2 - Traquinagem

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26 - 08 - 1969

Eu tinha chegado mais cedo no colégio porque meu papà precisou resolver alguns  assuntos e acabou me deixando lá antes do horário. Sentei em um banco do pátio e esperei por meia hora o sinal tocar para que eu pudesse entrar. Durante todo esse tempo muitas garotas e garotos passaram por mim, alguns até pararam ao meu lado. Conversavam, riam e brincavam, mas nenhum se aproximou de mim, nem tão pouco me notaram. Era como se eu não estivesse ali, era como se não existisse. Eles teriam medo de mim? Talvez, mas eu também agia como se eles não estivessem ali, porém, apesar de ser bem durona e demonstrar ser forte, eu estava triste e só.

Quando o sino finalmente tocou, todos correram para formar filas para cantar o hino. Eu não gostava daquilo, estava enjoada e entediada, devo ter cantado apenas alguns versos. Na fila ao lado, um pouco mais a frente estava Denny com a mão no peito, cantava alto com todo o ar que tinha em seus pulmões. Eu o observava e não sabia de onde ele tirava tanta euforia, mas com certeza aquilo não duraria por muito tempo e ele logo se casaria daquele lugar. Continuei o observando até que ele virou o rosto para onde eu estava e rapidamente desviei o olhar.

Ao chegar na classe logo me sentei. Era uma rotina, não via a hora de voltar para casa; contava os minutos no relógio todos os dias. O aluno novo também já estava na sala, parecia estar inquieto. Eu fiquei o observando mais uma vez. Ele ia de um lado para outro sem parar. Ele era louco? Então dois garotos se aproximaram dele e começaram a conversar. Eu não os ouvia por mais que tentasse. De uma hora para outra começaram a rir e deram as mãos num cumprimento. Falavam cada vez mais alto coisas sem sentido para mim. Seria a língua masculina? Torci o nariz. Logo depois sentaram nas primeiras cadeiras e por sorte bem longe de mim, eu esperava que ele ficasse por lá.

A sala estava muito barulhenta. A senhorita Beth ainda não tinha chegado e todos aproveitavam esses momentos que ela não estava para conversar ou para fazer coisas que geralmente não podiam, com isso, havia grupinhos de pessoas por todos os lados. Como boa observadora percebi que Denny e os garotos riam sem motivo aparente até que Abigail, uma garota chata, entrou na sala, um deles apontou para ela discretamente e os três rapidamente ficaram em silêncio. Estranho! Ela nem se quer os reparou e quando passou por eles, vi que Denny colocou o pé no meio do caminho propositalmente e Abigail ingenuamente tropeçou nele. Em questão de segundos ela estava no chão; chorava escandalosamente. A sala inteira se calou para olhá-la, todos estavam assustados. O que tinha acontecido? Ninguém sabia... Só eu. A garota tentava se levantar, mas não conseguia, ela chorava e os garotos não pareciam se importar e riam dela. A professora enfim chegou e vendo aquilo se desesperou.

- O que aconteceu aqui? - perguntava ela ajudando Abigail a levantar.

Ela parecia ter ralado o cotovelo e sentia dores, vendo isso os garotos se entre olharam e ficaram quietos. O que se passava na cabeça deles? Aquilo não era legal. A senhorita Beth olhava para todos com os olhos arregalados.

- O que aconteceu? Quem fez isso? Respondam! - Ela perguntava alterada.

Ninguém sabia o que realmente tinha acontecido e eu não iria me manifestar, até que de repente notei alguns alunos a me olhar, aos poucos a sala inteira estava me fitando. Eles estariam me acusando? Franzi a testa e continuei em silêncio. Seguindo a todos a senhorita Beth me olhou torto e disse:

- Helen... Você tem algo a me dizer?

O que? Eu nem se quer tinha me mexido. Raiva começava a aflorar.

O Diário Secreto de Helen MontanariOnde histórias criam vida. Descubra agora