Capítulo 5

17 1 0
                                    

"Há quase 21 anos atrás...

    Eu sei bem que esse é um dos pesadelos que tenho diversas vezes, eles costumam aparecer quando algo ruim vai acontecer. Assim como sei também, que ela tem que saber seu passado, sua história — meu cérebro sempre insistindo nisso, de falar a verdade. Já disse: " Não posso"; porém, ele insiste.

    Aquele era eu do passado e do presente, pensando ao olhar através da janela de vidro, crianças da vizinhança brincando na grama, e escutando o casal: Daniel e Vera, discutindo sobre " à última vez que viram seus documentos", e ao mesmo tempo, procurando onde diziam ter visto os documentos pela última vez.

    Daniel, nesse exato momento, não parecia o agente bem conceituado da CIA. Logo após o nascimento da filha, pediu licença do emprego. Queria dedicar-se a filha e a esposa. Eu não me pusera contra a decisão do meu amigo, ou melhor amigo.

   Apesar do meu amor platônico subliminar por Vera, coisa que nem ela sabia (ao menos, eu acho), eu considerava Daniel meu melhor amigo. Mas se ele soubesse desse sentimento, ele romperia nosso laço de amizade, e eu buscava sempre olhar Vera como amiga, e sempre respeita-lá. Mas já estava chegando em meu limite, por isso, eu iria viajar pra tentar esquecer Vera. Não por conta de missão da CIA, seria mais pra uma viajem pra esquecer um amor platônico. Eu não havia anunciado minha futura ausência para o casal, ainda.

   — Scott, vamos!? — Daniel falou, interrompendo meus pensamentos, e me cutucando. O mesmo estava com duas bolsas, uma da bebê, e a outra que eu especulava ser de documentos do casal.

    — Scott, está tudo bem? Daniel estava te chamando á três minutos, e você...!? — falou Vera.

   — Anh, é... nada, só estava pensando. Vamos! — Eu com certeza, estava com cara de idiota pós transe; o meu do presente, ria do meu eu do passado, nos pensamentos. Apesar da lembrança ruim. Ele me deu a bolsa da neném.

   Vera, já estava no carro, arrumando a cadeirinha pra Vallentiny. Era o resguardo de Vera, e ela estava mais impaciente do quê nunca. Daniel e eu, ainda estavamos saindo de casa.

   — Daniel, me passe a chave, eu tranco aqui. Vá ajudá-la!

   — Ok! — Ele me jogou a chave, e foi correndo até ela.

   Apesar de amar Vera, eu não era ciumento. Até porque se fosse, Daniel já tinha desconfiado. E eu queria vê-la bem e feliz, mesmo que não fosse comigo. E se o bem dela era com Daniel e Vallentiny, que fique feliz, mas não ficaria observando de camarote, a família feliz que os três construíam, não ficaria me estagnado aos poucos.

   Agora, estava em direção ao carro, os dois estavam discutindo.

   — ...eu sei muito bem ficar com a Tiny no colo, enquanto ajeito à cadeirinha! — falava indignada.

   — Nossaaaaaaa! Então você é a mãe-ninja!? Prazer, Daniel, pai da sua filha. Agora fique com a minha filha, enquanto eu ajeito a cadeirinha. — Ele enfatizou "minha filha" e ainda falava em um tom irônico.

   — Você sabe que posso fazer os dois sozinha!

   — Vera, por favor! Eu sou o pai, e tenho o direito, e o dever de cuidar da minha filha, assim como você. — Falou exasperado, encerrando o assunto.

   Eu não falava nada, quando eles brigavam.

   Depois de Daniel encerrar a briga, e ajeitar a cadeirinha com a bebê, ele me entregou a chave do carro, e logo entendi o recado, pois quando ele ficava nervoso, não gostava de dirigir. 

Maldito PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora