Por cima do meu cadáver

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DEMI PASSOU o dia seguinte desejando não ter consumido tanto vinho na noite anterior, e mantendo distância de Selena. Ela cuidou dos efeitos colaterais do vinho com uma aspirina. E Selena cuidou resolvendo passar o dia inteiro com o avô. Foi bom assim. Demi não estava pronta para encará-la novamente. Não quando toda vez que fechava os olhos, via o belo rosto, repleto de prazer, lascivo e lindo, e sabia que tal visão iria assombrar seus sonhos para sempre. Às vezes, fazer a coisa certa era uma porcaria. Na hora ela achava que era a coisa certa. Infelizmente, agora, não conseguia se lembrar por que achava aquilo.

Ela tentou purgar a frustração passando o dia trabalhando no paiol, que ainda tinha uma boa quantidade de tonéis antigos. O sr. Gomez tinha esperanças de conseguir restaurá-los e colocá-los na ativa. Tendo provado na noite anterior os vinhos surpreendentes que haviam envelhecido em madeira antiga, ela tinha de concordar que valia a pena salvar os velhos barris. E, felizmente, o trabalho era duro o suficiente para suplantar os pensamentos sobre Selena e os momentos incríveis que ambas haviam compartilhado no sofá. Pelo menos, a maior parte deles.

Finalmente, porém, quando ela olhou para o relógio e viu que já passavam das seis, percebeu que não dava mais. Selen provavelmente estaria retornando para a propriedade em breve. Demi pretendia ir até o centro fisioterápico para visitar o sr. Gomez. Felizmente, seus carros se cruzariam no meio da noite e elas não iam se esbarrar, fosse aqui ou lá no centro médico. Ela simplesmente não suportaria mais uma noite de tensão sexual com a mulher. Não quando sabia o quanto ela era doce, e como aqueles gemidos femininos de prazer soaram quando ela se desfez em seus braços. Não quando Demi estava morrendo de vontade de penetrá-la com força e se esquecer que o restante do mundo existia.

Deus, ela ficara louca para interromper o beijo apenas para poder espiar os seios perfeitos que tinha em mãos. Ela engoliu em seco, vendo a condensação que deixou no espelho enquanto respirava cada vez mais arfante. 

Não, ela não merecia Selena. Não, ela não tinha nada que se envolver com Selena. Mas oh, que diabo, sim, ela a desejava.

No dia anterior, quando Selena subira as escadarias dando-lhe um vislumbre do paraíso que tinha entre as pernas, Demi necessitara de toda sua força de vontade para não segui-la. Ela ficara só imaginando, um lampejo de imagens eróticas invadindo seu cérebro. Ela se vira correndo atrás de Selena, três degraus por vez. Parando-a antes que ela pudesse chegar ao topo. Guiando-a para que se ajoelhasse. Incitando-a a se inclinar com delicadeza, até que Selena estivesse de gatinhas e ela pudesse se posicionar alguns degraus abaixo. Ela instintivamente saberia o quão perfeito seria ter aquele sexo doce e úmido acima de si, enterrar seu rosto nela, lambê-la até Selena ter espasmos e gritar, em seguida, e então penetrá-la antes de ela sequer parasse de gritar por causa dos orgasmos múltiplos que Demi lhe daria.

Demi fechou os olhos, desejando que aquelas imagens fossem embora. Mas elas não iriam. Estavam gravadas ali, a visão tão real que era quase uma lembrança.

Depois vieram as imagens da noite anterior. Ela  ainda podia sentir o gosto dos lábios de Selena, ainda sentia a maciez da pele, ainda se lembrava de como era deslizar um dedo naquele canal contraído e úmido e brincar com o clitóris perolado até Selena choramingar de prazer. Ela gemeu, estendeu a mão e encontrou seu membro duro e ereto. 

– Droga, Selena – murmurou, agarrando-se, apertando, bombeando. A mão não era de forma tão boa, úmida e quente como Selen seria, mas era só o que Demi tinha no momento. Só o que ela se permitiria.

Não demorou muito tempo. Não mais do que tinha tomado na noite anterior, quando fora para a cama e se permitira reprisar mentalmente os momentos que passara com Selena no sofá. Veio em um jorro quente, cuspindo sua essência sobre a mão, sabendo que ela abriria mão de um ano de sua vida em troca de poder jorrar dentro de Selena.

– Mas você não pode – disse a si, sentindo-se ainda mais sexualmente frustrada do que antes de sua segunda sessão de prazer solitário nas últimas 24 horas.

A mão dela simplesmente não satisfazia. Demi queria a mão dela. O corpo dela. A boca de Selena. Mais do que jamais quisera qualquer coisa na vida.

Ela tentou esquecer suas necessidades sexuais enquanto dirigia até o centro fisioterápico. Ela com certeza tentou disfarçar seu desejo quando visitou o sr. Gomez e conferiu como o velhinho estava lidando com seu novo quadril. Felizmente, ela acertara ao supor que Selen não estaria lá. Ela aparentemente tinha ficado até a hora do jantar, indo embora pouco antes de Selena chegar, de modo que ela não teria de fingir que não havia passado as últimas vinte horas transando loucamente com Selena em sua mente. Com sorte, ela chegaria tarde em casa, encontraria o carro alugado por ela na garagem, veria todas as luzes apagadas e iria para a cama, tendo conseguido resistir a ela por mais um dia.

Para ter certeza de que o desfecho seria esse, Demi tinha a intenção de sair para uma comer e talvez beber algumas cervejas em algum barzinho local antes de voltar. Ela até mesmo escolhera um lugar.

Depois de meia hora conversando sobre as descobertas incríveis na adega, o sr. Gomez disse algo que fez Demi se perguntar se o destino estava conspirando para juntá-la a Selena.

– Você poderia levar Selena no Wilhelm’s. Eu disse a ela que eles fazem os melhores hambúrgueres da cidade, e ela me disse que ia passar lá hoje para jantar.

Assim ela poderia evitar chegar em casa a tempo de encontrar Demi? Aquilo estava engraçado, levando-se em conta que Selena  pretendia jantar exatamente no mesmo bar onde Demi pretendia parar. Agora, porém, passar num drive-through de fast-food estaria de bom tamanho.

– Acho que vou para casa para poder dormir cedo. Vou voltar a trabalhar nos tonéis antigos amanhã, ver o que mais podemos salvar. 

O sr franziu a testa. 

– Eu me sentiria melhor se você desse uma passada no bar para ver como Selena está. Hoje é segunda-feira. Dia de jogo de softball. 

– E? 

– E nós dois sabemos que os times vão para o Wilhelm’s para beber cerveja e comer asinhas de frango após os jogos. A coisa fica meio bagunçada. Eu odiaria pensar na minha menina tendo de se defender sozinha de algum cara que ficou corajoso demais de tomar umas e outras.

Demi ficou tensa só de pensar naquilo. Não, ela não tinha qualquer direito sobre Selena, e dissera a ela que não queria isso. Mas também não queria nenhuma outra pessoa dando em cima dela, sendo bem recebido por ela ou o contrário. Aquilo provavelmente era muito egoísta, mas, francamente, ela não dava a mínima.

Desde que a conhecera, Selena vinha lhe dando sinais fortes. O corpo dela estava louco por um pouco de ação, ela precisava de sexo e precisava muito. E ontem à noite, quando elas se beijaram e ela a acariciou até levá-la ao orgasmo, Selena agira como uma gata no cio, tão obviamente maturada e pronta que Demi chegara a sentir o cheiro da excitação dela – daí sua avidez para enterrar o rosto em seu sexo e devorá-la do mesmo jeito que uma criança devorava uma casquinha de sorvete.

Seria uma desgraça se algum sujeito com motivações nada nobres e desprovido de autocontrole captasse o que ela estava oferecendo silenciosamente.

– Será que você poderia ao menos dar uma passadinha lá para ver como ela está, para certificar-se de que ela está bem? – solicitou o sr. Ele estava com a testa levemente franzida, mas Demi notava o menor indício de um sorriso ali também. O velho estava bancando o cupido novamente. Em circunstâncias normais, aquilo teria feito Demi correr na direção oposta, para bem longe do bar onde Selena agora poderia estar lançando aquela vibrações que ela mesma vinha captando desde a noite em que se conheceram.

Mas exatamente por causa daquelas mesmas vibrações, ela simplesmente não conseguia fugir.

– Tudo bem, Sr. Vou dar uma passadinha lá para ter certeza de que ela está bem.

E me certificar de que ela não esteja negociando um beijinho inocente com qualquer outra pessoa. Depois de oferecer aquele orgasmo a ela, Demi a deixara imaculada ontem à noite. E outra pessoa só iria colocar as mãos em Selena por cima de seu cadáver.

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