A LIGAÇÃO

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O celular dele toca. O nome na tela acende algo dentro dele.

- Lisa?

- Ei, você me disse que eu podia ligar sempre que precisasse de alguém para conversar.

- Sim, claro - ele pisca algumas vezes, se acostumando novamente com a sensação de ouvir a voz dela. - Tudo bem com você?

- Você sabe que eu não sou capaz de mentir quando você me pergunta isso.

- Então vou assumir como um não - a risada seca enche a sala vazia. - Aconteceu algo?

- Não, nada novo. Eu só queria companhia agora.

- Está se sentindo vazia?

- Sempre. Não há um dia que eu não me sinta assim.

- Eu sei - ele se apoia na cadeira mais próxima. - Eu já te disse tudo o que eu podia sobre isso.

- Sim, eu não esqueço as suas palavras. - Algo como um soluço escapa do outro lado da linha. - E eu nunca sinto que agradeci o suficiente por elas.

- Não precisa, ok? - ele esfrega a mão livre no rosto, sentindo a têmpora latejar. - Ter você por perto já é agradecimento o suficiente.

- Não, sério, eu quero te agradecer mais uma vez por tudo. Obrigada por estar ao meu lado mesmo quando nossas vidas não se esbarram mais. Obrigada por aceitar sair comigo mesmo com todos os seus compromissos. Pessoas como você me incentivaram a seguir em frente.

- Do que você está falando, Lisa?

- Me perdoe por ter sumido nas últimas semanas, elas foram muito caóticas até para mim, conhecida como o caos em pessoa.

- Não tem problema. Aconteceu algo muito sério? Você está bem? Está em casa? Seus pais brigaram?

- Eles estão dormindo. Está tudo bem entre eles, eu acho.

- Por que você está me ligando tão tarde?

- Eu não queria estar sozinha.

- Já te disse que eu estou aqui sempre que precisar.

- Eu sei - ele ouve a brisa suave contra o microfone do celular dela.

- Você está em casa? - ele busca as chaves do carro na escrivaninha do quarto.

- Eu saí para dar uma volta. - As palavras dela começam a falhar.

- Aonde você está?

- Andando por aí. Acho que acabei de chegar ao centro da cidade. - Ela faz uma pausa. A buzina de um caminhão confirma o álibi dela.

- Eu te encontro naquela pizzaria perto do colégio em quinze minutos.

- Não. O que você está fazendo? - ela está bem perto de considerar aquela ligação um erro.

- Saindo de casa - a voz dele está ofegante enquanto ele pega um casaco e calça o tênis casual que encontra perto da porta - para sentar e conversar com você, tudo bem? Eu já estou chegando.

- Você não precisa sair de casa onze horas da noite numa terça feira quando tem todos os seus compromissos amanhã. - Ela tenta convencê-lo do contrário. - Por favor, fique em casa. Nós podemos conversar pelo celular.

- Não, eu estou saindo. - E ele realmente está. A porta de madeira do pequeno apartamento se choca contra o batente e ele guarda o chaveiro no bolso do casaco. - Vá para a pizzaria, eu te encontro lá. Na mesa de sempre.

- Tudo bem. Estou indo.

- Lisa, não faça nada, ok?

- Ok.

- Quinze minutos. - E ele desliga o celular, imaginando se a garota realmente faria o que ele pediu.

E se questionando se ela ainda tinha o velho hábito de revirar os olhos ao receber uma ordem dele.


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