Capítulo 7

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  A semana passa tranquila, e eu aproveito para ensaiar a playlist de sexta. Confesso queestou um pouco nervosa. Só de imaginar que um crítico importante do LA Times vai assistir ao show, ficocom as pernas bambas.Danny não voltou ainda, então estou mais tranquila, esperando que ele só chegue no sábado, comoprevisto.Hoje é o dia do show, e Jo e eu vamos a um salão perto do After Dark para arrumar o cabelo e fazeras unhas. Visto um short jeans e uma blusa soltinha que cai no ombro deixando-o de fora. Nos pés umasandália baixinha. Deixo o cabelo solto, apesar de não saber arrumar daquele jeito que o George fez. E,no rosto, passo só rímel e gloss.Olho no espelho e vejo como estou diferente. Não é só o meu visual. Vejo um brilho mais conscienteno meu olhar e me sinto mais segura.O dia hoje está bonito. Saio de casa e sorrio para o sol, e fico feliz quando o tempo está bom.Chamo um táxi e vou para a casa de Mary e Paul, meus pais de criação. Combinei de encontrar com aJo lá para tomar café da manhã.Mary é uma dessas mães que faz questão de alimentar a família. E quando digo alimentar, quero dizerempanturrar mesmo. Fiz um jejum de catorze horas para conseguir enfrentar seu café da manhã.Não sei como nenhum de nós engordou na adolescência.Mal desço do táxi, Paul já está na porta me esperando. Corro até ele, dando um super abraço.– Julie, quanto tempo! Estávamos com saudade.– Eu também, Paul – falo com um sorriso no rosto, demonstrando todo o carinho que sinto por ele.– Deixa eu te olhar. Você está tão bonita! – nesse momento, Jo sai de dentro de casa e sorri.– Pai, você não viu nada. Ela cantou no AD na semana passada. Eu e o George a arrumamos e elaficou lindíssima. Nem parecia a mesma pessoa. Olha só.Para minha surpresa, ela abre no celular uma foto que eu nem tinha visto que havia sido tirada.Reconheci perfeitamente o momento da foto. Eu estava nos bastidores, perto dos meninos da banda.George tinha brincado comigo, falando alguma besteira, como sempre, e eu abri um grande sorriso.Surpreendi-me com a minha expressão de total felicidade na foto. E, no fundo, por trás de mim, vejoAlan. Sorrindo, com um ar meio... sonhador.– Jo, você tem toda a razão – Paul fala. – Minha querida, você está linda. Mary vai ficar emocionadade te ver assim.Eu sorrio e o abraço mais uma vez.– Mas, filhas, o Daniel deixou?– Xi, Paul, essa é uma longa história. Vamos entrar e tomar café – disse, puxando os dois para dentrode casa.Tomamos um café reforçado feito por Mary, enquanto contávamos animadas do show. Após nosempanturrarmos, Jo faz sinal de que está na hora de irmos...– Ah, não, Jo. Deixa eu ficar quietinha um pouquinho. Só quero rolar até encontrar uma cama – eufalo, gemendo.– Nada disso. Pode arranjar forças que a gente tem que ir para o salão. E ainda vamos escolher suaroupa – Jo fala, me empurrando.– Julie? – Mary me chama quando estou prestes a levantar da mesa. – Posso falar com você umminuto?– Claro. – Será que ela está aborrecida porque eu cantei no AD? Vamos até o jardim, onde podemosconversar sozinhas.– Julie, você sabe que eu considero você como uma filha, não sabe?– Sim, eu sei.– Então, vou te dar um conselho que a sua mãe te daria – eu balanço a cabeça, com lágrimas nosolhos. Só de me lembrar da minha mãe, sinto um aperto enorme no peito. – Apesar de considerar vocêuma filha, dou graças a Deus, todos os dias, por você não ser. Eu sei sobre os seus sentimentos.Vejo nos seus olhos a cada vez que alguém toca no nome do Daniel, desde que você era umamenininha. E eu tenho certeza de que você é perfeita para o meu filho. Eu não escolheria ninguém melhordo que você para cuidar dele e amá-lo – minhas lágrimas descem incontrolavelmente. – Oque eu tenho para te aconselhar é: acredite em você e em seu potencial. Tenha fé no amor. E nãodesista. Mesmo que você tenha de ir por caminhos tortos para alcançar o seu objetivo.Ela me abraça e eu choro um pouco mais.– Só mais uma coisa – eu olho para ela com expectativa. – Não vai ser fácil, você vai ter um longocaminho a seguir. Mas faça o Daniel sofrer um pouquinho, tá? Não muito, sou mãe e não quero vê-loarrasado. Mas ele precisa acordar e entender que a vida não se resume a uma mulher por dia e a cuidardo bar.Rimos juntas, enquanto eu enxugo minhas lágrimas, tentando me recompor. Na volta para a cozinha,eu digo a ela: – Mary?– Sim, querida?– Obrigada. Eu te amo.Ela sorri para mim.– Eu te amo mais.Para minha surpresa, Jo marcou um dia de spa para nós duas. Começamos com uma massagemrelaxante, banho de ofurô e depois relaxamento com pedras quentes. Estava tão relaxada que meu corpoparecia flutuar. Eu deveria ter desconfiado. Quando a esmola é demais, o santo tem que desconfiar.– Srta. Walsh? Tsuki, nossa esteticista, te aguarda na sala de depilação. Final do corredor à suaesquerda.– Na sala do quê? – eu perguntei de boca aberta. Eu não estava convencida de que queria passar pelasessão de tortura.– Depilação. Sua amiga marcou uma sessão de depilação completa para a senhorita.Vou matar aquela filha da... droga. Não tenho coragem de xingar a Jo, principalmente depois de hoje.Mas, ainda assim, depilação não foi uma ideia legal.Agradeço e sigo na direção indicada. Bato na porta e uma senhora baixinha, oriental, recebe-me comum sorriso tranquilizador.– Srta. Walsh, seja bem-vinda. Pode tirar a roupa atrás daquele biombo e vestir o roupão. Quandoestiver pronta, deite-se na maca.Sigo até onde ela indicou e troco de roupa. Caramba, estou bem nervosa!Deito na maca e fico aguardando a torturadora, ops, depiladora.– Srta. Walsh, fique tranquila. Não vai doer nada – ela diz com calma, como se falasse com umacriança.– Ok – eu respondo, sem conseguir elaborar uma frase completa, de tanto medo.– Vou seguir a orientação da sua ficha, ok?– Orientação? Que orientação?– Para fazer uma depilação à brasileira.– Ok – que raios será isso? Coisa boa não deve ser: uma depilação à brasileira, que será feita poruma oriental? Algo parece errado. Mal tenho tempo de concluir meu pensamento quando ela abre meuroupão e aplica a cera. Espera um pouquinho e... Eu grito de dor. Puta merda! Ela puxou! Vou matar a Jocom requintes de crueldade.– Dona Tsuki, está bom, obrigada.– Não, não, não. Ainda temos muito o que fazer aqui – ela me empurra de volta para a maca e eu mesinto condenada à forca.Reencontro a minha ex-melhor amiga na sala da manicure. Quando ela me vê com o rosto vermelho eandando de um jeito estranho, começa a rir.– Não ria. Neste momento, eu te odeio.– Amiga, não fica assim. Foi para o seu bem. Considere como um presente. Da próxima vez que oAlan resolver te lamber, ele pode querer fazer em outro lugar, né?– Johanna! – pronto. Agora sim, pareço um grande pimentão vermelho.– Ué! Vai que você resolve dar uma chance pra ele! Se bem que você ainda tem o Danny na cabeça...Eca, não quero pensar no meu irmão lambendo as partes íntimas de ninguém!– Jo! De onde você tirou isso? Quem anda te lambendo por aí? – agora quem fica roxa é ela. Pega noflagra!– Eu? Deixa de ser boba. Não se pode mais fazer um agrado para uma amiga que você vem logo comdesconfiança. Senta logo que Mimi não vai te esperar a vida toda.Mimi pega a deixa e me coloca sentada na cadeira, me entregando uma maleta lotada de esmaltescoloridos, enquanto ela começa a fazer o meu pé. Depois de muito remexer, escolho um rosinha claro.– Ah, não! Você não vai passar essa cor! Se eu deixar você pintar de rosinha, o George me mata.– E de que cor a madame quer que eu pinte as minhas unhas? – eu respondo fazendo uma carranca.– Empresta isso aqui – ela nem espera, e tira a maleta da minha mão com força, fazendo Mimi errar etirar um bife do meu pé. Droga.– Esse não... também não... não.... aqui! Perfeito! – ela estende um esmalte vermelho metálico,quase da cor de uma maçã do amor.– Mas é tão vermelho...– Ju, você agora é uma nova mulher. Esquece o rosinha e se joga no vermelho. Vai ficar lindo com ovestido de hoje à noite. Não contesta, amiga. Aceita.– Ok – nem adianta tentar discutir. Recosto na minha cadeira enquanto Mimi cuida dos meus pés etento relaxar, repassando mentalmente as músicas para o show.Mais uma vez, aproveito que Danny está fora e uso seu escritório como camarim improvisado.Dessa vez, estou usando um vestido todo preto, brilhante, com um decote nas costas tão profundo quenão posso usar sutiã. Minha roupa íntima se resume a uma calcinha fio dental de renda preta, que compreina Agent Provocateur com George. Ele tinha toda a razão. Eu precisava de uma lingerie que melevantasse.Uma sandália alta e um par de brincos compridos complementam o visual. Mais uma vez, meu cabeloestá solto, com cachos largos e a maquiagem dá total destaque aos meus olhos.Quando acabo de me arrumar, aproveito a solidão da sala e penso sobre a vida. Preciso tomarcoragem e falar com Danny, ou esquecê-lo de vez. Eu sei que Alan está todo interessado, mas, apesar degostar dele, eu sei que, lá no fundo, Alan não aperta os "botões certos" dentro de mim. Fora que eleconsegue ser mais mulherengo que o Danny. A quantidade de mulheres esperando por ele ao final de cadashow é ridícula.Ando pela sala, olhando as fotos na estante, e encontro uma foto nossa, de quando eu tinha dezesseisanos e o Danny, dezenove. Ele já era bem alto nessa época. Foi quando ele retornou para as primeirasférias de verão da faculdade. Passei o mês inteiro grudada nele como um chiclete. Ele parecia estar felizcom a minha presença. Vivia me abraçando, fazendo carinho. Eu realmente achei, naquele momento, quealgo mais aconteceria. Até que ele mudou. Ficou mais sério e mais... protetor, eu acho. Não sei o queaconteceu naquele verão, mas algo mudou o comportamento de Danny em relação a mim.Uma batida na porta me afasta das minhas lembranças. Coloco a foto no lugar e vou abrir.– Garotinha, você está linda! – George entra na sala, todo animado. Eu sorrio para ele, porque éimpossível não sorrir quando George está comigo.– Obrigada. Está na hora?– Faltam dez minutos. Quer alguma coisa? Água? Champanhe? Bombons? Lambida do Alan?– George! – eu o repreendo, mas sou interrompida pela entrada de Rafe, que veio me chamar para oshow. Acho incrível que o Rafe ainda não tenha sido fisgado por ninguém. Ele é um cara lindo, sério,maduro. Aquele tipo que assume as responsabilidades. Não é um pegador, muito pelo contrário. É otípico genro ideal. Ele faria um par lindo com a Jo, mas, se o Danny imaginar algo desse tipo, vai ser umproblema. Que homem ciumento, viu!– Julie, você está linda. Está pronta?– Obrigada, estou sim – eu sorrio e ele me dá o braço como o perfeito cavalheiro que é. Nóscaminhamos até os bastidores do palco e Rafe me pede licença para ir falar com alguém. Olho para frentee vejo Alan vindo em minha direção e me olhando de cima a baixo, com cara de safado.– Quer que eu pergunte se ele quer maionese para acompanhar? Porque ele está te comendo com osolhos... – George fala no meu ouvido.– George, meu Deus!– Talvez eu devesse oferecer leite condensado. É mais gostoso de lam..– GEORGE! – eu grito, e ele se assusta. Nossa, ele ficou tarado na lambida do Alan!– Hey, linda! – diz Alan, se aproximando.– Hey!Ele chega ainda mais perto.– Você está ainda mais linda. Como pode? – se ele chegar mais perto, vai ficar colado em mim.Ele não tem muita noção do que é espaço pessoal.– Obrigada – eu dou um sorriso e o empurro um pouquinho. – Vocês estão prontos? Podemoscomeçar?– Linda, eu estou sempre pronto – ele me dá uma piscada e segue para o palco. Esses homens queremme deixar louca.Respiro fundo e subo no palco. O bar está lotado e as pessoas começam a nos aplaudir. Sorrio para aplateia e me posiciono em frente ao microfone.Optamos por abrir o show com uma balada mais romântica. Alan começa a tocar os primeirosacordes de Come Away With Me, da Norah Jones.Fecho os olhos, concentrando-me na canção. Mais uma vez, meu pensamento divaga até Danny.Come away with me in the night Come away with me and I will write you a song Come away withme on a bus Come away where they can't tempt us with their lies DanielEstaciono na minha vaga no After Dark. Eu e Zach voltamos de São Francisco um dia mais cedo doque esperávamos. A volta foi bastante conturbada, pois o voo teve muita turbulência. Zach foi umpéssimo companheiro de viagem. Quase não abriu a boca para falar, o tempo todo prestando atenção nocelular. E, para piorar, nossas malas foram parar na esteira do outro lado do aeroporto.Cheguei em casa, tomei um banho e vesti uma calça jeans e uma camiseta preta. Estava atrasado,então nem fiz a barba, que já despontava no meu rosto. Uma semana longe do bar me deixa nessaansiedade. E, devo confessar, sinto uma ponta de esperança de ver a loira gostosa em ação hoje à noite.Desço da minha moto, uma BMW 1600 GT. Não sou um cara ostentador, mas quando o After Darkcomeçou a prosperar me dei ao luxo de investir na moto dos meus sonhos.Sigo pelo estacionamento e, quando me aproximo da porta, escuto os primeiros acordes de ComeAway With Me serem tocados em um violão. Abro a porta e sou envolvido por uma voz rouca que canta.Come away with me in the night Come away with me and I will write you a song Come away withme on a bus Come away where they can't tempt us with their lies Sinto um arrepio dos pés à cabeça.Olho para o palco e vejo a silhueta da loira gostosa, balançando em frente ao microfone, no ritmo lentoda canção. Estou atordoado, como se algo me puxasse para frente e eu precisasse chegar mais perto delae até mesmo tocá-la. Merda! Estou parecendo uma menininha de romance. Acho que uma semana deabstinência está deixando a minha cabeça confusa. Nesse momento, ela avança na canção e, mais umavez, me sinto preso. Não consigo desviar o olhar.And I wanna walk with you On a cloudy day In fields where the yellow grass grows knee-high Sowon't you try to come Sinto como se estivesse sendo puxado por uma corda imaginária, não consigo tiraros olhos do palco. Pessoalmente ela é ainda mais linda. Sua pele é clara, seu corpo é de tirar o fôlego,com uma cintura fina e bem marcada e seios que encaixariam perfeitamente na minha mão. Ela se virasutilmente para o lado, ficando um pouco de costas para mim, e vejo a bunda perfeita enfatizada pelodecote do vestido.Nessa hora, é como se eu estivesse entorpecido. Ela canta a terceira estrofe da música e tudo o que euconsigo ver é a sua imagem, deitada na minha mesa do escritório, nua, cantando essa músicaenlouquecedora no meu ouvido, enquanto a fodo com força.Come away with me and we'll kiss On a mountain top Come away with me and I'll Never stoploving you Escuto um barulho de champanhe abrindo e tento tirar esse pensamento da cabeça. Aproximomedo balcão do bar, tentando recuperar o controle. Aceno para o barman e, subitamente, me dou contade que Ju não está em seu posto hoje.– Luke, onde está Ju? – pergunto ao barman, que não tira os olhos da loira no palco. Ele faz um acenoà frente e a loira entra na quarta estrofe. A voz dessa mulher está me deixando maluco. Minha mente sedispersa novamente, e quando ela canta segurando o microfone eu a imagino segurando o meu pau.And I wanna wake up with the rain Falling on a tin roof While I'm safe there in your arms So all Iask is for you Sentindo meu pau cada vez mais duro dentro da calça, continuo andando em direção aopalco, como um leão atrás de sua fêmea, quando ela canta os últimos versos da música.To come away with me in the night Come away with me O Alan idiota toca os acordes finais damúsica e a loira vira em minha direção, abre os olhos, sorri e... PUTA QUE PARIU! É A JU!   

Louca por VocêWhere stories live. Discover now