Capítulo 11

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  Vou para casa depois de almoçar e passear no shopping com meus amigos. Nocaminho, penso nas músicas que tenho de ensaiar para o show dessa semana. Os meninos tocam emoutros lugares, mas eu prefiro cantar só no After Dark, e nosso dia é sempre às sextas-feiras. Não sei porque, mas acho que me sinto mais segura me apresentando perto de gente que eu gosto. Rafe, Zach...Danny. Eu sorri ao me lembrar do olhar dele na noite passada. As coisas poderiam ser mais fáceis. Nãosei por que tudo tem de ser tão complicado.Chego perto de casa e levo um susto. Alguém deixou um caminho de pétalas de rosa até a entrada.Será que Alan aprontou alguma?Vou até a porta e, quando abro, meu susto é ainda maior. A minha casa parece uma floricultura. Emtodos os cantos imagináveis da sala há rosas vermelhas de cabo longo. Alguém gastou um bom dinheiro!Fico ali uns trinta segundos, parada, sem saber o que fazer, quando um envelope chama a minhaatenção.Julie,Gostaria muito de te pedir desculpas pelas minhas ações nas últimas semanas.Finalmente eu entendi que você cresceu. Cresceu, e se tornou uma mulher linda, sexy, com uma vozpoderosa.Eu não tinha enxergado isso. Eu não queria enxergar. Queria que você fosse, eternamente, uma meninaque precisava ser protegida. E eu percebi que estou completamente errado em agir assim.Gostaria de ter a oportunidade de conhecer melhor a mulher que você se tornou. Quero que essamulher especial seja tão próxima de mim quanto era a menina Julie.Por favor, jante comigo esta noite. Apenas você e eu. Me dê a chance de conversar com você semaquele cara por perto.Quero conhecer melhor aquela mulher cuja voz me fez perder completamente o rumo. Para qualquerlugar que eu olhe, eu vejo você.Às 19h, um motorista virá buscar você para se encontrar comigo.Estarei te esperando.Seu,Danny.Acabo de ler a carta e olho novamente ao redor, incrédula. Jamais imaginei que Danny teria umcomportamento assim... romântico. Nunca o vi comprar flores ou coisas do gênero para qualquernamorada.Tiro uma foto da sala florida e mando para George com uma mensagem de texto.Minha casa virou um jardim. E um estranho se apoderou do corpo do Danny Boy.George responde de imediato.Garotinha, o que é isso? Rosas de cabo longo?! :O :O :O A operação Harry & Sally foi um sucesso,então!Parece que sim. Vou me arrumar, pq eu tenho um encontro romântico essa noite. ;) Ok. Divirta-se. Efaça TUDO o que eu faria.:DVou tomar um banho pensando na reviravolta que a minha vida estava dando. Eu não conseguiaacreditar que Danny era capaz de uma atitude tão sentimental.Após o banho, vou até o quarto enrolada na toalha para escolher uma roupa. Como eu não sei paraonde ele vai me levar, fico com medo de me arrumar demais ou de menos, e opto por um vestido preto detecido leve, que comprei com George no nosso último passeio de compras. Eu estava guardando parausar em uma ocasião especial e acho que a noite de hoje será perfeita. O vestido vai ficar lindo com opeep toe que comprei.Olho no espelho, satisfeita com a produção. Agora é hora de dar um jeito no cabelo. Eu queria fazer openteado que George faz em mim nas noites de show, mas não consigo de jeito nenhum. Seco então ocabelo e solto ele levemente em minhas costas. Fico surpresa ao ver que o meu cabelo, apesar de não teraquelas ondas que eu adoro, parece perfeito com o vestido.Olho para o relógio e está quase na hora do carro chegar. Eu me apresso com a maquiagem, commedo de me atrasar. Dou um destaque aos olhos, com um delineador bem fininho e máscara nos cílios.Um blush de leve só para dar uma cor e, nos lábios, um batom cor de boca. Estou colocando na minhaclutch celular, dinheiro e documento, quando a campainha de casa toca.Sinto um frio na barriga ao abrir a porta, e me deparo com um homem mais velho, com um ternopreto, cabelos claros e olhos bondosos, que sorri para mim.– Srta. Walsh?– Sim – eu respondo, sorrindo de volta.– Meu nome é James e eu sou o seu motorista esta noite. O sr. Stewart lhe aguarda em nosso destino.A senhorita está pronta?– Sim – respondo, e pego a minha bolsa que está no móvel próximo à porta. Acompanho-o até o carroe... Uau! Tem um BMW 3 Series GT preto nos aguardando do lado de fora! Danny realmente caprichou.– Senhorita, por favor – James fala, abrindo a porta para mim.– Para onde vamos? – eu pergunto, curiosa, enquanto me acomodo.– É uma surpresa. Mas nosso percurso tem o tempo estimado de trinta minutos – ele sorri para mim efecha a porta.Estou realmente surpresa. Sinto-me como se fosse uma das mocinhas dos livros que gosto tanto de ler,a caminho de um encontro com o príncipe.Durante o percurso, penso no passado. Fechando os olhos, eu recordo de um verão, na minhaadolescência, quando tiramos a foto que está no escritório de Danny. Nós passamos um mês em uma casade praia em Santa Monica. Naquele verão, Danny e eu passamos os nossos dias juntos, indo à praia,jogando vôlei, tocando violão em uma roda de amigos à beira do mar. Minha mente retorna a um dia emespecial, quando fomos com um grupo de amigos ao Pacific Park. É um parque dediversões que fica no píer de Santa Monica. A grande atração de lá é uma roda-gigante e, nesse dia,nos dividimos em pares e Daniel fez esse passeio comigo.– Eu adoro roda-gigante – disse para Daniel quando o condutor fechou a trava de segurança. O que eunão disse é que eu adoro quando ele anda na roda-gigante comigo.– Eu sei. Todo verão você quer andar nesta maldita coisa – ele respondeu, sorrindo. O brinquedocomeçou a rodar e ele segurou a minha mão. – Você ficou com o olhar distante. Em que está pensando? –como poderia dizer que eu gostaria que ele me beijasse? Teria de ser menos explícita.– Estava pensando que isto faria parte de um encontro perfeito.– E como seria o resto desse encontro perfeito? – ele perguntou e eu tive a sensação de que seusolhos estavam brilhando. Pensei se ele estaria interessado.– Por que quer saber? Vai me chamar para um encontro perfeito? – eu perguntei sorrindo. Senti meurosto corar. Acho que sou romântica, uma garota à moda antiga.– Quem sabe? – ele respondeu e piscou para mim. – Mas preciso saber, para ter a certeza de queconsigo chegar à altura do seu encontro dos sonhos!Eu fechei os olhos, imaginando a cena, e comecei a falar.– Ele começaria horas antes. A pessoa me mandaria flores, para demonstrar o quanto sou especial –ele riu e eu o encarei, séria. – Não vou mais contar.– Conta, Julie. Quero saber. Por favor – ele me olhou e eu não consigui resistir.– Iríamos num belo carro até a praia...– Em Santa Monica mesmo? – ele me interrompeu.– Sim. Eu amo este lugar – sorri para ele e continuei. – Ele me levaria para jantar à luz de velasnaquele restaurante à beira-mar... Sabe qual é? Aquele que tem um deque sobre a praia? – ele acenou eeu continuei: – Passaríamos a noite conversando e nos conhecendo melhor. Depois do jantar, ele melevaria para caminhar na praia e chegaríamos ao parque.– E aí?– Aí andaríamos na roda-gigante. E quando ela parasse no alto, ele me beijaria – mais uma vez sentimeu rosto corar. Droga.– Como você sabe que a roda-gigante pararia bem no alto, Julie? E se parasse e vocês estivessem naparte de baixo? – ele perguntou rindo, daquele seu jeito cético.– Daniel! Esse é o meu sonho. Jamais, no meu sonho, ela pararia na parte de baixo! – eu falei, e rimosjuntos. Um vento mais frio bateu e eu estremeci. Ele passou o braço ao redor dos meus ombros e me sentiprotegida.– Eu quero que todos os seus sonhos virem realidade, baby – ele disse e ficamos em silêncio.Pouco tempo depois, o brinquedo para e chega a nossa vez de descer. Nunca me senti tão próxima deDaniel como naquele momento, no alto da roda-gigante. Eu poderia ter ficado ali, abraçada a ele peloresto da vida. Com o fim do passeio, reencontramos nossos amigos, mas ele não largou minha mão a noitetoda.Lembro que, depois dessa noite, Danny mudou seu comportamento comigo. Alguma coisa aconteceu eele passou a agir como o irmão mais velho que não era. Olho pela janela e me dou conta de que entramosna orla de Santa Monica, perto do final da Route 66. Não estou acreditando que Daniel me trouxe aqui.Do carro, vejo a roda-gigante iluminada e me sinto tremer por dentro. Será que ele... não. Ele não devese lembrar daquela conversa. Isso foi há tantos anos!James para o carro em frente a um lindo e elegante restaurante, que não reconheço. Faz muito tempoque não venho aqui e muita coisa mudou no decorrer dos anos. Ele sai do carro e abre a porta para mim.– Srta. Walsh – ele fala e estende a mão para me ajudar a sair do carro. Eu aceito e agradeço agentileza. Ele fecha a porta e me orienta: – O sr. Stewart lhe aguarda no interior do restaurante.– Obrigada – eu sorrio para ele e sigo até a entrada. O restaurante parece... vazio. O que é estranho,para uma quinta-feira à noite em época de férias. Uma hostess vem até a porta me receber.– Srta. Walsh?– Sim – nossa, como ela sabe meu nome?– O sr. Stewart lhe aguarda no deque. Por favor, me acompanhe – ela me guia pelo restaurante, que defato está completamente vazio. Chegamos ao deque e eu fico completamente atordoada.O local está vazio, como a frente do restaurante. Porém, está todo iluminado com velas. Floresvermelhas, como as rosas que ele deixou na minha casa, enfeitam as mesas. O clima está perfeito parauma noite ao ar livre. A hostess aponta em direção a Danny, que está debruçado na grade do deque,olhando o mar. Ele está com um terno escuro e eu nunca o vi tão arrumado, exceto nos casamentos dafamília. Vou até ele e, antes que eu me aproxime, ele se vira para mim. Nem parece o mesmo homeminfeliz de algumas noites atrás. Ele está com a barba feita e o que mais me chama atenção são aquelesolhos extremamente verdes, que parecem ainda mais brilhantes. Ele sorri para mim, segura a minha mão ea beija.– Obrigado por ter vindo, Julie.– Danny, eu não posso acreditar que você fez tudo isso. O restaurante está vazio. Como pode? – eletoca no meu rosto e responde sem desviar os olhos dos meus.– Eu reservei o restaurante só para nós dois esta noite. Temos toda a privacidade que desejarmos.Eu poderia até fazer amor com você numa dessas mesas, que ninguém nos interromperia – ele pisca,brincalhão, e eu fico completamente vermelha.– Daniel!– Estou brincando, baby. Mas esta noite é nossa. Como eu disse na carta, quero te conhecer melhor.Conhecer a Juliette adulta, não a menina que eu imaginava que você fosse – ele me puxa para perto dele enos vira em direção ao mar. – Eu nem lembrava que sentia tanta saudade daqui.– Eu amo esse lugar, Danny. Os meus momentos mais felizes foram aqui – digo emocionada. Elepassa o braço ao meu redor, beija meu cabelo e aponta para o céu.– O céu daqui sempre foi mágico, não é? Olha quantas estrelas – de fato, parece um tapete estrelado.Nunca vi um céu igual ao de Santa Monica no verão.– É perfeito – eu murmuro, emocionada demais para continuar falando. Passamos mais alguns minutosolhando o céu e o mar, abraçados, até que ele murmura no meu ouvido: – Vamos pedir nosso jantar?– Vamos – eu sorrio e ele me leva até uma das mesas. Nós sentamos e ele não solta a minha mão.– Eu acho que eu não te falei como você está linda – ele diz e eu baixo os olhos, envergonhada.Não sou boa em lidar com elogios. – Sério, Ju. No palco, você fica linda, com o cabelo ondulado eaquela maquiagem, mas eu realmente gosto do seu cabelo assim. Parece mais... real.Eu sorrio, e um garçom aparece com uma garrafa de champanhe em um balde de gelo e duas taças.Nós brindamos e bebemos o champanhe em silêncio, aproveitando o momento, Daniel até mepergunta se estou gostando de cantar no After Dark.– Estou amando. A banda é muito boa e a plateia é maravilhosa. As pessoas são muito receptivas.O garçom serve o jantar, e a conversa continua animada. A companhia de Daniel é realmenteencantadora, e ele me faz lembrar o Danny daquele verão do nosso passado. Falamos sobre os maisdiversos assuntos: seu interesse em expandir o bar para outras cidades, a família, nossos amigos, coisasque gostamos de fazer. Durante a sobremesa, eu olho para ele e me sinto extremamente feliz. Éum momento perfeito, no qual eu vejo o quanto nós temos em comum.Quando terminamos o café, Daniel sorri e me convida para dar uma caminhada. Já é bem tarde, mas apraia de Santa Monica continua movimentada, com turistas aproveitando todos os momentos possíveis.Caminhamos pela orla, de mãos dadas, e me parabenizo por ter colocado um sapato que, apesar debonito, é bastante confortável. O passeio está tão gostoso que não quero que acabe.Enquanto nos aproximávamos do parque, meu coração começou a bater mais forte. Eu não deveria mesentir assim. A essa hora, o parque já está fechado, apesar das luzes dos brinquedos continuarem acesas,dando um colorido todo especial ao lugar.Danny sorri para mim e vai até o portão. Estou prestes a questionar o que ele vai fazer, quando umsenhor se aproxima e o cumprimenta, deixando-nos entrar.– Danny, o que estamos fazendo? O parque já fechou.– Não para nós, baby – ele sorri, tira o blazer e desfaz o nó da gravata. O senhor que nos deixouentrar sorri, pede licença e se afasta, levando embora as roupas que Danny tirou. Eu fico parada, olhandopara ele, sem entender. Depois de dobrar as mangas da camisa social, Daniel estende a mão para mim eeu a aceito. Ele nos guia até a entrada da roda-gigante. Um rapaz está nos esperando; ele aperta a mão deDanny e nos acomoda na cadeira.– Danny... nossa, eu nem sei o que dizer. Como você conseguiu isso? – eu falo, ainda estupefata comtoda a situação.– Baby, anos atrás você me contou como seria o encontro dos seus sonhos, lembra? – eu aceno com acabeça, emocionada demais pelo fato de ele ter se lembrado daquele dia. – Eu também lembro. E euqueria que hoje fosse o seu encontro dos sonhos. Talvez assim você se sentisse tentada a largar aquelecara de vez e, quem sabe, me dar uma chance.Nesse momento, a roda-gigante para. Eu olho ao nosso redor e me dou conta de que estamos no altodela. Encaro Danny e me perco em seus olhos verdes. Ele se aproxima e murmura, antes de colar oslábios nos meus, a mesma frase que me disse naquele verão: – Eu quero que todos os seus sonhos viremrealidade, baby.A única palavra que tenho para descrever aquele beijo é: mágico. Mais uma vez, junto de Danny,sinto como se eu tivesse, finalmente, encontrado meu lugar. De repente, a roda-gigante começa a descer eafastamos os lábios. Danny sorri para mim, e percebo que ele parece tão emocionado quanto eu. Elepassa o braço por trás dos meus ombros, me puxando para bem perto de si, e olhamos juntos o mar deSanta Monica.Alguns minutos depois, o passeio acaba. Danny segura a minha mão e vamos andando de mãos dadasaté a saída do parque.Chegando lá, o senhor da portaria entrega a ele o blazer e a gravata, e se despede de nós. Do lado defora, James já nos aguarda. Quando nos vê sair, ele abre a porta do carro e me ajuda a entrar.– O passeio foi bom, senhorita? – ele me pergunta com aquele sorriso simpático no rosto.– Sim, foi perfeito! – eu sorrio de volta e Daniel entra no carro, sentando ao meu lado. Ele me abraçae vamos para casa assim, juntos por todo o percurso.Na chegada ao nosso condomínio, eu me sinto um pouco trêmula, em antecipação ao que vaiacontecer.Ele abre para mim a porta da minha casa, sorrindo ao ver a floricultura que minha sala se tornou.Seu olhar se prende ao meu e ele, mais uma vez, me beija.Esse é um beijo forte, cheio de desejo acumulado, muito parecido com o beijo que ele me deu pelaprimeira vez, em seu escritório. Danny segura meu cabelo com força, aprofundando o beijo, e a únicacoisa que consigo pensar é que eu não quero que acabe nunca.Tão de repente quanto começou, Danny se afasta, terminando o beijo. Ele parece estar tão afetadoquanto eu pela química que existe entre nós. Quando acho que ele vai sugerir irmos para o meu quarto,ele me surpreende dizendo: – Baby, não posso mais te tocar enquanto você estiver com Alan. Eu queromuito ficar com você.Talvez você nem imagine o quanto. Mas eu sei que, se fizéssemos amor hoje, amanhã você não seperdoaria por ter traído aquele cara. E eu não quero que o que vai acontecer entre nós seja um segredinhosujo.– Mas Dan... – eu começo a falar, quase pronta para confessar que Alan é uma farsa, mas ele meinterrompe.– Não, Ju. Eu vou para casa e você vai pensar sobre o que você quer. Se você quiser ficar comigo,antes precisa terminar com ele. Amanhã é dia do show de vocês, e nós vamos combinar assim: se vocêterminar com ele para tentarmos ficar juntos, você vai cantar, em algum momento do show, Tears inHeaven. Se você não cantar, eu vou entender que você escolheu ficar com ele e vou respeitar, ok? Temosum acordo, baby?– Sim, Danny, temos um acordo.Ele sorri, dá um leve beijo nos meus lábios e se afasta, soltando aos poucos uma mecha do meucabelo.– Boa noite, minha Ju. Durma bem – ele diz baixinho e vai embora, fechando a porta atrás de si.Eu encosto na porta fechada, feliz com a noite mais maravilhosa que já tive na vida e pensando quevou precisar fazer uma alteração na playlist do show  

Louca por VocêWhere stories live. Discover now