Capítulo 05

22 5 5
                                    

JURASSIC PARK (1993)

   O tempo tem acompanhado meu estado de humor, ou os momentos que vivo. Ou os dois.

   Durante minha louca e incessante busca pelo Theo os dias em São Paulo eram de chuva, tempo cinzento e preguiço, no qual o cobertor era minha melhor companhia. Após nosso primeiro encontro os dias estão mais quentes, com entardecer colorido e noites estreladas.

   Minha criatividade aflorou como flor na primavera, meu temperamento está mais alegre vibrando no meu trabalho.

   Faz alguns dias que não falo com os meus amigos, acredito que estejam ocupados com suas rotinas, digo por mim mesma, desde meu surto, não parei mais de escrever, inclusive editar outras histórias.

   Tendo essa overdose diária de leitura e escrita, pude perceber que esse mundo lúdico faz parte, mesmo que pouco, da minha vida. Essa mudança repentina de humor, só pelo simples fato de ter tido uns 20 minutos com ele me ajudou e muito no meu trabalho, aliás, está ajudando, pois hoje recebi uma mensagem sua se eu topava um cinema a noite.

   Eu que já estava feliz, mesmo com o desfecho do nosso último encontro, fiquei mais extasiada, corroborou ainda mais na minha escrita, pois no exato momento em que estava num impasse para finalizar um capítulo, a tela do meu celular brilhou com a chegada da mensagem.

   As mãos suaram, instantaneamente mordi meu lábio numa mistura de estar seduzida pelo convite e pelo nervosismo de que alguma coisa poderia acontecer, olhos vidrados na espera de sua resposta, que não demorou para chegar.

   Tudo combinado, então decidi finalizar o capítulo, fazer alguma coisa para comer e começar a pensar nos dramas fúteis em "Qual roupa devo usar?" "Maquiagem, muito carregada ou algo mais leve?" Rio de mim mesma com essas preocupações que não vão fazer diferença alguma, afinal no meu dia a dia quem deixa meu rosto "enfeitado" é o óculos de lentes redondas.

***

- Eu gostei do... – Theo oscila me olhando de cima abaixo. – macacão com a camisa xadrez. Ah, e os óculos, eles são irresistíveis. – Eu o encaro e caímos na gargalhada. – Isso é tão você. – Ele fala isso depois que seu peito se acalmou da "risadaria".

   Nessa breve pausa, senti a sensação do vento fresco da noite no rosto, olhei para cima e não muito diferente das outras noites o céu está coberto de estrelas e com uma lua de fazer inveja ao Sol.

- Acho que vou considerar isso como um elogio. – Avanço o passo em direção à bilheteria.

- Por favor. – Ele me puxa e agora posso ver, sem barreira ou distração alguma seus olhos castanhos. Theo permite que eu me aprofunde neles. – Não há nada mais lindo que ser único.

   Ficamos por um tempo em silêncio. Eu processando o que ele acabava de dizer, mergulhada num mar escuro, que seus olhos são e ele, apenas decorando cada parte do meu rosto.

- Jurassic Park? O clássico de 93?

- Nunca assisti. – Volto a superfície. – Nem Star Wars.

- Próximo encontro, fazer maratona de Star Wars.

   Rio.

- Combinado.

- Mas... uma coruja? – Theo pergunta ao ver minha tatuagem.

- Gosto de animais noturnos.

- Por que? – Ele contrai os olhos, curioso.

- Sábios e silêncios. Como se aqueles grandes olhos pudesse absorver tudo que passa e acontece. Observadores.

- Você é uma observadora? Duas entradas para Jurassic.– Ele pede, mas volta a me encarar.

- Tenho que ser. – E coloco um sorriso de canto.

- E por que?

- Você parece uma criança curiosa. – Ele ri. – O cotidiano pode ser tão misterioso quanto um caso de homicídio, basta olhá-lo atentamente, só então transfiro minhas descobertas para os papéis. Sou escritora.

- Interessante. – E o tom de sua voz muda. Intrigante e sedutora na dosagem certa. – E o que você passaria para o papel hoje?

- Boa pergunta... Que o céu segue profundo e místico na sua tonalidade azul safira, – Meus olhos para nos dele. – que um clássico pode ser memorável...

- E isso?

   Num rápido enlace meus braços estão envoltos no seu pescoço, uma de suas mãos segura meu rosto enquanto a outra fica pousada da minha cintura.

   Sua boca quente se derrama na minha, seu beijo é lento, saboroso como mel.

   Nesse momento apenas sentimentos e sensações falam, sentimento de euforia, coração disparado, pele com pele arrepiada, toque sutil e beijo indecente. A sensação é plena, viva e doce.

   Tudo dentro de mim é misto, não consigo distinguir entre a razão e emoção, mas minha memória aos poucos vai voltando do furacão que foi esse momento e me lembro que entre nós existe uma pessoa, que veio e está na vida dele antes de mim.

   Aos poucos, com pesar, me desprendo da sua boca que ficou vermelha e do braços carinhosos.

- Não... não podemos. Não é justo. – É só o que consigo falar.

   Theo chega mais perto, de novo, e meu coração acelera num ritmo que nem eu mesma consigo entender. Encosta sua testa na minha e entrelaça sua mão na minha.

- Claro. – Sua voz sai num sussurro.

- O filme vai começar. – Tento desviar do desejo desenfreado e ele fecha os olhos sabendo que isso não pode mais acontecer.

- Guarda nosso lugar? Vou pegar a pipoca.

   Balanço a cabeça, e, um pouco perdida tento encontrar a sala 07, demarcada nos bilhetes, com isso nossas mãos se desprendem.

   Tirando um pouco de filosofia sobre isso, nesses altos e baixos de poucos encontros é inútil insistir nessa tentação... a não ser que algo aconteça.

   É tudo muito imprevisível. Pelo menos nessa noite. 

A Brisa de CatarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora