Querido Diário... - Volume 1

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Olá, meu nome é Jessie, e... bem, este é o meu diário, onde conto tudo o que me acontece. Confesso que não estou muito feliz hoje, pois irei me mudar, e isto significa que abandonarei a casa em que eu vivi minha infância, e... sim, terei que abandonar meus amigos. Pera, que amigos?! Sim, isso pode até parecer estranho, porém, eu não tenho amigos. Acho que essa coisa que a amizade é tudo, não passa de uma babaquice! Prefiro muito bem viver minha vida só com o meu diário, minha cama e é claro, meu chocolate quente. Sim, minha "mãe" sempre faz um delicioso chocolate quente com deliciosos marshmallows derretidos. E... isso me lembra de quando eu era pequena e nos dias chuvosos, ia pra fora de casa e ficar pulando em poças d'Água, e depois disso, voltava para casa toda encharcada molhando o piso que a mamãe tinha acabado de secar. Mas eu era pequena, então depois de tudo isso, ela me secava e fazia o delicioso chocolate quente.
Bom, eu vou contar como eram os meus pais verdadeiros, embora a situação seja bem triste. Minha mãe cuidava de casa, ficava comigo e com meu irmão mais novo. Ela era a mãe perfeita, lembro-me de quando ela estava limpando a casa, e eu e meu irmão brincávamos em frente à lareira nos dias mais frios. Ela esperava meu irmão dormir, ficava balançando o berço dele sempre cantando alguma música de ninar, o que deixava-o mais calmo. E depois, ela me colocava para dormir contando uma história, que lia no livro de contos de fadas... e quando eu dormia, ela sempre beijava a minha testa e dizia "Durma com Deus, minha filha." Ah, sim. Meu pai, ele era soldado. Um soldado muito forte, talvez um dos melhores! Lembro-me de sempre elogiar a torta de maçã quentinha que minha mãe fazia para nós. Só que, um dia, ele foi para a guerra, eu e meu irmãozinho não sabíamos, apenas a minha mãe, que ficava com o rosto pálido quando olhava para o quadro do meu pai. Pouco antes de ele ir embora, pude ver pela janela do meu quarto, ele beijando minha mãe, já de uniforme e com uma arma nas costas... pouco depois, eu e meu irmão perguntamos onde estava o papai, e minha mãe sempre mudava de expressão, ela ficava com lágrimas no rosto.
Cerca de quatro meses depois, recebemos uma carta, que vinha de bem longe. Minha mãe não deixou que abríssemos, então ela pegou a cartão das minhas mãos e foi pro quarto. Subimos para ver como estava a mamãe. Ela estava em prantos, chorando sem parar. Eu já tinha entendido o que havia acontecido, mas pela expressão do meu irmãozinho, ele não entendia absolutamente nada. Desci, e fui fazer um cafezinho para acalmar a mamãe, levei meu irmão pra sala, e deixei ele em cima do sofá. Chegando lá em cima, minha mãe estava com uma Winchester 22 na mão, e pude perceber que o armário de armas do papai estava completamente bagunçado. Então eu disse para a minha mãe:
-"NÃO FAÇA ISSO! PAPAI NÃO IRIA QUERER ISSO PARA VOCÊ!"
Mas não adiantou, ela apontou a arma à cabeça e puxou o gatilho. Acho que os vizinhos ouviram o tiro, então bateram na porta. Eu desci e fui atender, mas quando eu percebi, meu irmãozinho não estava mais em cima do sofá. Pedi para que esperassem e que já iria atender, então procurei pela casa inteira, e nada. Comecei a ficar desesperada, pensando que talvez ele estaria precisando de ajuda. Ele só tinha dois anos! Ignorei a situação e fui atender, era o vizinho e perguntou se o barulho vinha daqui:
-"O que ouve, por acaso este barulho veio daqui? Está tudo bem? Onde estão seus pais?"
Logo comecei a chorar desesperadamente, e tentei explicar, mas eu começava a soluçar e gaguejar, então pedi para que entrasse. Imagino que ele já tivesse entendido e se lamentou, mas mesmo assim queria saber o que havia acontecido, então perguntou novamente depois de esperar eu me acalmar.
-"Escute Jessie, eu sei como é difícil, eu perdi minha esposa em um acidente de carro. Mas você precisa me explicar o que aconteceu para que eu possa te ajudar."
Então eu expliquei tudinho, exatamente tudo. Então ele chamou a ambulância e ligou para o conselho tutelar e pediu para que eu ficasse calma. Depois de algumas horas, o corpo já havia sido levado, e então fiquei sabendo que seria levada a um orfanato, onde fui adotada por um casal muito gentil. Ah, e mesmo assim, eu fiquei preocupada com meu irmão, mas resolvi não contar para ninguém com a esperança de que ele estivesse bem.

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