite passada?– Depois que eu saí do palco, Danny estava me esperando nos bastidores. Nós discutimos e ele medeu um soco. Eu revidei e a gente se embolou um pouco, até que os caras da banda e Rafe nos separaram.Eu fico chocada.– Linda, você sabe que eu estou a fim de você. Eu não vou aceitar que um cara qualquer me diga oque eu posso ou não fazer.– Alan, eu preciso ser sincera com você. Eu gosto de você, é um cara legal, lindo, e qualquer mulhergostaria de ter a chance de ficar com você. Mas, eu não posso mentir. Eu amo o Danny.Sempre amei. Ele é o homem da minha vida, apesar de ele não estar convencido disso.– É óbvio que você merece alguém que realmente te ame e que queira um relacionamento sério. Eeu não sou um cara de relacionamentos...– Qual é o problema dos homens de hoje em dia, que não querem ter um relacionamento? – Jopergunta, com ar aborrecido.– Alan, já que vocês se entenderam, nós temos uma proposta de negócios pra você – George fala e euolho para ele mortificada.– Claro, George. Do que vocês precisam?– De você, basicamente.– De mim?– Precisamos de um namorado falso para nossa amiga sacudir as coisas com Daniel.– Eu não quero ajudar esse cara.– Você não vai ajudá-lo, vai ajudar a ela.– E o que eu ganho com isso?– Do que você precisa?Jo e eu assistíamos à sua rápida negociação como se fosse uma partida de ping pong. Seria cômico,se não fosse trágico. Por mais que eu quisesse uma forma de ganhar Danny, era estranho ver anaturalidade com que George e Alan discutiam quem, quando e onde eu beijaria pelas próximas semanas.– Quero uma guitarra nova e um baixo.– Te dou uma guitarra, o baixo é demais.– Então tem que ser uma Gibson Firebird X Vermelha.– Só vou te dar no final.– E eu quero o direito de beijar Julie quando eu achar necessário.– Sem língua.– Amasso pode?– Sem amasso e sem sexo.– Tudo bem. Temos um acordo.– Alan, você vai precisar ficar preso a mim por algumas semanas... – eu falo, ainda atordoada com aconversa entre os dois.– Linda, eu disse que não queria um relacionamento, mas nunca disse que não gostaria de ter você nosmeus braços – ele pisca para mim. – Vou adorar ver aquele idiota do Daniel engolir o orgulho.Ele vira para George e diz: – Prometo que não vou tirar vantagem dela.– Temos um acordo, então? – George estende a mão para Alan, que a aperta.– Negócio fechado – então Alan vira para mim e fala. – Você sabe, linda, eu teria feito isso de graçasó para poder te beijar.– E por que não fez?– Bem, eu ganhei seus beijos e uma guitarra. Você consegue o Daniel e eu tenho algo para meconsolar.Eu dou risada.– Até parece que não terá uma fila de garotas dobrando a esquina do After Dark para te consolar.– Linda, eu estarei triste por ter sido chutado e ter meu coração rasgado. Vou merecer todo o consoloque conseguir, além da chance de tocar músicas de dor de cotovelo numa guitarra irada – ele pisca,sedutor.Droga, é melhor que o Danny se decida logo.– Agora que vocês já se acertaram – eu digo –, vamos traçar o nosso plano de ação.Nos aglomeramos na mesa e começamos a combinar os detalhes. Só espero que dê certo.Três horas depois, saímos do café. George e Jo se despedem de Alan, e cada um vai resolver suascoisas. Alan se prontifica a me levar para casa.Seguimos até meu condomínio conversando. A conversa, obviamente, cai no assunto música, eestamos bastante empolgados falando sobre instrumentos musicais quando, inesperadamente, Alan enfiameu cabelo para trás da minha orelha, toca em meu rosto e se inclina, roçando meus lábios enquantomurmura: – Se eu não fosse um cara que gosta de ser livre, eu poderia me apaixonar por você. O caraparado na porta ao lado é um cara de sorte.Oh, meu Deus! Danny está ali nos vendo. Fico sem ação e Alan assume o controle da situação eaprofunda o beijo. Depois o interrompe, tão inesperadamente como começou, e fala em um tom alto osuficiente para Danny ouvir: – Linda, vou passar aqui umas seis horas para o nosso primeiro jantar comonamorados – ele me dá um beijo, pisca e vai embora. Mal dou dois passos em direção à minha portaquando Danny vem até a mim.– Julie, o que significa isso?– Isso o quê? – eu respondo, me fazendo de desentendida.– Esse cara te beijando.– Alan? Ele me pediu em namoro e eu aceitei – ele fica pálido, por baixo do olho roxo.– Namoro? Aceitou? Depois de ontem?– Ontem? O que tem ontem, Danny?– Nós...– Que "nós", Daniel? Você me tomou contra a porta do seu escritório e depois me largou, como se eutivesse alguma doença contagiosa, e me mandou embora. Não existe "nós". Você não me quer, Alan sim.Agora, me dê licença, que eu preciso descansar para minha noite romântica – eu sigo para minha casa,deixando-o parado de boca aberta.Julie 1 × 0 Danny Boy.   

Louca por VocêWhere stories live. Discover now