Adentrei o dia tomando um banho gelado para espantar a idade. Espera, espantar o que? O que não pode ser apagado? Espantar memórias boas e ruins, experiência e conhecimento, sentimentos? Que mania ridícula essa de querer adiar a velhice, ela virá, eu querendo ou não.
Me olhei no espelho e vi que o tempo realmente passou para mim, não tenho mais tantas espinhas como há dez anos, meus olhos tem um novo brilho e também olheiras, carregam novos sonhos, meu rosto tem marcas das pancadas do tempo e lembro de como consegui cada uma delas. Isso é lindo!
Ainda em frente ao espelho, puxei na memória todas as minhas derrotas, todas as vezes que pensei em jogar tudo para o alto e desistir, tudo aquilo que me puxava para baixo e conclui que eu venci. Eu estou aqui! Eu sobrevivi a todos os piores dias da minha vida. Se eu tenho vencido até aqui, não há nada que me impeça de continuar vencendo.
Olhando bem no fundo dos meus olhos, vejo os sonhos que deixei para trás para colocar outros no lugar, vejo os amigos que saíram da minha vida, os que chegaram para ficar, vi os obstáculos no caminho que percorri, cada tropeço, cada vez que tomei fôlego para levantar ainda mais forte, vi os degraus também e vi que sou mais forte do que aparento ser. Vi que eu já fiz muita coisa, mas ainda não fiz nada perto de tudo que eu ainda tenho que fazer.
Ao olhar novamente para o espelho percebi que vinte e cinco anos se passaram e aceitei o fato de que eu sou tudo que eu queria ser. A criança que eu fui teria sim orgulho do homem que sou. E eu não mudaria nada.
Enxuguei o rosto, olhei novamente bem no fundo dos meus olhos pelo espelho, e bradei: Se eu cheguei até aqui, sou digno de tudo isso. Parabéns para mim!
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Palavras de amor que vão para o lixo
PoetryMorreu por tomar para si uma dor que não lhe pertencia, por se entregar à fantasia, por amar em demasia, por vontade de morrer. Uma coletânea de poesias e crônicas sobre amores vãos que foram feitos apenas para existirem e não para acontecerem. ESTA...