Amigos vêm em primeiro lugar

223 9 0
                                    

DURANTE OS dias que se seguiram, Selena viu-se caindo numa rotina.

Levantava-se cedo e passava a manhã com o avô, dando apoio moral na fisioterapia. Em seguida, voltava para casa, almoçava com Demi, fazia amor com Demi, tinha orgasmos com Demi, desenhava um pouco seus figurinos e, em seguida, voltava para jantar com o avô. Muitas vezes, Demi se juntava a eles no jantar, embora elas deixassem o sexo e os orgasmos em casa.

Ela não conseguia se lembrar de uma época em que fora mais feliz. Ah, ela ainda estava muito preocupada com o avô, e agora estava ocupado com seu mais novo trabalho. O estúdio havia telefonado, dizendo que tinha adorado seus esboços e a queria no novo projeto. Ela sabia como ninguém que este poderia ser seu filme mais importante. Afora isso, ela também estava ocupada conversando com avaliadores e leiloeiros sobre a coleção de vinhos. E em torno de todo o trabalho e todas as atividades, havia sempre um brilho de contentamento pessoal durante quase todos os minutos do dia.

Ela e Demi fazia mais do que simplesmente o sexo mais incrível. Elas cozinhavam juntas, caminhavam juntas, riam juntas. Selena conseguiu fazê-la se abrir um pouco mais sobre sua carreira destroçada, e até mesmo conseguiu fazê-la admitir que, com sua mudança de estilo de vida, Demi provavelmente poderia se dar ao luxo de montar o próprio negócio e assumir apenas os clientes que ela realmente acreditava serem inocentes.

Só uma coisa poderia perfurar seu brilho de contentamento: pensar no que a aguardava de volta em LA.

– Ei, mocinha, o que está fazendo? – perguntou Harry quando ela atendeu o telefone num fim de tarde.

Selena não havia lhe contado sobre Demi. A única pessoa para quem ela dera pistas sobre a relação fora Grace, com quem falava a cada dois dias mais ou menos. Sua irmã sempre fora sua metade desde o nascimento.

Elas tinham o tipo de vínculo raro entre irmãos. Grace sabia guardar segredo, então elas normalmente contavam tudo uma à outra. Mas nem mesmo Grace sabia de toda a história. Selena tinha mantido algumas coisas somente para si, as coisas mais íntimas. Ela protegera o relacionamento, desejando mantê-lo em particular enquanto durasse. Mas o fato de não poder durar muito mais tempo a estava massacrando.

– Estou fazendo compras – disse. – Tenho de comprar um vestido novo.

– Para?

– Vai haver um baile organizado pelo proprietário de uma grande adega amanhã à noite – disse ela, ainda se perguntando se tinha tomado a decisão certa ao aceitar ir com Demi.

O relacionamento delas até agora tinha sido principalmente focado em sexo. Beber vinho, falar de vovô e receber aulas de Demi sobre o que ela tinha aprendido até agora sobre o ramo dos vinhos havia tomado algum tempo, também. Mas tirando o jantar/sobremesa que tinham compartilhado no Wilhelm’s, elas nunca realmente haviam tido um encontro de verdade. Mais aí, na noite anterior, quando o avô lhes dissera que gostaria que as duas comparecessem ao evento, uma vez que ele já havia confirmado a própria presença e a de Demi, o primeiro instinto de Selena foi recusar. Mas então ela encontrou os olhos de Demi do outro lado do quarto do hospital e viu um brilho de interesse ali.

Ela não podia negar estar curiosa. Havia conhecido-a como uma trabalhadora braçal. A festa, que exigia black-tie, poderia ser sua única chance de ter um vislumbre da mulher que Demi tinha sido antes de sua vida implodir. Não que não adorasse a sujeita que lhe ensinara coisas inéditas sobre seu corpo, mas ela queria conhecer o máximo possível de Demi, enquanto fosse possível. Queria descobrir todas as facetas dela e gravá-las em sua memória, para que pudessem supri-la durante os longos e solitários anos que a aguardavam.

Estava ficando mais difícil de pensar nestes anos, mais difícil imaginar a vida que ela escolhera para si. Até mesmo o som da voz de Harry, que normalmente a deixava feliz, vinha funcionando como a torção de uma faca na ferida. Durante alguns dias, Selena fora capaz de fingir estar no início de uma relação que poderia mudar sua vida. Talvez ainda pudesse. Talvez ela mudasse de mulher normal e feliz para um caso triste de coração partido incapaz-de-amar-novamente.

AmantesOnde histórias criam vida. Descubra agora