Ameaça Relevante...

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                            Capítulo 1
11 de Novembro
*Luiz Lagne...

Me sento de frente para Ray, ela faz incansavelmente sua maquiagem. Junior chega com nossos lanches: três sanduíches e três sucos de goiaba. Pego o meu e começo a comer. Ray para de se maquiar e pega seu lanche. Esses dois são irônicos, não precisam disso, mas comem.
Eles sorriem enquanto mastigam. Diferente deles, eu realmente necessito disso. Hoje, finalmente é o último dia de aula da minha vida. Talvez algum dia eu faça faculdade, mas não nesse século ou milênio, claro, se eu viver tanto assim.
Um vento frio forte bate na praça de alimentação levando consigo copos descartáveis e outras coisas que não deveriam estar jogadas por aí. Estamos apenas nós três em frente a única barraquinha aberta. Está um dia nublado, geralmente tem estado assim desde outubro, dizem que é o inverno chegando, mas desde aquele dia não nevou. Até porque não neva aqui, só chove.
– Eu estava pensando em dar uma festa. Para nossos colegas de classe. – Ray está realmente interessada nisso. – O que acham?
– Bacana. – Diz Junior.
Apenas balanço a cabeça confirmando sua ideia. Ela já deu outras festas antes, nunca fui em nenhuma.
– Vai ser bom para você também Luiz, seus olhos estão vermelhos. Tenho certeza de que alguns dos meus colegas levaram pessoas que chegaram recentemente. Ninguém sentirá muita falta deles. – Ray está certa.
– Talvez eu vá. – Digo.
– Leva o Natso, não tem problema. – Diz ela falando de um jeito estranho. – Estamos de boa.
– O que? Não entendi. – Digo.
– Sabe, você e o Natso. – Diz ela.
– Ele é só meu guarda. Nada mais que isso.
– Mesmo assim, sabemos que gosta dele, e pelo jeito ele também. – Diz Junior. – Que tipo de guarda é fissurado no seu trabalho. Aquele tem obsessão por você.
– Nós te apoiamos totalmente. - Ray está muito alegre, até demais.
– Não é tão simples assim. Se ele gosta de mim não demonstra, e eu também tento não demonstrar. E também não quero acabar com a única relação que temos se eu tentar alguma coisa... Espero que entendam.
– Entendo, mas se ficar só desejando não vai conseguir nada. – Diz Ray. – É como diz o ditado: “Quem não arrisca não petisca”.
– Eu estou bem assim Ray. Relacionamentos não são para mim. – Digo.
Eles se olham e então riem. Fico sem entender nada, mas não me esforço para querer saber a graça. Apenas termino de comer meu lanche.
– Tudo bem então. Vamos deixar esse assunto para lá. – Ray lagrima de tanto que riu. – Mas falando sério agora, vai na festa. Precisa se manter equilibrado.
– Eu irei.
– Estou indo. Mando mensagem ou vou na sua casa te avisar. – Diz ela. – Até.
– Até.
Levanto, Junior me acompanhará mais alguns metros antes de ir para sua casa. Vamos devagar, Junior está calado, é o normal dele. Longe de sua irmã super introvertida ele é um cara completamente normal e sem muito assunto. Ele é da minha altura, pele branca e olhos escuros, e cabelos um pouco claros, é um pouco parecido com Ray, tirando o fato de ela ser mais baixa, ter olhos castanhos, cor do pecado e cabelos cacheados. Pais diferentes. Eu acho ele bonito. Não parece muito, mas somos melhores amigos, ele só está na escola para mim acompanhar, assim como Ray que é minha melhor amiga. Tenho muito carinho por eles, apesar de nunca demonstrar, mas tenho certeza que eles sabem disso. O olho por alguns segundos e sorriu, ele percebe e sorrir também, acabamos de dizer que nos amamos e que não conseguiríamos viver sem o outro nesse mundo.
Sinto a pressão cair. Esfriou, irá chover logo. Nos apressamos, Junior vira na rua de sua casa e me despeço. Sigo rápido para a minha casa chegando logo. A chuva começa minutos depois de eu entrar em casa. Subo as escadas para meu quarto. Pelo jeito essa chuva vai até a noite. Abro a porta do quarto e entro, coloco minha mochila ao lado da porta e me jogo na cama.
Lentamente viro meu rosto para a janela e o contemplo lá, com uma das pernas esticadas e a outra curvada. Ele está encostado na lateral da janela enquanto olha para a chuva lá fora.
Não falo nada, apenas contínuo a olha-lo ali. Ele mexe com todo o meu ser, não consigo nem piscar. Mas crio força e olho para o teto, não vou deixar que ele me domine. Eu não sucumbirei a esses sentimentos sem sentido.
– O que está fazendo aí? – Pergunto.
– Sentado. – Que idiota.
– O que você está fazendo SENTADO aí?
– Estava esperando você chegar, então fiquei olhando a rua. Você chegou e então resolvi olhar a chuva. – Diz ele. – Algum problema?

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