8° Capítulo: "Never Be The Same"

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Às vezes, poucas às vezes, a cura para um coração ferido não é se afastar do veneno que lhe mata e tentar purificá-lo sozinho, não quando o amor não é tóxico. Digo, poucas às vezes, quando não há intenção de machucar, quando ninguém tem culpa por ter ferido ou ter sido ferido, é melhor conserta as coisas de um modo que não te machuque mais, de um modo que não machuque mais ninguém. Foi aquilo que descobri aquela noite, assim que Camila entrou e me pediu para ficar. Embora tudo e toda dor fosse insuportavelmente suportável, eu descobri que não podia fugir dos problemas, da dor e das dificuldades que aquele amor estava me causando, que sempre me causou. Eu tinha que ser forte e enfrentá-los, só assim eu iria supera e continua até que enfim fosse o fim de tudo.

É fato que a maioria dos seres humanos enfrentam coisas desconhecidas em sua vida, algumas até são, mas é notável ver que a cada dia é algo novo na vida deles. Novas dificuldades, dores, amores. Já eu, uma mera iniciante, enfrentava algo já conhecido por mim, eu enfrentava aquilo que enfrentei durante anos em minha vida, algo que estava ali, escondido, por isso eu não o via. Mas ele tinha rosto, ele tinha um nome e ele deixava suas marcas. A cada toque, a cada olhar, a cada beijo, ele deixava sua marca.

Um suspiro ao ver seu sorriso; um sorriso bobo olhando para ela enquanto ela fazia suas palhaçadas; suas mãos entrelaçadas aos minhas suadas; conversas carinhosas e olhares enquanto andavamos na beira do mar; pulsamentos incrivelmente acelerados quando ela se acolhia em meu peito buscando conforto ou carinho por esta triste; ou até quando eu a observava dormir;  ciumes; desejo. Aquela era sua marca, e essa marca vinha com consequências dolorosas e inimagináveis.

Eu já sabia o que eu enfrentava, eu só estava com medo. Era de fato estranho acreditar em algo e descobrir que esse algo é totalmente diferente daquilo que você imaginava. Eu tinha medo da rejeição, da indiferença, se eu contasse ou se ela percebesse. Medo que doa mais do que já estava doendo, e o pior, medo da ilusão, essa que estava bem pior depois do nosso beijo, me fazendo acreditar a todo estante, por poucos minutos, no impossível. E essa também que poderia causar todas as anteriores de uma só vez, por isso eu teria que me manter ciente e não confudir os sinais. Eu não queria me arrastar por si só para o fundo do poço. Daqui para frente, cuidaria de fazer tudo com muita cautela, pois a única coisa que eu menos queria era me afastar dela, não mais. Nunca mais. Ela precisava de mim, e eu precisava mais ainda dela.

Mesma noite...

Lauren point of view.

Eu não dormir, não queria vê-la partir dos meus braços para ir para os dele, não. Eu conversei com ela, eu ri com ela, a fiz sorri, e o melhor, eu a tinha. Ao menos aquela noite, mas eu a tinha. Eu sabia que, assim que ela saísse por aquela porta, eu voltaria ao estado de antes. Eu sabia que assim que eu os visse se beijando, eu cairia novamente. Tudo aquilo já era esperado, mas não importava mais, porque, embora que doesse depois, tê-la ali, mesmo da forma que eu a tinha, era o suficiente. A felicidade dela com ele era a faca fincada em meu peito, mas ela não me via sangrar, e nem veria.

A noite se arrastava em meio as nossas conversas; Camila e eu pegamos lençois e almofadas, algumas garrafas de vinho e gin na adega, e fomos para a varanda de baixo, local que sempre ficávamos em noites de insônia. No qual também estava sendo utilizado como ninho de amor, algumas vezes, por certas pessoas. O que eu estava odiando incondicionalmente. Confesso que pensei em intervir na decisão de Camila em ir para lá, por esse motivo, mas apenas deixei minha dor um pouco de lado e fui, apenas para passar aquele tempo com ela. Depois de tudo que eu havia feito, ela merecia. Dentro de mim eu temia as lembranças da noite do show, porém, de tudo eu fazia parar reprimi-las.

Levei também meu violão e lá eu cantei algumas músicas para ela, como sempre fazia. Entre elas, algumas que ela gostava e outras que eu também havia escrito. Bebemos muito, ela mais que eu. Cada vez mais nossas gargalhadas iam ficando mais altas, e as conversas sem sentido, até que simplesmente decidimos dançar de pés descalços na grama do jardim, imaginando sua festa de 15 anos. O que era perfeito, pois ela estava tão linda como naquela noite e usava o colar que eu havia lhe dado.

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⏰ Última atualização: Apr 08, 2018 ⏰

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