confessando Meus Pecados!!

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A chuva hesitou quando os espíritos desapareceram. Só havia subjugado um deles, mas os outros fugiram também, de volta aos poços que, por certo, assombravam. Talvez aquele fosse seu líder, talvez os homens se transformem em covardes após a morte. Não sei.

  Quanto aos meus próprios covardes, eles não tinham para onde fugir, e foi bem fácil encontrá-los. Primeiro, encontrei Makin. Ele, pelo menos, regressava.

  “Então você achou companhia, hein?”, eu lhe disse.

  Ele fez uma breve pausa e olhou para mim. A chuva já não caía muito forte, mas ele ainda parecia um rato afogado. A água corria em arroios sobre seu peitoral, dentro e fora dos amassados. Ele checou cada lado do pântano, ainda nervoso, e abaixou sua espada. Um homem sem medo não sabe o amigo que está perdendo, Johnn”, ele disse, desenhando um sorriso com aqueles seus lábios grossos. “Correr não é errado. Pelo menos se você correr na direção certa.” Ele acenou para Rike, que lutava contra um torrão de junco, atolado na lama até o peito. “O medo ajuda um homem a escolher suas lutas. Você está lutando todas, meu príncipe.” E ele fez uma saudação, ali, no caminho dos cadáveres, com a chuva escorrendo do seu corpo.

  Olhei Rike, de relance. Maical tinha problemas similares numa
poça do outro lado da estrada. Só que seus problemas chegavam à altura do pescoço.

  “Vou entrar em todas as lutas quando o fim chegar”, eu lhe disse.

  “Escolha suas lutas”, respondeu Makin.

  “Escolho meu terreno”, disse. “Escolho meu terreno, mas não corro. Nunca. Já fizemos isso, e ainda temos a guerra. Eu vencerei, irmão Makin. Eu darei fim a esta guerra.”

  Ele me fez outra saudação. Não tão reverente, mas dessa vez senti que era de verdade. “É por isso que eu o seguirei, meu príncipe. Haja o que houver.”

  Naquele momento, fomos pescar nossos irmãos de dentro da lama. Primeiro Maical, ainda que Rike uivasse e nos amaldiçoasse. Como a chuva enfraquecera, eu pude ver o tordilho e o baú das cabeças a uma certa distância. O tordilho teve o bom-senso de permanecer na estrada, ao contrário de Maical. Se ele tivesse guiado o cavalo até o pântano eu o deixaria afundar.

  Depois, era a vez de Rike. Quando chegamos a ele, a lama estava quase em sua boca. Não víamos nada além de seu rosto branco acima da poça, mas isso não o impedia de gritar suas tolices a torto e a direito. Achamos a maioria dos homens na estrada, mas seis foram sugados muito rapidamente, perdidos para sempre; provavelmente se preparando para assombrar o próximo bando de viajantes.

  “Eu vou buscar o velho Gomsty”, disse.

  Havíamos andado um longo caminho pela estrada e as luzes praticamente sumiram. Olhando para trás, não víamos as jaulas, apenas véus cinzentos de chuva. No pântano, os mortos esperavam. Sentia seus pensamentos gélidos se arrastando sobre minha pele.

  Não falei para os homens virem comigo. Sabia que nenhum me acompanharia e não é bom para um líder receber não a uma de suas ordens.

  “O que você quer com aquele velho padre, irmão Johnn?”, indagou Makin. Estava me pedindo para não ir, mas não poderia dizer em voz alta.

  “Ainda quer queimá-lo vivo?” Até a lama era incapaz de esconder a repentina alegria de Rike.

  “Sim, quero. Mas não é por isso que vou buscá-lo.” E retornei pelo caminho dos cadáveres.

  A chuva e a escuridão me envolveram. Perdi meus irmãos, que aguardavam na estrada. Gomst e as jaulas estavam mais à frente. Andei em um casulo de silêncio, com nada além das palavras suaves da chuva e do som de minhas botas.

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