Prólogo

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 Ela permaneceu com os olhos abertos tentando entender onde estava e quando mal se deu conta de que não conhecia o local, um soco atingiu seu rosto e ela gritou de susto e dor, onde estava? Por que sua cabeça não parava de girar como se estivesse bêbada? E por que sentia uma ânsia horrível?

 Ouviu uma risada vinda de trás de si e tentou se virar para ver de quem era percebendo que seus braços se encontravam amarrados atrás da cadeira. Procurou por algum rosto conhecido ali, mas em cada canto que olhava, ela só encontrava mais estranhos. Sentiu o coração doer ao notar que estava sozinha e depois de tudo que tinha feito, ela sabia que ninguém a encontraria e nem mesmo viriam busca-la.

  — Está com medo, lindinha? — disse uma voz que ela conhecia muito bem — Ou só está se sentindo sozinha?

 Charlotte ergueu o olhar até o rosto dele e sentiu a ânsia voltar, como ela poderia ter se deixado levar por ele? Como poderia ter sido tão ingênua? No fundo, ela sabia que tudo aquilo estava acontecendo por causa de todas as suas atitudes egoístas e por seu orgulho estar sempre acima de tudo.

 Pensou em como seus amigos poderiam estar naquele momento e até mesmo no fato de que poderia estar escolhendo o vestido para o baile de formatura. Como pôde ter se deixado levar por aquele homem? Sempre tão esperta e tinha sido tão boba. Ela jamais se perdoaria.

 Mais um soco.

  — Ah, como me deixa feliz ver esse olhar de derrota estampado no rosto de um Hills — disse ele enquanto puxava uma cadeira para se sentar de frente para ela — Não fique tão triste, logo seu pai virá lhe fazer companhia, doçura.

Charlotte fez uma careta para ele e continuou séria, sabia que naquele momento não adiantaria discutir, a única coisa que poderia fazer era suspirar e esperar por sua morte certa, mal conseguia sentir os braços de tão apertada que estava a corda que os amarravam atrás da cadeira.

A loira agradeceu mentalmente por ter comido naquele dia ou não poderia aguentar o que estava passando naquele momento. Encarou o chão com o olhar perdido e mal escutou quando um barulho estrondoso veio do fundo do local espaçoso e imundo.

— Mas o que é isso? — gritou Henrico e olhou ao redor em busca de seus capangas que agora corriam de um lado para o outro com as armas em mãos — Verifiquem o que foi isso — ordenou.

 Charlotte ergueu a cabeça e olhou para todos os lados, tentando entender o que acontecia, assim que viu que a atenção tinha sido desviada dela, a garota tentou desamarrar os braços. Quando sentiu o nó da corda ficar frouxo, outro soco a atingiu em cheio no rosto, fazendo com que um pequeno corte se abrisse no canto da boca que ela mordia antes ao estar concentrada.

  — Acha mesmo que vai conseguir escapar sua vadiazinha? — perguntou ele com o olhar assassino no rosto — Não duvide do que sou capaz, você me entendeu?

 Ela assentiu com a cabeça sentindo-se zonza com a pancada, mal conseguia abrir a boca para falar, aquele tinha sido o terceiro soco que levava. Imaginou como seu rosto deveria estar e balançou a cabeça levemente no intuito de espantar os pensamentos, ela ficaria louca se pensasse nisso.

 Henrico se afastou dela por alguns segundos quando um de seus homens se aproximou para contar algo. Ele sorriu convencido e meneou a cabeça em um gesto positivo como se autorizasse algo. Assim que deu a ordem, parte do grupo ali presente caminhou para fora do local.

  — Acho que seus amiguinhos ficaram magoados por não termos chamado eles para brincar e decidiram vir tirar algumas satisfações — ele continuou sorrindo e se aproximou dela, esfregando o cano da arma que ele segurava na bochecha da loira — Tão linda, uma pena ter nascido na família errada...

 Charlotte sentiu o sangue gelar quando o ouviu falar sobre os amigos, mata-la era uma coisa, mas matar seus amigos era outra. Apesar de todos os erros que tinha cometido, ela não queria continuar cometendo outros e se eles estavam ali significava que ainda tinham esperanças nela e que se preocupavam.

  — Sabe, Rico... — ela começou a falar no intuito de manter a atenção dele enquanto o homem a rodeava na cadeira como uma onça prestes a dar o bote — Eu sempre achei que você fosse bonzinho, mas agora vejo que não é, e bem, no fundo eu sempre tive uma quedinha por caras maus.

  — Hmm... E eu tenho a impressão de que está tentando me enrolar — disse ele no ouvido dela e descendo os lábios até o pescoço delicado.

 A garota sentiu um arrepio de medo e repulsa quando sentiu os lábios dele beijando a pele de seu pescoço e ela engoliu em seco, precisava continuar. Por sorte o arrepio tinha sido interpretado por ele como um tipo de permissão. Fechou os olhos com força e suspirou como se estivesse gostando daquilo.

  — Por que eu faria isso? — perguntou enquanto o observava baixar a guarda para ela — Não vai te fazer mudar de ideia, vai? Já que vou morrer de qualquer jeito, que seja de uma forma da qual eu aproveite muito bem — sorriu tentando parecer confiante.

 Henrico sorriu para a jovem, mostrando a fileira perfeita de dentes brancos.

  — Você pode até ter razão, querida... — disse com a voz rouca enquanto descia a mão até a parte interna da coxa dela.

 Charlotte prendeu a respiração e rezou para que seus amigos estivessem bem. Ela precisava conseguir sair dali.

  — Acho que você precisa me soltar primeiro — disse ela enquanto ele deslizava a alcinha fina da blusa de renda rosa claro que ela usava.

  — Sempre gostei de tentar coisas diferentes — ele respondeu e a loira ficou séria, ela precisava agir como a antiga Charlotte.

  — Eu não vou ficar desse jeito apenas para a sua diversão, então ou você me solta ou saia de perto de mim.

  — Está tentando me dar ordens? — ele perguntou sem parar o que fazia.

  — Não foi você que disse que gostava de tentar coisas diferentes? — ela sorriu de lado, erguendo o queixo em sinal de desafio, ela precisava conseguir, tudo dependia dela agora, ou todos ali iriam morrer.    

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