Família Ferreira Ferraz

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Família Ferreira Ferraz

Joana tinha deitado cedo, um fato estranho, já que sempre evitava dormir, pois a muito tempo, em todas as noites vinha tendo o mesmo sonho: um homem chegava e a olhava, ele tocava sua pele e ia sumindo, quando olhava via somente uma fumaça negra onde tinha antes seu corpo. Os olhos azuis daquele homem possuía uma frieza que chegava doer na alma. Sua voz rouca e fria sussurrava em seus ouvidos repetidamente "todos da sua família vão morrer". Era tão real, o ar faltava e a angustia tomava conta, e acordar não melhorava em nada, sempre sentia como se aqui fosse mais que um sonho, uma aviso será? E por esse pesadelo, andava dormindo pouco, evitava dormir. Tomando remédio e energéticos, para nunca fechar os olhos, sentia que a cada vez que dormia, ele ficava mais real, que podia alcançar ela, a qualquer momento.

Joana sentia o corpo cansado, havia tempos que não sabia o que era descansar, o que era dormir... o sono finalmente á estava vencendo. Logo que adormeceu, foi puxada mais uma vez para aquela casa, o som da festa era alto, muita gente dançando, muita bebida, e muita gente bonita. Ela andava pelos cômodos, a cada quarto que entrava mais gente bêbadas, pareciam usuárias de drogas, sabia bem como os usuários eram em na sua profissão de policial federal, ela já tinha encontrado muitos como aqueles. Ela colocou a mão na cintura a procura de sua arma e foi andando devagar, ignorando todos, precisava achar o homem que sempre a matava. Caminhou até chegar num corredor estreito e escuro. Um arrepio tomou seu corpo, seguiu andando com mais cuidado. Entrou em uma sala clara. E lá estava ele, sentando no centro da sala, em sua volta vários homens o prendiam amarrando-o em uma cadeira. Enquanto outros entoavam um cântico antigo, todos vestiam mantos brancos, logos e com capuz que lhes cobriam o rosto, no peito do manto ela podia ver um símbolo dourado, no entanto, não o reconhecia.

Enquanto era preso na cadeira, o homem que a visitava nos sonhos, tinha seus braços fortes cortados, eram vários e profundos cortes que faziam seu sangue escorrer pelo chão branco e imaculado. Ela viu quando ele estremecia parecendo que estava morrendo. Um dos que estava mais perto, fez um corte no seu peito e retirou seu coração, que milagrosamente ainda batia, e colocou-o em um jarro. O líder do grupo, aproximou-se do homem preso cantando algo incompreensível para Joana, então parou diante do prisioneiro e usando uma espécie de agulha de ouro, costurou a sua boca enquanto recitava palavras em um dialeto que ela nunca tinha escutado antes. As palavras o fizeram, mesmo sem coração, abrir os olhos, o que antes era azul agora era tomado de um vermelho tão intenso quanto o sangue que escorria no chão branco. A humanidade dele tinha acabado ali. A presença do mal se fez presente.

Um rugido e o corpo firme na mesa se dissolveu ficando somente a mesa manchada de sangue. Ela petrificada pela cena que assistiu congelada, quando aquele que ainda tinha a agulha nas mãos tirou o capuz branco. Um arrepio lhe subiu pelo corpo no momento em que ela o reconheceu, aquele homem era muito parecido com seu avô, com seu pai. Alto, forte e acima do peso, era um homem que trazia medo onde passava. Era possível notar que todos naquele lugar o temiam, podia apostar que assim como seu pai e parentes, ela era frio, uma pessoa sem culpa e acima da lei. Foi para ser livre do estigma da família que ela partiu que se tornou policial. Ao presenciar aquela crueldade, teve a certeza que algo muito ruim tinha acontecido ali, ela parou olhou em volta e viu que as paredes antes brancas e iluminadas estavam em ruínas. Aquela casa que ela tinha visto no início estava velha caindo aos pedaços. Não tinha mais telhado, e o vento batia em seu rosto, olhou para cima e viu a lua cheia iluminando a estrada. Aquele homem estava morto, o mau havia tomado o seu lugar e aquela casa. Foi quando ela sentiu a mão no seu ombro, como sempre acontecia em seus pesadelos, os olhos azuis estavam sobre ela. Seu grito foi estridente e forte, acordou mais uma vez, seu pulso e respiração estavam acelerados e uma fina camada de suor cobria seu corpo.

Levantou da cama e foi até a janela ver a rua, precisava ter a certeza que ela estava em seu quarto. Abriu a porta da varanda e pegou o cigarro que deixava na janela, acendeu um e olhou a noite calma. Respirando fundo parou para pensar no sonho. Tinha certeza que aquilo realmente tinha acontecido, alguém da sua família tinha feito aquela crueldade com aquele rapaz. Sabia também que toda maldade um dia voltaria em dobro.

Pegou o telefone e ligou a única pessoa que tinha contato, sua mãe. Ia perguntar ela se ela sabia de alguma coisa da sua família ligada a rituais ou coisas parecidas. O telefone tocou duas vezes antes dela atender.

- Joana?! O que aconteceu para me ligar às três da manhã? - Sua voz estava carregada de tom de sono, arrastada e ao mesmo tempo preocupada.

- Mãe, tive mais um daqueles pesadelo, mas desta vez foi diferente, foi real. Eu estava lá. Preciso saber a verdade ou vou enlouquecer. Mãe, senhora sabe se na nossa família faz parte de alguma sociedade secreta? - Quando ela falou se ouviu um silêncio ao fundo, barulho de sua mãe saindo da cama.

Depois de alguns minutos sua voz foi ouvida por Joana, bem baixa quase um sussurro.

- Joana, não posso falar muito meu anjo, mas os homens da família sempre somem nas luas cheias em acampamentos, e não falo somente de seu pai, mas seus tios e primos. E isso sempre teve especulação pelas suas tias e primas e minhas cunhadas, queremos saber que eles fazem, mas nenhum nunca falou nenhuma palavra. Achamos que eles fazem algum tipo de atividade secreta. E a única coisa que eu sei, mas me fala porque quer saber disso?

- Mãe, tive um sonho estranho dessa, mas desta vez vi meu avô ou alguém muito parecido com ele, fazendo mal a um homem. Foi muito real e eu queria compreender.

- Filha, tenha calma já foi esquece, foi apenas um sonho. Vá dormir meu amorzinho. E saiba que qualquer coisa estou aqui pra você, só me chama. Amo-te e sinto sua falta. Não importa a hora pode ligar sempre.

- Te amo mãe, e vou mesmo dormir. Deves ter razão, é só um sonho bobo, melhor esquecer esse assunto. E mãe não fala a ninguém que te perguntei desse assunto, se cuida. - Falou e desligou o celular com a certeza que o sonho foi real. Ficou revivendo cada cena, cada detalhe enquanto terminava seu cigarro.

Tinha convicção que sua família iria pagar caro pelo que tinha feito aquele homem, e que Deus a protegesse, iria sobrar até mesmo para ela. Uma certeza tão forte que um arrepio subiu pelas costas até sua nuca.

Saiu da varanda após ter fumando mais um cigarro. Sentou na cama, pegou sua arma que estava sob o travesseiro, sentiu o peso na mão e percebeu que contra aquele mal aquela arma não era nada. Lembrou de um professor da universidade que era especialista em rituais, pensou em ligar para ele, olhou o relógio e decidiu que assim de o sol saísse iria ligar. Precisava saber de fato que ritual tinha sido feito naquela sala, se preparar para a luta.

A maldição da sombraOnde histórias criam vida. Descubra agora