Prólogo

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Descendo as escadas do porão para pegar as últimas caixas que restavam para mais uma de minhas mudanças. Estava cansada, pois já não era tão jovem como outrora. Descia com dificuldade quando toquei no interruptor e acendi a luz que era velha e fraca, não favorecendo a minha visão. Comecei a tropeçar em coisas jogadas pelo chão, até que avistei as duas caixas restantes. Aproximei-me delas e as peguei, não suportando o peso uma delas escorregou de minhas mãos e se abriu ao cair no chão, deixando tudo que nela continha espalhados por ele. Agachei-me para recolhê-las, eram coisas antigas que nem eu mesma me lembrava delas. De lado, mais distante de onde estava, vi sobre o chão um pequano caderno cor de rosa. Senti o coração bater mais forte. Aquele caderno? Me aproximei dele e o peguei, estava velho e empoeirado, já não era tão rosa. Fazia muitos anos que eu não o via, era tão estranho pegá-lo outra vez. Coloquei-o no chão novamente. Talvez fosse melhor deixá-lo ali e quem sabe o passado junto com ele. Por alguns minutos fiquei apenas o olhando, enquanto inúmeras lembranças se passavam em minha mente. Era como uma vida paralela, algo distante, mas era real. Então o peguei de volta e o abri, mesmo sem ver o que estava escrito por conta da escuridão, eu sabia o que era e senti várias sensações. Eu queria chorar, mas apenas uma lágrima escorreu pelo o meu rosto. Tantas coisas que tinha vivido estavam ali, sonhos, ingenuidade, juventude, amores... Era como se só de olhar para ele eu pudesse voltar ao passado e reviver tudo de novo, mas isso era ainda mais triste porque eu não podia voltar por mais que eu quisesse, eu não podia voltar e fazer tudo diferente, só podia reviver e reviver as mesmas lembranças, algumas doíam, mas eu sabia que não podia deixá-lo, porque não iria resolver. Naquele caderno continha inúmeras coisas importantes para mim; naquele diário, havia lembranças valiosas que eu jamais esqueceria mesmo que eu tentasse esquecê-las, e apesar de tudo eu ficava alegre por tê-las porque me faziam lembrar que um dia, eu e ele estivemos juntos e que fomos felizes...

A vida é cheia de surpresas, coisas que acontecem ou deixam de acontecer, coisas que nunca imaginamos fazer ou sentir, mas sempre temos uma escolha e tudo o que acontece é por conta delas, a nós só resta saber escolher a certa ou a errada, se escolhermos a certa o final pode ser um felizes para sempre, mas se escolhermos a errada podemos acabar caindo em um buraco por conta própria e tendo várias dificuldades de sair dele, e no final estará arrependido e sozinho.

Me chamo Helen Montanari, nasci na Califórnia em 1957, mas com menos de dois anos de idade me mudei para Nova Jersey com meus pais e foi lá que cresci, minha infância foi normal apesar de ser bem cabeça dura, não era do tipo de brincar de bonecas, arrancava a cabeça de todas elas. Minha mãe trabalhava muito em uma empresa de exportação e mal ficava em casa, vivia de cabelo em pé e quase não tinha folga, já meu papà como gostava de ser chamado, era italiano e era quem ficava em casa. Ele era encarregado de fazer a comida, lavar a roupa e limpar a casa. Eu sempre estava com ele e talvez por conta disso não gostasse tanto de coisas de garota nem de me vestir muito como uma. Preferia um jogo de futebol do que coisas de menina. Meu pai trabalhava em casa mesmo, ele desenhava quadros e criava esculturas de gesso, uma de suas maiores obras era intitulada: La Mia Bambina. Uma escultura minha aos dez anos de idade em tamanho real; era linda e eu a tinha com muito carinho em meu quarto ao lado do espelho. Ele vendia quadros, mas não ganhava muito dinheiro, sua carreira não tinha se deslanchado como ele queria mesmo fazendo obras magníficas, mas ele era um artista e não se deixava abalar. Ele era muito feliz acima de tudo com a vida que ele tinha escolhido e isso era o que realmente importava.

Fui crescendo em uma casa bem grande, gostava de ler e tirar boas notas. Nunca fui gorda e nem magra, só era um pouco desajeitada, olhos verdes e cabelos loiros. Até os nove anos de idade não ligava para arrumá-los, nem meu pai, pois estavam sempre embaraçados e inchados, também tinha uma franja até os olhos. Não gostava de me arrumar, sempre com roupas largas e macacão, talvez isso ocorresse por estar sempre com um homem, meu pai também era bem desajeitado.

Porém, muitas coisas começariam a mudar. Aos onze anos ganhei um pequeno caderno rosa de presente da minha avó que foi nos visitar no natal, no inicio eu não soube o que fazer com ele e o guardei no fundo de uma gaveta, até que um dia, eu estava triste e não tinha ninguém para quem eu pudesse contar e foi naquele caderno rosa que eu desabafei, a partir dali, ele virou o meu guarda segredos onde eu contava tudo o que me acontecia.

Quando estava prestes a completar doze anos, não era só o meu corpo que estava sofrendo mudanças, mas também o meu jeito de agir e os meus sentimentos. Coisas novas que eu não entendia e que tive que descobrir sozinha. Eu acertei, mas eu errei e foi a partir daquele dia que tudo começou...

O Diário Secreto de Helen MontanariOnde histórias criam vida. Descubra agora